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COI ignorou suspeitas de fraudes na escolha do Rio como sede olímpica

Informações sobre compra de votos foram repassadas anos antes dos Jogos de 2016 à entidade

Por Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:

A suspeita de compra de votos pelo Rio de Janeiro para sediar os Jogos de 2016 foi repassada ao COI anos antes de o evento ocorrer no País. Contudo, segundo investigações, a entidade olímpica não teria reagido e, em abril de 2017, chegou a distribuir três cargos para ex-diretores do Comitê Rio-2016, inclusive para Carlos Arthur Nuzman.

A informação, segundo o Estado apurou, chegou ao COI de pelo menos duas formas. U ma delas foi por meio da Procuradoria francesa que, no início de 2016, já havia aberto inquérito sobre a situação do Rio e de Tóquio, sede de 2020. Naquele momento, advogados do COI procuraram as autoridades em Paris. Representantes do Comitê de Ética da entidade também teriam procurado os investigadores naquele momento.

  Foto: FABIO MOTTA | ESTADAO CONTEUDO

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Mas a informação também foi repassada pelo ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, Eric Walther Maleson. Sem uma reação satisfatória, a testemunha teria optado por prestar depoimento de forma voluntária ao Ministério Público da França, antes mesmo de iniciar os Jogos de 2016 no Brasil. Procuradores europeus envolvidos no caso indicaram à reportagem que o comportamento do COI foi considerado como “estranho”.

Em entrevista ao site Globoesporte.com, Maleson confirma a informação. “Enviei cartas desde o Rogge (Jacques, ex-presidente do COI), prevenindo que iríamos chegar a um ponto em que seria vergonhoso. O dia chegou”, disse. “Eles (COI) responderam essas cartas, dizendo que estavam na mesa do Rogge, e a mesma coisa com o Thomas Bach, atual presidente.”

Bach, no lugar de tomar providências ou abrir um processo interno, premiou Nuzman, escolhendo-o para fazer parte do Comitê de Coordenação dos Jogos de Tóquio-2020.

Procurado em quatro ocasiões ontem, o COI não respondeu aos pedidos de esclarecimento feitos pelo Estado. No dia da operação no Rio, a entidade tentou se distanciar da crise, indicando que teria “maior interesse” em “esclarecimentos”.

A organização ainda insistiu que proteger a integridade do processo de escolha de sedes é de seu maior interesse e que um dos focos do processo, Lamine Diack, já havia sido excluído do COI em 2015. O processo, naquele momento, se referia a seu papel no doping de atletas.

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Internamente, o COI teme que a operação no Rio seja apenas o início de um caos ainda maior. Além dos votos brasileiros, o MP na França já teria identificado pagamentos de propinas por parte de Tóquio para receber os Jogos de 2020.

O COI se reúne na semana que vem em Lima para votar a escolha de Paris e Los Angeles para receber, respectivamente, os Jogos de 2024 e 2028. O encontro ameaça ser dominado pelo debate sobre a corrupção. Delegados da entidade admitiram ao Estado que existem até comentários de que o evento poderia “terminar como o da Fifa”.

Em 2015, a reunião anual da Fifa foi o momento esperado pela Justiça dos EUA e da Suíça para promover ampla operação que terminou com sete detidos.

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