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Pindaíba Futebol Clube

Por PAULO CALÇADE
Atualização:

Não é preciso viver intensamente o futebol para perceber que os clubes brasileiros estão quebrados. Até o São Paulo, que sempre buscou distância dos problemas plebeus, trabalha com previsão de déficit de R$ 53 milhões em 2015. Uns mais, outros menos, todo mundo está na pindaíba. A administração do futebol brasileiro é um tratado de incompetência. São raríssimos os dirigentes dispostos a apoiar qualquer proposta de restrição das despesas dos seus departamentos de futebol, conforme advoga o Bom Senso. Os jogadores desejam estabelecer um teto, defendem controle do déficit financeiro por legislação específica. Apesar de serem definidos como "milionários do esporte", a tendência imediata é a redução dos salários da categoria. Os atletas profissionais estão preocupados com as finanças dos clubes, já os cartolas... Se a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE) for aprovada, naturalmente o mercado será regulado por melhores práticas administrativas. Desde que a norma contenha punições para os insanos, como perda de pontos, rebaixamento e responsabilidade pessoal dos dirigentes nos rombos efetuados.Tudo bem diferente de como foi aprovado na semana passada por Câmara e Senado, que toparam dissolver a dívida dos clubes sem nenhuma contrapartida.À presidente Dilma Rousseff só resta vetar esse artigo da Medida Provisória 656, que trata da redução de impostos para importação de peças de aerogeradores.A batalha é dura, a bancada da bola é muito forte. Essa turma não possui compromisso com o futuro, é feita de gente incapaz de avalizar qualquer medida saneadora, afinal muitos ajudaram a moldar a dívida. O futuro dura enquanto durarem seus mandatos. Os R$ 4 bilhões que os clubes tentam renegociar talvez seja muito dinheiro para você, mas para eles é problema do caixa do Governo.Diante das manifestações contrárias à renegociação marota, diante da certeza de veto da presidente, o que teria levado deputados e senadores à coautoria desse absurdo? Seria apenas a crença na burrice perpétua? O Congresso não pode ser assim tão ingênuo, não pode crer que a presidência seja capaz de destruir o canal de diálogo estabelecido com jogadores e dirigentes bem-intencionados.O Flamengo, que hoje sofre nos gramados por destinar recursos para o pagamento de sua gigantesca dívida, foi muito claro na defesa da LRFE e de regras que impeçam o atual vale-tudo administrativo.Sempre atenta e disposta a construir um mundo melhor, a CBF tratou disso no artigo 105 do Regulamento Geral de Competições, que funciona como estatuto dos campeonatos regidos pela entidade. Mas convém não confiar. O problema é de Estado, e não do humor dos cartolas. Sabemos muito bem como são operadas essas relações, é na base do toma-lá-dá-cá. Tem de ser muito ingênuo para acreditar.Toda essa história nos ajuda a entender os movimentos do mercado no mês de dezembro. O ambiente caótico propicia o aparecimento de super-heróis vestidos de treinadores. Por desconhecimento dos componentes do futebol e por culpa da quebradeira generalizada, a saída é apostar nos salvadores da pátria.Os 7 a 1 impostos pela Alemanha na semifinal da Copa do Mundo realmente não serviram para nada. Foram absorvidos com naturalidade funesta. Os valores que determinam o rendimento do time de futebol e o funcionamento sadio do clube permanecem ignorados.O ponto de partida e o ponto final são os mesmos, é o resultado. Chegar a ele, porém, continua sendo um mistério, um segredo que poucos dominam.Há quem acredite que a solução é um contrabando legislativo.numa MP, como fizeram deputados e senadores. Tem gente disposta a tudo.

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