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Rafaela Silva se diz inocente em caso de doping e afirma que foi contaminada por bebê

Judoca atribui presença de substância proibida em seu organismo à possível mordida de filha de uma amiga

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Por Fabio Grellet e Paulo Favero
Atualização:

A judoca Rafaela Silva, de 27 anos, se defendeu em entrevista nesta sexta-feira, no Rio, depois de ser pega no exame antidoping. A medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio afirmou que a aparição na urina de fenoterol, substância presente em medicamentos contra a asma e capaz de melhorar o desempenho de um atleta, se deve à contaminação pelo contato com um bebê que toma medicação contra problemas respiratórios.

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Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio e campeã mundial, a judoca Rafaela Silva, de 27 anos, foi pega no exame antidoping realizado no Pan de Lima. Ela se defendeu ontem e explicou que a presença de fenoterol em seu teste de urina, substância presente em medicamentos contra a asma e capaz de melhorar o desempenho de um atleta, se deve à contaminação pelo contato com um bebê que toma medicação contra problemas respiratórios.

“Nenhum atleta está preparado para viver um momento desses, mas vou continuar treinando e competindo normalmente. Nunca me dopei, não uso drogas nem bebida alcoólica, e o contato com a substância foi totalmente involuntário”, afirmou a judoca, muito chateada.

Rafaela Silva promete se defender de caso de doping Foto: Wilton Junior/Estadão

O exame que detectou a substância proibida foi realizado em 9 de agosto e a amostra foi colhida em Lima, no Peru, quando ela ganhou a medalha de ouro na categoria até 57 kg. Depois disso, Rafaela viajou ao Japão para disputar o Mundial de Judô e voltou para casa com duas medalhas de bronze, no individual e por equipes mistas. Ainda não está definido se ela perderá as medalhas.

Segundo a judoca, em 4 de agosto ela teve contato com um bebê de sete meses que usa produtos contra a asma, e aí foi contaminada. “Tenho o hábito de permitir que as crianças mordam meu nariz. Faço isso sempre, por exemplo, com meu sobrinho, o Silvestre, de quatro meses, e nesse dia fui ao apartamento em que mora uma colega judoca e tive contato com a Lara, filha dela, que usa o produto contra asma”, disse Rafaela.

Vinte dias após o antidoping positivo, Rafaela se submeteu a outro exame idêntico, no Mundial de Judô, que não identificou a substância em seu organismo. “O fenoterol é eliminado do corpo com muita rapidez, e isso pode ajudar na defesa da Rafaela”, afirmou L. C. Cameron, chefe do Departamento de Genética e Biologia Molecular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). “É muito tranquilo que uma criança que acabou de usar tenha expirado o fármaco. É bastante plausível que a Rafaela tenha sido exposta dessa forma.”

Segundo Bichara Neto, advogado da atleta, a audiência preliminar ocorreu na quinta e uma primeira decisão deve ser emitida na próxima semana. O caso será encaminhado à Federação Internacional de Judô, que então vai analisar o assunto, com poder para suspender Rafaela. “O processo ainda não foi aberto, nenhum prazo está correndo, então não há nenhuma previsão de quando haverá qualquer decisão da federação”, disse Bichara Neto ao Estado.

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Ele será responsável por explicar à entidade que Rafaela não quis se dopar nem agiu de forma irresponsável. “Pode haver suspensão de até dois anos, mas estou confiante de que ficará livre de qualquer pena.”

O fenoterol tem efeito broncodilatador e não é substância proibida, mas especificada pela Wada (Agência Mundial Antidoping). Isso significa que a atleta pode apresentar a defesa antes de qualquer suspensão. Em 2016, a nadadora Etiene Medeiros passou pela mesma situação e acabou inocentada. Um dado importante é a quantidade da substância encontrada no organismo.

Um dos principais nomes do judô nacional, Rafaela participou de duas edições dos Jogos Olímpicos. No Rio, ela foi ouro e está cotada para chegar novamente ao pódio no próximo ano, na Olimpíada de Tóquio.

Os casos recentes vêm incomodando o Comitê Olímpico do Brasil (COB), que está com uma campanha para diminuir o uso de suplementos pelos atletas. A entidade promoveu debate sobre o assunto e diz que o uso indiscriminado dessas substâncias pode ser um perigo para a carreira dos atletas.

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"É inegável que o uso de suplementos, sejam eles produzidos por manipulação ou industrializados diretamente, leva a essa condição de risco. Minha posição pessoal é que a situação mais segura é o não consumo de suplementos. Existem, sim, atletas que conseguem ser campeões mundiais e conquistar medalhas olímpicas sem ingeri-los", comentou Jorge Bichara, diretor de esportes do COB.

O dirigente se manifestou durante o debate e estava ao lado de Wander Rabelo, assessor Institucional da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (ANFARMAG). Este, por sua vez, garantiu que os procedimentos no controle dos suplementos no Brasil são bastante rígidos. No caso de Rafaela, o episódio de doping não ocorreu devido aos suplementos, mas existem vários casos no passado em que suplementos contaminados foram usados como vilões.

Além de Rafaela Silva, o Time Brasil teve no Pan de Lima outros dois casos de doping. Um foi do ciclista Kácio Freitas, que foi medalha de bronze por equipes. O outro foi de Andressa Morais, do lançamento de disco. Ela foi medalha de prata e está suspensa preventivamente e, por isso, não disputará o Mundial de Atletismo.

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“A entidade está atenta aos recentes acontecimentos e acredita que, com o devido processo, os atletas envolvidos poderão esclarecer o que aconteceu. O COB reafirma o compromisso com o esporte limpo, através da Educação e Prevenção ao Doping. Nos últimos 12 meses, realizou palestras e ações junto às confederações, treinadores e atletas, impactando diretamente um total de 1.600 pessoas”, afirmou em nota.

Quem também se manifestou foi a CBJ. “A Confederação Brasileira de Judô vai acompanhar de perto o andamento do processo legal referente ao resultado analítico adverso revelado pela judoca Rafaela Silva. Ela é uma das maiores judocas do Brasil, exemplo de superação dentro e fora dos tatames. A CBJ prestará o apoio que lhe cabe e que for necessário para a resolução do caso.”

Confira a íntegra do posicionamento do COB:

"O Comitê Olímpico do Brasil só pode se manifestar sobre casos de doping depois que a autoridade de teste tornar público qualquer caso envolvendo algum atleta brasileiro.

A entidade está atenta aos recentes acontecimentos e acredita que, com o devido processo, os atletas envolvidos poderão esclarecer o que aconteceu. 

O COB reafirma o compromisso com o esporte limpo, através da Educação e Prevenção ao Doping. 

Nos últimos 12 meses, o COB realizou palestras e ações junto às Confederações, treinadores e atletas, impactando diretamente um total de 1.600 pessoas. 

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Durante os Jogos Pan-Americanos de Lima foi realizado o programa Esporte Seguro, compartilhando na Vila Pan-Americana, através de palestras e quiz, informações sobre educação, prevenção e combate ao doping; prevenção de lesões; e prevenção ao abuso e assédio moral e sexual. A iniciativa teve a participação 713 integrantes da delegação do Brasil nos Jogos, representando todas as modalidades presentes na competição."

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