Inteligente e experiente, Alonso já contava com muitos problemas no começo de sua nova aventura numa equipe que usaria um motor estreante e um carro projetado de acordo com as características desse motor. Mas não há como duvidar, nem mesmo entre os rivais, que os problemas já passaram da conta.Foram seis voltas no primeiro dia em Jerez e 32 no outro, virando quatro segundos acima do melhor tempo do dia. Depois veio Barcelona, que até começou bem, quando ele completou 59 voltas no dia mais positivo da McLaren, mas terminou da pior forma possível - no muro do autódromo que é a sua casa, em um acidente ainda não plenamente explicado, e que pode até tirá-lo da corrida de abertura do campeonato.Pelo que a McLaren fez na pré-temporada, em relação ao campeonato, provavelmente, não fará diferença alguma se Alonso não puder correr na Austrália. Levar pelo menos um carro até o final da prova é o máximo que a equipe pode pretender neste momento. Marcar ponto, a não ser por uma zebra monumental, está fora de questão. Mas os planos que foram montados para a volta da vitoriosa parceria com a Honda, tendo no cockpit dois campeões mundiais, sofrerão um prejuízo até maior que o da pré-temporada. A abertura do Mundial marca, de fato, o primeiro confronto entre as equipes, e são quatro treinos nos quais ninguém esconde nada. É quando se conhece o real potencial de cada carro. E a McLaren é, entre as grandes, é aquela que menos conhece o seu carro.A ironia maior dessa história é ver uma Ferrari progredindo e Sebastian Vettel, aquele que ocupa o lugar que era de Alonso, em harmonia perfeita com a equipe. Todos estão adorando Vettel, que voltou a ser aquele piloto sorridente do tempo em que vencia uma atrás da outra na Red Bull. O espanhol pediu para sair da Ferrari antes de terminar seu contrato por sentir que na equipe italiana não conseguiria o terceiro título mundial que persegue desde 2006. Antes disso, ele já tinha cometido um erro ao abandonar a McLaren, que tinha carro para brigar pelo título em 2007 (de fato, foi campeã em 2008) por um desentendimento com Lewis Hamilton e Ron Dennis. Enquanto esperava abrir vaga na Ferrari, passou dois anos na Renault, sendo quinto e nono no Mundial. Em 2010, quando finalmente apareceu a chance, abraçou a Ferrari como a equipe que poderia lhe dar tanto quanto deu a Schumacher. Estava errado. O primeiro ano foi o único em que, pelo menos, ele brigou pelo título até o fim. Alonso é daqueles pilotos com tanta confiança no talento próprio que não aceita estar fora da briga pelo título. Foi o que o levou a romper o contrato com a Ferrari. Inicialmente pensou que a Mercedes deveria ser o seu lugar, mesmo que fosse para dividir de novo as atenções com Hamilton. Tentou, mas encontrou as portas fechadas. O próximo passo foi buscar a Red Bull. A chance aí era maior porque ele já tinha a informação de que Vettel sairia. O alemão na Ferrari e ele na Red Bull seria a realização de dois sonhos ao mesmo tempo. Mas a equipe austríaca tinha outros planos e, simplesmente, o ignorou. Sobrou a McLaren como última chance de correr por uma grande, mesmo assumindo o desafio de estrear um motor da Honda, que estava fora da F-1 desde 2008. Mas o ano começou bem pior do que o esperado.A história guarda vários casos de pilotos que trocaram de equipe no momento errado. Um exemplo que acompanhei de perto foi o do argentino Carlos Reutemann, coincidentemente também envolvendo a Ferrari em uma das suas transferências, quando foi para a Lotus. Antes disso, quando ele saiu da Brabham, a equipe começou vencer e disputou o título em 80 e 81 (venceu este com Piquet). Ficou dois anos na Ferrari e foi para a Lotus em 79. Naquele ano a Ferrari ganhou o título com Jody Scheckter. Apesar disso, Reutemann tem 12 vitórias na carreira. Pior aconteceu com o neozelandês Chris Amon, que, pulando de galho em galho entre Lotus, Cooper, Ferrari, March, Matra, Tyrrell e BRM, pra citar apenas as vencedoras, passou a carreira toda (96 GPs) sem conseguir sequer uma vitória.