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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Nó no Mineirão

Por ​ANTERO GRECO
Atualização:

O Palmeiras começou bem, abriu vantagem com Gabriel Jesus e deu a impressão de que manteria a ponta de forma tranquila. Depois, levou o empate e a virada, com os gols de Willian. Não voltou de Belo Horizonte com surra estupenda pois os atacantes do Cruzeiro não puseram os pés na forma e porque Fernando Prass, só para variar, impediu o vexame maior no clássico de ontem à noite.

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A rapaziada verde dorme na liderança porque tem, ainda, dois pontos a mais do que o Inter (22 a 20), que hoje recebe o Botafogo. Mas o desempenho foi lascar. O Cruzeiro, do português Paulo Bento, esteve impecável e anulou todas as alternativas do adversário. Cuca, em contrapartida, teve várias escolhas erradas, a começar pelos laterais (Fabiano e Egídio, muito mal), e a continuar com a entrada de Luan, que continua aplicado, esforçado e... nada além disso.

Time que tem pretensão de lutar pelo título não pode oscilar como neste sábado. E precisa ganhar fora de casa.

Dó no Itaquerão. Cássio tem crédito no Corinthians. Mas anda inseguro. Tinha perdido a vaga, com Tite, e voltou com a contusão de Walter. O Corinthians jogava tranquilo, à noite, com 2 a 0 no Santa Cruz, até que o goleiro se enroscou, numa bola fácil, e levou gol de Grafite. Pena do moço. Dali em diante, ele e o time caíram de desempenho e por pouco não deixam escapar os três pontos. De qualquer forma, veio a vitória, a primeira com o técnico Cristóvão Borges. Há o que melhorar.

Intolerância. O futebol é conservador, machista e intolerante. Junta-se a ele o justicialismo das redes sociais e eis a fórmula para condenações de rito sumário. A vítima mais recente dessa combinação impiedosa é Getterson.

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Conhece o Getterson? Não?! Não se preocupe, até o meio da semana era quase um desconhecido jogador, como milhares espalhados pelo País. Ganhava uns trocos para manter a família com a camisa do J. Malucelli, do Paraná. No Estadual, marcou 5 gols, deu 4 assistências e entrou na mira do São Paulo, que optou por tomá-lo por empréstimo por uma temporada. Aos 25 anos, viu surgir a grande oportunidade da carreira. Apresentou-se, assinou, vestiu a camisa tricolor, posou para fotos.

Até que a ira sagrada o atingiu. O crime? Algum rato de internet descobriu que, anos atrás, Getterson zombou do São Paulo no Twitter. Num comentário usou o termo “bambi” para referir-se ao clube, e ali assinou a futura sentença de morte ao sonho de brilhar no Morumbi. A brincadeira antiga, de mau gosto e inócua, foi resgatada e desabou sobre sua cabeça. Sem apelo.

Como há ódio demais por trás da telinha, a tuitada infeliz alastrou-se e veio a enxurrada de protestos. A diretoria são-paulina assustou-se, chamou o moço e avisou que voltava atrás no acerto. Desculpe o mau jeito, até logo, passar bem e não nos queira mal.

Os cartolas apavoraram-se diante da perspectiva de toparem com a fúria da torcida e não terem jogo de cintura para driblá-la. Resolveram lavar as mãos, em vez de encararem o desafio de mostrar que a zoeira de juventude deveria ser encarada com o devido peso, ou seja, nenhum. Tivessem convicção da própria capacidade de persuasão, ignorariam o clamor dos mais sonsos. Não seria tarefa fácil; nunca, impossível.

Um plano de recuperação acalmaria a turba, Getterson mostraria valor e o São Paulo daria prova de altivez, desprendimento. Enfim, seria moderno, livre de preconceitos. Perdeu excelente ocasião. Numa das explicações, o presidente alegou que o moço saía ganhando, pois teve “projeção” com o episódio. Cada uma...

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As redes sociais ganham força, são instrumento poderoso para a difusão de ideias, tanto para o bem como para o mal. Campo propício para distorções: ao mesmo tempo em que se mostram desalmadas com besteiras de mocidade, podem incensar apologistas de torturadores e de tempos tenebrosos. Que Getterson encontre espaço onde não haja linchadores de plantão.