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Punições

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Por MARCOS CAETANO
Atualização:

Como eu já escrevi aqui, o futebol atravessa um período no qual os assuntos mais comentados não são os de dentro de campo, mas os que se desenrolam longe dele, mais precisamente nos tribunais - sejam eles esportivos, criminais ou fiscais.Lemos muito sobre o ex-goleiro Bruno, condenado pelo assassinato da ex-namorada, da mesma forma que acompanhamos o debate sobre qual seria o tipo adequado de punição para o Corinthians, por conta do envolvimento de uma de suas facções no episódio que custou a vida de um torcedor boliviano. Ontem, surgiu o caso do cartola do Sport Recife, que garante ter pago propina para ter um de seus jogadores convocado para a seleção brasileira, em 2001.É sempre muito difícil concluir sobre o tamanho exato das penas para crimes que custam vidas ou que envolvem questões morais. Não sou advogado, e mesmo os amigos que militam na área não são capazes de chegar a um consenso sobre casos como os citados.Mas esses crimes não são o tema central da coluna de hoje. Eles estão aqui apenas como contraponto a outro tipo de delito que - esse sim - pode ter sua pena determinada de forma lógica e proporcional. Eu ia escrever inquestionável, mas, como essa é uma das palavras de uso mais questionável que eu conheço, preferi evitá-la. Estou falando das punições a jogadores que agridem adversários.Esse assunto me veio à mente quando li que o meia Valentin Eysseric, do Nice, que quebrou a perna de Jérémy Clement, do Saint-Étienne, foi suspenso por 11 partidas e ficará fora do resto da temporada do futebol francês.Nada pode ser pior no comportamento de um atleta do que, por um ato de violência, impedir um colega de profissão de trabalhar. O caso de Eysseric até parecia diferente, uma vez que Clement, o agredido, fez questão de dizer que torcia para que o adversário fosse inocentado no tribunal, já que considerou o lance não intencional. Por conta dessa declaração, fui conferir o vídeo da jogada. Sinto discordar de Clement e seu coração cheio de perdão, mas a entrada de Eysseric foi criminosa. Absurdamente imprudente, para dizer o mínimo. E aí chego ao ponto que queria fazer: ao contrário de outros delitos do esporte, é fácil determinar a pena do condenado por casos assim.E tão óbvio! Ora, basta forçar o carniceiro a ficar tantos jogos parado quanto sua vítima. É claro que, se o agressor tentou quebrar a perna do adversário e esse se safou por pouco, ainda cabe uma pena alta, como os 11 jogos que Eysseric pegou. Já se não houve intenção ou imprudência, mesmo em casos de contusão grave, ninguém deveria ser punido.No entanto, se houve dolo, o adversário se contundiu e ficará fora dos gramados por três meses, três meses de gancho para o criminoso. Se ficar parado seis meses, seis meses de punição. E se o agredido nunca mais puder jogar futebol? Nada a discutir: o agressor será banido do esporte. Parece radical? Eu acho apenas justo. E digo mais: poucas normas seriam tão importantes para banir a violência dos gramados quanto essa - que, aliás, é adotada em outros esportes.

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