Do alto do penhasco, o surfista Carlos Burle olha para o mar com respeito. As ondas que quase tiraram a vida de sua amiga Maya Gabeira há um ano ainda estão lá, só que em tamanho bem menor do que as daquele dia de outubro, quando a parceira de aventuras ficou desacordada após cair da prancha e quase morreu afogada. "Esse lugar marcou as nossas vidas. Desde que cheguei a Portugal, já voltei para cá umas quatro vezes, rezei muito e liguei para ela. Também conversei com a comunidade, pois sempre fomos muito bem recebidos", conta Burle, já recuperado do susto. "Naquele dia tinha uma corrente muito grande, o que dificultou o resgate." Maya pegou uma das maiores ondas do dia, mas, depois que caiu, tomou uma série de ondas na cabeça. "Ela não aparecia no meio da espuma, aí vi que o colete e a prancha dela estavam na areia", explica Burle, que teve de saltar do jet ski para salvar a amiga com os próprios braços. "Herói não existe. Você se condiciona para enfrentar situações adversas", diz o surfista, reiterando: "Sempre tenho medo e isso é importante."