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DIÁRIO DA SELEÇÃO: Na despedida do Brasil, aplausos para Robben

Por Luiz Antônio Prósperi
Atualização:

A seleção brasileira se despediu ontem da Copa do Mundo sem deixar saudade. E sob vaias. De paixão nacional absoluta, antes de a festa começar, protagonizou o maior fiasco de toda a sua história, com aquele 7 a 1 perpétuo. Conseguiu fazer murchar uma alegria espontânea e cheia de boa vontade País afora. Parou nas semifinais em Belo Horizonte, quando seu destino natural deveria ser o Maracanã, hoje. Entender a frustração da torcida é tão fácil quanto contar de um a dez nos dedos nas mãos. Explicar o fracasso é fácil, mas nada simples, como dizer que vence o time que faz mais gols. A decepção do povo mostra que a Copa do Brasil era para ser disputada sob a inspiração da alegria, do respeito ao jogo bem jogado, de fazer valer que este é o país do futebol. A maioria das grandes seleções e mesmo as coadjuvantes vieram até aqui com essas mensagens impregnadas na alma. De que adiantaria cruzar o Atlântico, as Américas, Oriente, Ásia, África e os céus se não fosse para honrar o futebol no país pentacampeão? Os jogadores de quase todas as seleções entenderam esse recado e jogaram com alegria, por prazer e para honrar a camisa de suas nações. O maior exemplo dessa estupenda comunhão entre jogar por felicidade e impor seu estilo foi a Alemanha. Não por acaso, está na final da Copa. Os que não tinham assim tanto apelo para se divertir, mas vieram em busca do ouro com um craque na linha de frente, se deram bem. E aí estamos falando da Argentina e de Lionel Messi. O Brasil, que tinha de fazer como a Alemanha, no caso do futebol bem jogado e ordenado, e como a Argentina, em reverência ao craque, não fez nada disso. Transformou a alegria em obrigação. Não entrou livre dos espíritos do mal. Jogou com a faca nos dentes e com medo de assombração. Não entendeu, em nenhum momento, que poderia desfrutar da atmosfera da Copa, da empolgação de sua gente e do fato de estar em casa, onde deveria se sentir à vontade e não com medo de fazer uma festa olhando, desconfiado, os convidados como se eles fossem quebrar todos os móveis e sujar a cozinha. O Brasil perdeu o controle ao fazer do hino um brado de guerra, não um canto de esperança. Quando percebeu que deveria ser menos coração e mais razão já havia tombado na relva fina e nada intimidante com aqueles 7 a 1 que vão ficar para a eternidade. Um tombo feio, impossível de a ferida cicatrizar. Esperava-se, na despedida, algo mais. Não deu. Caiu diante da Holanda por 3 a 0 com o testamento final da incompetência. Hoje é o dia de recolher as bandeiras das janelas, das sacadas, dos carros, dos bares e do coração. Dia de lavar a camisa amarela, com cuidado especial para não desbotar nenhuma das cinco estrelas e, depois de seca, guardá-la na gaveta por mais quatro intermináveis anos. Também hoje é o dia de apontar os culpados. Procurar pelos vilões, se é que eles existem. E cada um fazer a sua penitência. A Copa acabou para a seleção brasileira, não para o Brasil. E antes de aplaudir Alemanha ou Argentina, o futuro campeão, hoje, é preciso fazer uma reflexão. Buscar um novo caminho que remeta ao passado. Aquele passado em que éramos tão bons de bola - já que hoje somos tão previsíveis. E não custa nada aplaudir Robben, como a torcida fez ontem no Mané Garrincha, do começo do jogo a seu desfile pelo campo e até o final da partida. Bem que o Robben podia ter nascido no Brasil.

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