Nossa vida pode ser contada pelas Copas que vimos

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colunista convidado
Por Luiz Zanin
Atualização:

Agora é para valer. Depois de amanhã, a bola rola. Os sinais, de maneira tímida, estão se mostrando por aí. Umas poucas bandeiras nos carros, vendedores nos sinais de trânsito, algumas ruas enfeitadas. Hoje cedo, na padaria onde tomo café da manhã, havia o clima inequívoco de Copa. Bandeirinhas e uma TV de plasma, substituindo o modelo antediluviano que lá havia. Nossa padaria já está preparada para o Mundial que começa. É assim em toda a parte no País. Meio ressabiadas, as pessoas vão furando a indiferença, ou a intimidação da minoria, e se preparando para a grande festa do futebol. Uma ilusão quem achou que podia decretar o fim de uma festa tão popular no Brasil. Podem até botar um pouco de água no chope, atemorizar ou constranger as pessoas, mas o torneio máximo do futebol, apesar de tudo, e apesar da própria Fifa, possui magia própria, que dificilmente se deixa extinguir. Ao ver esses sinais da Copa iminente nascendo aqui e ali, me dou conta de que o tempo de todos nós, de um modo ou de outro, sejamos fanáticos ou simples aficionados, pode ser medido pela passagem das Copas do Mundo. Das edições mais antigas tenho vaga lembrança de euforia pelas ruas, ou da torcida, num tempo em que não havia transmissão pela TV, reunida nas praças para ouvir a narração do jogo pelos alto-falantes. Lembro daquela que, para mim, foi a Copa das Copas, a de 1970, sob a ditadura, quando se recomendava aos opositores do regime que torcessem contra a seleção. Mas, nos primeiros movimentos de Pelé, Gérson, Tostão, Jairzinho e Rivellino, tudo era esquecido. Até os presos políticos, no fundo dos porões da ditadura, torciam a favor. Foi quando aprendemos que a seleção não pertencia a ditadores, políticos, burocratas. Era nossa. Nem tudo foram alegrias. Houve as grandes decepções. Aquele maravilhoso time de 1982, Zico, Sócrates, Falcão, Júnior & cia., perdendo para a insossa Itália de Paolo Rossi. Eu morava fora e a dor, provavelmente, foi maior do que se estivesse aqui. Como se sabe, somos mais brasileiros quando vivemos fora do Brasil. Houve também aquela Copa na França, com a enigmática partida final, um Brasil apático pelas "convulsões" de Ronaldo, time que parecia, ele próprio, sedado e desinteressado. Nunca vou me esquecer da entrevista de Ronaldo no final do jogo. Ele dizia que a partida fora um aprendizado e que ele iria crescer com a lição. Como?! Um País traumatizado e a experiência da derrota fora "válida"? Por sorte, ele se redimiu em 2002, Copa das mais interessantes porque realizada com diferença horária enorme. Por força de compromissos, assisti a alguns jogos em Portugal, outro na Espanha, depois em Fortaleza e, por fim, em São Paulo. Foi bonito ver a cidade desperta, vibrante, na madrugada daqueles incríveis 2 a 1 sobre a Inglaterra, com o gol espírita de Ronaldinho Gaúcho. Copa é memória e isso não nos podem roubar. Que venha mais uma e que a aproveitemos bem.

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