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Perto de aposentadoria, Isabel Clark prevê futuro obscuro para snowboard brasileiro

Atleta conquistou o melhor resultado da história do País em uma edição de Jogos de Inverno

Por Felippe Santos Scozzafave
Atualização:

Em 2006, o Brasil passou a conhecer Isabel Clark por causa de seu desempenho durante a Olimpíada de Inverno de Turim, na Itália. Na ocasião, ela conquistou um histórico nono lugar na prova de snowboard, o que até hoje é o melhor resultado já conquistado por um atleta do País na tradicional competição de neve. Isso, porém, não foi por acaso, já que ela dedicou sua vida a esse esporte e agora, aos 40 anos, prestes de disputar os Jogos pela quarta vez na carreira, já decretou que Pyeongchang, na Coreia do Sul, será a última, já que ela decidiu se aposentar.

Isabel Clark foi a porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Invernoem Vancouver-2010 Foto: Lyle Stafford/Reuters

"Tem hora de parar. Depois dessa Olimpíada, eu escolhi descansar. Eu quase parei no ano passado, aí estiquei um pouco até 2018, mas depois disso eu não continuo", disse a atleta ao Estado, destacando que ainda não está totalmente garantida na competição. "Estou na 21ª posição de um ranking de 30 que se classificam. Ainda faltam cinco competições classificatórias, sendo uma delas na Argentina e as outras no Hemisfério Norte". Com mais de 20 anos dedicado ao snowboard, hoje em dia Isabel é consagrada mundialmente, mas nem sempre foi assim. Ela, aliás, chegou ao esporte de um jeito bastante curioso. Só assim mesmo para alguém nascido no Rio de Janeiro se encantar por algo praticado em temperaturas bastante baixas. "Conheci o esporte com 16 anos, quando viajei com a minha família para a Califórnia para visitar o meu irmão, que estava fazendo intercâmbio. Ele já havia praticado e me apresentou o snowboard. Desde então, eu nunca mais parei. Fiquei apaixonada. Eu não sabia onde isso ia me levar, mas eu queria isso. Só não sabia exatamente como, já que no Brasil não tem neve".

Isabel Clark é o grande nome do Brasil nos esportes de inverno Foto: Divulgação/CBDN

Foi aí que Isabel decidiu correr atrás de seu sonho. Para isso, ela teve que deixar o País. "Eu fiz o curso de instrutora de snowboard e comecei a dar aula. Isso que me alavancou. Me fez ficar o tempo todo na neve. O esporte é muito caro, então essa foi a forma que eu encontrei para me empenhar bastante e melhorei muito", disse, detalhando que trabalhou no Vale Nevado, no Chile e em Whistler, no Canadá. "Nesses anos eu tive uma evolução muito forte. Em 2003, o Boardercross (modalidade de snowboard) entrou para o programa olímpico. Com isso, a federação começou a me ajudar e eu passei a me dedicar mais. Eu parei de dar aulas para treinar mais e assim me profissionalizei". Desde que virou profissional, porém, sua vida não tem sido das mais fáceis, já que o período fora de casa é longo. "É um pouco cansativo, pois a gente monta nosso calendário de acordo com as estações. Aqui no Brasil eu fico apenas entre as temporadas. Entre junho e setembro, estou no Chile. Quando é verão no hemisfério sul, viajo para os Estados Unidos ou Europa, que é onde acontecem quase todas as competições importantes". No período que fica no Brasil, seu trabalho se resume a cuidar do corpo, "para chegar na neve na melhor forma física possível". Apesar de ter construído uma carreira bastante vitoriosa e de ter colocado o Brasil no cenário do snowboard mundial, Isabel não acredita que o futuro será bom, muito por causa dos riscos de acidentes, o custo elevado e, obviamente, a falta de  neve no País. "Eu acho que depois de 2006 aumentou o interesse do brasileiro pelo snowboard, mas é muito complicado se manter na equipe e isso foi fazendo muita gente desanimar. É um esporte muito difícil e até mesmo perigoso. Já tive concussão umas três vezes. Além disso, é impossível conciliar com outro trabalho. Hoje em dia não tem nenhuma outra brasileira que compete", diz ela, que, além dos Jogos de Inverno e de torneios locais, já disputou mais de 100 etapas de Copa do Mundo na carreira. Para esse cenário mudar, Isabel só vê uma possibilidade: diminuir a pressão nos atletas. "Temos de ter menos expectativa de que todo mundo vai para a Olimpíada e vai conquistar um bom resultado. Antes disso, é importante criar um ambiente com mais cultura do esporte e ter competitividade entre as crianças. Só assim vai crescer a popularidade e mais gente vai praticar."

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