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Bolt diz: 'Quero ser lembrado como um dos maiores de todos os tempos'

Em entrevista ao 'Estado', jamaicano fala sobre a sua despedida das pistas, em agosto, no Mundial de Atletismo de Londres

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Por Raphael Ramos
Atualização:

Não é à toa que o gesto de apontar os dedos para o infinito é a marca registrada de Usain Bolt. De fato, o que ele fez nas pistas de atletismo na última década o transformou em um homem inalcançável, sem limites. Agora, às vésperas da aposentadoria, o jamaicano parece menos arrogante. Aos 30 anos, a impressão é de que o supercampeão resolveu deixar a soberba de lado.

Em entrevista ao Estado, o maior velocista da história evitou respostas autoafirmativas ou autolouváveis. Não repetiu, por exemplo, que é uma lenda ou o maior atleta vivo, como afirmara em 2012, durante os Jogos Olímpicos de Londres.

Usain Bolt, recordista mundial e olímpico dos 100 e 200 metros rasos Foto: Jon W. Johnson

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Mesmo mais comedido, Bolt não deixa de ser confiante. “Eu traço metas a serem alcançadas todos os anos. Quero ser lembrado como um dos maiores esportistas de todos os tempos”, respondeu ao Estado após ser questionado sobre o que ainda o mantém motivado depois de conquistar tudo que era possível.

Nem mesmo a insistência da reportagem, ao recordar que nos Jogos Olímpicos do Rio ele afirmara que gostaria de ser lembrado no esporte como Muhammad Ali e Pelé, fez Bolt se auto elogiar. “A história responderá a essa pergunta”, disse.

Após tirar dois meses de férias depois da Olimpíada do Rio, o jamaicano tem se dedicado aos treinamentos para o próximo Mundial de Atletismo, que será disputado em agosto, em Londres. Será a última competição de Bolt na carreira. Para o seu último ato nas pistas, o velocista evita fazer projeções de resultados ou das provas que vai disputar. Ele diz que só deseja curtir o carinho do público em sua última corrida. “Quero ver os fãs pela última vez.”

Ao fazer um balanço da sua carreira, o homem que pulverizou recordes ao longo dos anos tem apenas um senão. “Infelizmente, não corri os 200 metros abaixo dos 19 segundos”, lamenta. Os 200 metros rasos sempre foram a prova preferida de Bolt – desde os 15 anos, quando ele conquistou o Campeonato Mundial Juvenil, realizado em Kingston, na Jamaica, e se tornou o mais jovem medalhista de ouro num campeonato júnior de atletismo.

Mesmo sem ter alcançado o objetivo de correr 200 metros em menos de 19 segundos, Bolt é soberano na prova e detém os recordes olímpico e mundial. Em 2008, cravou 19s30 nos Jogos Olímpicos de Pequim. Um ano depois, baixou para 19s19 no Mundial de Berlim. Também é recordista nos 100 metros, a prova mais nobre do atletismo.

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Com a aposentadoria de Bolt abre-se uma nova perspectiva na modalidade. Durante mais de uma década, o jamaicano não teve concorrentes que pudessem ao mínimo incomodá-lo na chegada. Ele disputava uma prova olímpica como se estivesse em um campeonato escolar, tamanha a diferença em relação aos seus concorrentes. Nos Jogos do Rio, por exemplo, uma imagem de Bolt ganhou as capas dos jornais do mundo. Na foto, tirada durante a semifinal dos 100 metros rasos, o jamaicano olha para trás e sorri dos seus adversários antes mesmo de cruzar a linha de chegada.

A imagem ilustra a superioridade de Bolt e a falta de velocistas para ocupar o vácuo que a sua aposentadoria deixará no esporte a partir de setembro.

O próprio Bolt não vê alguém em condições de substituí-lo. “Não pensei em ninguém. Outros atletas até podem correr rápido, mas só vai existir um Bolt”, disse ao Estado.

Realmente Bolt é um sujeito ímpar. Ele conseguiu se sobressair dentro da melhor geração de velocistas da Jamaica e, até começar a colecionar medalhas em série, imaginava-se que nunca um atleta com a sua estatura pudesse correr tão rápido.

Com 1,96 m e 94 kg, Bolt tem um físico que destoa de qualquer corredor. O seu porte está mais próximo ao de um jogador de basquete, por exemplo. Por isso, Stephen Francis, o badalado técnico de Asafa Powell, chegou a compará-lo a Albert Einstein, Issac Newton e Beethoven. “Há pessoas que são exceções. Não há explicação para o que Bolt faz.”

Bolt conseguiu se tornar um mito do esporte com uma carreira totalmente limpa, sem nunca ter se envolvido em casos de doping, o que parece raro nos dias de hoje. Esse é o legado e maior orgulho. Limpo, ganhou nove medalhas de ouro em três edições de Jogos Olímpicos.

A coleção dourada só diminuiu para oito conquistas neste ano depois que o companheiro Nesta Carter, que disputou o revezamento 4 x 100 metros ao seu lado, testou positivo para metilhexanamina nos Jogos de Pequim – o corredor foi pego em um exame refeito pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 2016.

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Bolt não esconde a dor da perda de uma medalha suada, mas é direto e reto quando questionado sobre o doping no esporte. “Eu mostrei ao mundo que você pode ser bem sucedido competindo limpo.”

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Restando pouco mais de dois meses para o Mundial de Londres, Usain Bolt já faz planos para a aposentadoria – aos 30 anos. Passar mais tempo em casa, sem a obrigação de cumprir intensa rotina de treinos e viagens, encabeça sua lista de prioridades. “Relaxar sabendo que meus pais, minha família e meus amigos estão bem é o que mais me faz mais feliz”, diz.

Ainda não está definido qual será o seu papel no atletismo a partir de setembro, mas é certo que continuará ligado ao esporte. Um sonho é jogar futebol. Outro é não ser interrompido no lazer, especialmente durante as refeições. “Quando saio para jantar, fico louco quando, a cada mordida, sou interrompido para tirar uma foto.” Bolt vai envelhecer cheio de histórias para contar.

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