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Dérbi histórico

Por Paulo Calçade
Atualização:

O primeiro dérbi em Itaquera começou a ser disputado no Palácio do Planalto. No lugar dos jogadores, os presidentes dos clubes. Na semana passada, Mário Gobbi e Paulo Nobre deixaram a rivalidade de lado para vestir a camisa dos inadimplentes e pedir uma solução ao governo para suas dívidas.Parecidos fora de campo, no gramado ainda travam um confronto desigual. Mano Menezes tem um time superior ao de Ricardo Gareca. Com desenho tático e funções mais bem definidas, o Corinthians trabalha para ganhar uma nova identidade, principalmente no meio-campo. Não seria justo dizer que a equipe vive à sombra das conquistas de Tite, mas ficou um modelo, uma ideia.Jadson, suspenso, fez falta. Diferentemente de Renato Augusto, o seu substituto, o titular busca mais o passe, a armação. O Corinthians é um time em desenvolvimento, ainda está descobrindo o verdadeiro potencial de seus jogadores. No meio-campo, as características se completam. A novidade, agora, é Ralf ser visto mais próximo do gol adversário.A primeira etapa foi tempo de esperança, de acreditar que depois do intervalo o dérbi histórico poderia melhorar. O Palmeiras acertou apenas uma bola no alvo, contra quatro do Corinthians, mas nada que pudesse ficar na lembrança.As respostas do clássico cabiam ao lado corintiano. Ricardo Gareca sabe que, por enquanto, sua tarefa beira o milagre. E foi o que tentou fazer ao escalar um meio-campo equilibrado entre marcação e chegada ao ataque, com Renato, Wesley, Mendieta e Felipe Menezes. O trabalho já aparece na organização tática do time, mas é fato que o treinador ainda carece de talento para não ficar só nisso.Os gol corintianos ajudam a explicar o Palmeiras. Renato Augusto, o meia, ontem no lado direito para fechar a marcação, passa ao volante Elias, que sobe e coloca Guerrero, o centroavante, na cara do gol para fazer 1 a 0. O segundo foi resultado de movimentação e preenchimento do espaço.A tendência é o Corinthians evoluir e conquistar uma vaga para a Libertadores. O título brasileiro já é outra conversa, vai depender bastante do comportamento do Cruzeiro, pronto desde o ano passado. A situação do Palmeiras é mais difícil, Gareca está alguns estágios atrasado, e falta-lhe tempo, entre outras coisas.Esse foi o primeiro dérbi na Arena Corinthians. Agora a realidade coloca corintianos e palmeirenses do mesmo lado, em busca das benesses do governo. Na segunda-feira passada, a presidente Dilma Rousseff ficou estarrecida com a situação dos jogadores brasileiros, relatada pelo Bom Senso F. C. Na pauta do encontro, o desemprego em massa da categoria e o descumprimento das obrigações trabalhistas, além de ideias de como criar contrapartidas para o refinanciamento da dívida dos cartolas.Na sexta-feira ela experimentou a mesma sensação ao ouvir, dos patrões, a descrição do estado de penúria dos clubes de futebol. Quase todos tecnicamente quebrados. Ouviu também algumas ameaças, como a do presidente do Botafogo, Mauricio Assumpção, de tirar o time do Campeonato Brasileiro por causa do bloqueio de suas receitas.Os clubes fazem loucuras, quebram e depois se acham no direito de avançar sobre os cofres públicos, como fez Assumpção. O governo ficou de estudar uma saída em ano de eleição.A solução dos problemas do futebol brasileiro, entretanto, precisa ser real. Medidas paliativas e de pouco impacto, como as que foram feitas até agora, a Timemania entre elas, não servem para nada.O momento pede contrapartidas sérias. Não custa lembrar que a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte estreou no Congresso Nacional como um projeto que previa o perdão quase total das dívidas. Um vacilo e a bancada da bola transforma os clubes em credores do País.

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