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Exame de sexo confere se atletas são mulheres

Laboratório foi montado em Pequim para checagem em casos suspeitos; prática é condenada por médicos

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Por Redação
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Ao chegar a Pequim, a maioria dos atletas já terá aceitado a possibilidade de ter de passar por uma bateria de testes contra o uso de substâncias proibidas. Mas algumas atletas podem se ver solicitadas para um exame que determinará se elas são mulheres de fato. Os organizadores dos Jogos de Pequim prepararam um laboratório para a determinação do sexo com o intuito de avaliar atletas "suspeitas". O laboratório se assemelha àqueles montados em olimpíadas anteriores, como as de Sydney e Atenas, e fará uso dos recursos do Hospital da Faculdade de Medicina do Sindicato de Pequim para avaliar a aparência externa de uma atleta, hormônios e genes. Alguns especialistas em ética médica dizem que a prática é muito invasiva. "Pessoas ficarão magoadas", disse Alice Dreger, professora assistente de humanidades médicas e bioética da Universidade Northwestern. Embora sejam testadas apenas as atletas cujo gênero for questionado, o laboratório é uma relíquia de uma era olímpica anterior, quando todas eram obrigadas a passar por verificação antes dos Jogos. Os testes surgiram nos anos 1960, quando suspeitou-se que a União Soviética e outros países comunistas estivessem inscrevendo homens nos eventos femininos para obter uma vantagem desleal. De início, pedia-se às atletas que desfilassem nuas diante de um comitê de médicos. Nos Jogos de 1968, na Cidade do México, as autoridades introduziram um teste cromossômico. Os exames jamais desmascararam um homem, mas apontaram atletas com defeitos genéticos que as faziam parecer um. Em 1967, a velocista polonesa Ewa Klobukowska foi impedida de competir porque não foi aprovada no teste cromossômico, mesmo tendo passado no de nudez no ano anterior. Nos anos 1980, a barreirista espanhola Maria Jose Martinez Patino foi desclassificada porque o teste revelou que ela nascera com um cromossomo Y. Ela foi readmitida nas competições em 1988 após uma contestação. "Era uma prática antiética, não científica e discriminatória", diz Arne Ljungqvist, presidente da comissão médica do Comitê Olímpico Internacional. Em 1999, ela ajudou a abolir os testes generalizados, mas as competições internacionais continuaram a confiar neles em casos isolados. Há dois anos, a indiana Santhi Soundarajan teve de devolver sua medalha de prata nos jogos asiáticos depois de ser reprovada num teste. Uma autoridade que a observou no antidoping de urina questionou seu sexo. A atleta recusou-se a se submeter a um exame mais completo. Apesar de a verificação de gênero ter mudado para se adaptar às novas concepções científicas a respeito do sexo - as atletas são agora avaliadas por endocrinologista, ginecologista, geneticista e psicólogo -, os críticos dizem que o teste se baseia na falsa idéia de que o sexo de uma pessoa é um assunto tão claro e definido quanto o preto sobre o branco. Por causa de uma série de condições genéticas, pessoas que parecem mulheres podem ter um cromossomo Y, ao passo que as pessoas parecidas com homens podem não tê-lo. Apesar das décadas de testes, só há um caso de trapaça nos Jogos modernos - e não foi desvendado por eles. Em 1936, uma atleta alemã chamada Dora Ratjen acabou em quarto lugar na competição feminina de salto em altura. Vinte anos mais tarde, revelou ser Hermann Ratjen, e disse que os nazistas o obrigaram a competir como mulher.

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