Negrete já tinha maus pressentimentos durante a escalada

Morte de um companheiro e roubo de equipamentos foram alguns fatos ocorridos com o alpinista brasileiro na sua subida até o pico do Monte Everest

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Por Agencia Estado
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Dentro de uma barraca na montanha mais alta do mundo, a 7.700 metros de altitude, o alpinista Vitor Negrete, de 38 anos, deu notícias sobre sua condição quatro dias antes da sua morte. Uma série de acontecimentos ruins o colocaram em dúvida se deveria continuar ou não a escalada. "Tivemos hoje (dia 15) a confirmação da morte do inglês David Sharp, que fazia parte do nosso grupo. Isso abalou muito a mim em especial e fiquei em dúvida se deveria continuar subindo ou não. Também vi um garoto da Malásia que congelou todos os dedos da mão (...) Quando cheguei no acampamento 2, todos os nossos equipamentos foram roubados. Não sei o que mais pode acontecer de más notícias neste dia?, declarou o brasileiro, em seu último depoimento à Rádio Eldorado, segunda-feira, dia 15 de maio. O mau pressentimento do alpinista acabou se confirmando. Negrete conseguiu atingir o cume do Everest sem o auxílio do cilindro de oxigênio, uma façanha realizada por poucos, mas não resistiu ao cansaço e morreu na madrugada desta sexta-feira, na trilha de volta ao acampamento 3 da face norte da montanha, a 8.300 metros de altitude. Esta foi a segunda vez que Negrete chegou ao cume do Everest. O alpinista alcançou o topo da montanha em 2 de junho de 2005, ao lado do seu atual parceiro, Rodrigo Raineri, de 37 anos, que desta vez ficou no acampamento por problemas físicos. Em agosto de 2004, Negrete e Ranieri formaram a primeira dupla brasileira a escalar a face sul do Aconcágua, considerada a mais difícil e perigosa do monte mais alto das Américas, com 6.962 metros. Negrete foi o brasileiro que escalou o Aconcágua pelo maior número de caminhos. Em seu currículo de conquistas, Negrete subiu duas vezes pela rota direta, o Glaciar dos Polacos, no Aconcágua, além de montanhas bolivianas como Illimani, de 6.490 metros, Huayna Potosi, de 6.088 metros e Condoriri, de 5.532 metros. A paixão pelos esportes radicais não se limitava ao alpinismo. Em 1993, Negrete atravessou a selva amazônica de bicicleta, em uma aventura de dois meses pela Transamazônica e no ano seguinte pedalou de Porto Alegre até Ushuaia, através da Cordilheira dos Andes. Formado em engenharia de alimentos pela Unicamp, foi na universidade que Negrete conheceu Rodrigo Raineri. Em 1988, os dois começaram uma série de viagens de aventura e criaram o Grupo de Escalada Esportiva da Unicamp (GEEU). Negrete morava em Campinas, era casado e tinha dois filhos. Desde 1953, cerca de 1.400 alpinistas de todo o mundo escalaram o Everest. Na tentativa, 175 morreram. Em maio de 1995, a expedição Waldemar Niclevicz e Mozart Catão fincou pela primeira vez a bandeira brasileira no ponto mais alto do planeta. Dez anos depois, Niclevicz e Irivan Burda conquistaram a montanha pela face sul, chegando quase ao mesmo tempo que Vitor Negrete, que foi pela face norte, considerada mais difícil.

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