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O campeonato do quase

Por Paulo Calçade
Atualização:

A vitória sobre o Cruzeiro, duas semanas atrás, representou o fim do melhor momento do São Paulo no Campeonato Brasileiro, período de sete vitórias e dois empates. A partida que parecia ser o início de uma disputa real pelo título, cessou o encanto que Kaká, Pato, Ganso e Alan Kardec traziam para a competição. O jogo bonito foi tomado pelo futebol inconstante, a exemplo de tantos outros concorrentes virtuais.Nas quatro partidas seguintes, o São Paulo desmoronou. Ganhou apenas um de 12 pontos disputados e viu na defesa a resposta para muitos de seus males, com 11 gols sofridos. O primeiro gol marcado pelo Fluminense foi um retrato dos problemas defensivos do time.Internado por causa de uma arritmia cardíaca, Muricy precisa ser poupado de ver como sua equipe se tornou frágil defensivamente. No primeiro gol do Fluminense, a bola transitou da defesa para o ataque sem ser tocada por nenhum são-paulino, até a definição de Fred. Marcar é diferente de cercar e de assistir o oponente jogar. Esse fragmento da partida explica o São Paulo, agora a dez pontos do Cruzeiro.Não está errado quem enxerga no calendário a resposta para tantos times oscilarem enquanto o Cruzeiro navega num ritmo incomum para os demais. Com elenco maior e equilibrado tecnicamente, Marcelo Oliveira sofre menos que os demais os solavancos gerados pelo desgaste da tabela do campeonato.O São Paulo pode ter esgotado seu quarteto antes da hora, sem condição de substituir um ou outro jogador sem quebrá-lo taticamente. É o preço que o futebol brasileiro paga pelo seu descaminho, que também está presente na arbitragem.Não importa definir com precisão a diferença entre mão na bola e bola na mão. No momento em que a Comissão de Arbitragem, a Fifa, os clubes nacionais e, principalmente, os árbitros se enroscam na de interpretação de uma regra que interfere diretamente no resultado das partidas, o presidente da CBF está mais preocupado em marcar uma revanche contra a Alemanha.No lugar de uma pequena e necessária contribuição para atenuar o tiroteio interpretativo estabelecido na arbitragem brasileira, Marin só pensa em ver a seleção em campo para se livrar definitivamente dos 7 a 1 na semifinal da Copa. Na lógica infantil do cartola, uma vitória da equipe contra a Alemanha, em período de reformulação, isolará Felipão como o único responsável pela acachapante derrota de julho. A ideia é confirmar a tese do apagão técnico, tático e emocional ocorrido no Mineirão, e estabelecer um único responsável pela tragédia, atenuando a responsabilidade da CBF.Embora o dia a dia dos dirigentes não nos permita ingenuidades, chega a surpreender a fragilidade administrativa do futebol brasileiro. A polêmica da arbitragem é apenas uma das faces da falência generalizada do modelo de gestão em vigor. Enfrentamos um problema estrutural delicado e a grande preocupação é apenas a revanche da seleção. Como se um amistoso pudesse apagar o maior vexame do time nacional na história dos Mundiais. Importante perceber que não houve alteração no texto da regra, que possui como guardiã a International Football Association Board, composta por um representante de cada país do Reino Unido e quatro da Fifa.Houve, entretanto, mudança na forma de se interpretar os toques da bola na mão e da mão na bola, segundo determinação exclusiva da Fifa, o que em última análise mexeu na regra. Os novos conceitos vêm dando trabalho, sobretudo no Brasil. E aí é que entra a responsabilidade do poder. Algo tão importante, capaz de impor uma transformação radical na forma de observarmos o futebol, merecia mais empenho, mais trabalho da CBF e de sua Comissão de Arbitragem. Como nada foi feito, estabeleceu-se a confusão. Nossos times têm problemas, mas o buraco em que a cartolagem colocou o futebol brasileiro é bem maior.

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