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COI admite que testemunha de fraude procurou entidade em 2012

Comitê Internacional alega que ele tratou de um "problema" entre sua federação e o COB. Cartas, porém, apontariam que corrupção na Rio-2016 era o assunto

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA – O Comitê Olímpico Internacional justificou que é “prematuro” falar sobre o futuro de Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB e escolhido pela entidade internacional como um dos membros do Comitê de Coordenação dos Jogos de 2020, em Tóquio. Mas confirmou que, em 2012, foi contactada pela principal testemunha no caso que envolve a compra de votos do Rio para sediar os Jogos de 2016. Segundo o COI, porém, o assunto teria sido “um problema entre a Federação de Desportos no Gelo e o COB”. A sugestão do COI foi de que o tema fosse tratado diretamente com o COB.

Em sua edição desta sexta-feira, o Estado revela que a suspeita de compra de votos pelo Rio de Janeiro para sediar os Jogos de 2016 foi repassada ao COI antes do evento ocorrer no País. Mas a entidade olímpica não teria reagido e, em abril de 2017, chegou a distribuir três cargos para ex-diretores do Comitê Rio2016, inclusive para Carlos Arthur Nuzman.

Nuzman (esquerda) na sede da PF, no Rio de Janeiro. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Questionada pelo Estado se o COI tomaria alguma medida em relação ao COB, se estaria considerando uma intervenção ou se Nuzman perderia seu cargo internacional, a entidade em Lausanne se limitou a dizer que seria “prematuro comentar neste momento”.

No dia da operação no Rio, a entidade rapidamente tentou se distanciar da crise, indicando que ele teria “maior interesse” em “esclarecimentos” e pediu que os investigadores o informassem de qualquer assunto relacionado ao movimento olímpico. A entidade ainda insistiu que proteger a integridade do processo de escolha de sedes é de seu maior interesse e que um dos focos do processo, Lamine Diack, já havia sido excluído do COI em 2015. O processo, naquele momento, se referia a seu papel no doping de atletas.

Mas a informação de um suspeita sobre o COB, segundo o Estado apurou, chegou ao COI de pelo menos duas formas. A primeira delas ocorreu por meio da procuradoria francesa que, no início de 2016, já havia aberto inquérito sobre a situação do Rio e de Tóquio, sede de 2020. Naquele momento, advogados do COI procuraram as autoridades em Paris. Representantes do Comitê de Ética da entidade também teriam procurado os investigadores naquele momento.

A informação também foi repassada pelo ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, Eric Walther Maleson. Sem uma reação satisfatória, a testemunha teria optado por prestar depoimento de forma voluntária ao Ministério Público da França, antes mesmo de iniciar os Jogos de 2016 no Brasil.

Procuradores europeus envolvidos no caso indicaram à reportagem que o comportamento do COI foi considerado como “estranho” por parte dos investigadores. Em entrevista ao site Globoesporte.com, ele também confirma a informação.“Enviei cartas desde o Rogge (Jacques, ex-presidente do COI), prevenindo que iríamos chegar a um ponto em que seria vergonhoso. O dia chegou”, disse. “Eles (COI) responderam essas cartas, dizendo que estava na mesa do Rogge, e a mesma coisa com o Thomas Bach, atual presidente”, completou.

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O COI confirmou que Maleson os procurou em 2012. Mas indicou que isso teria ocorrido no período de eleições e que estava relatando “um problema entre a Federação de Desportos no Gelo e o COB”. “Naquele momento, o COI pediu a Maleson que entrasse em contato diretamente com o COB para resolver qualquer potencial disputa”, explicou a entidade, por meio de um email.

O COI ainda afirmou que “não tem a capacidade de realizar investigações criminais”. “Portanto, se alguém trouxer à nossa atenção supostas atividades criminais, ele ou ela serão aconselhados a entrar em contato com as autoridades relevantes”, explicou.

Nas rees sociais, Maleson publicou cartas que ele teria enviado ao COI e que, se confirmadas, desmentem a versão oficial da entidade. Em 6 de setembro de 2014, ele mandou a Thomas Bach e à Comissão Judicial do COI uma carta sobre o "caos no Comitê Organizador Rio-2016". Dizendo ser um apoiador dos Jogos no Rio, ele alerta que o que não concordava era com "a corrupção e todas as irregularidades da atual liderança".

"Eu e outras autoridades brasileiras informamos ao COI pelo menos há dois anos sobre a corrupção, fraude em eleição, violação de regras do COI, perpetradas pelo Comitê Olímpico Brasileiro e pela Rio-2016, ambas presididas pela mesma pessoa: Carlos Nuzman", escreveu Maleson.

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Já naquele momento, ele criticava a lealdade do COI para com o COB. "A falta de ação está afetando os valores olímpicos, sua imagem e patrocinadores", disse. "O COI tomou ações fortes na Índia, Paquistão, Kuwait. E por que não no Brasil? O COI não pode e não deve ter dois pesos e duas medidas para punir membros por irregularidades criminais", disse em 2014.

Na avaliação de Maleson, o fato de Nuzman presidir o COB e a Rio-2016 gerava um "conflito de interesse". "Parem com essa loucura", completou.

Bach, no lugar de tomar providências ou abrir um processo interno diante da existência de uma investigação, optou por premiar Nuzman, o escolhendo para fazer parte do Comitê de Coordenação dos Jogos de 2020, em Tóquio. Outros dois ex-diretores brasileiros também ganharam cargos em outros comitês do COI.

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