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'Rota do dinheiro' de Nuzman entra no radar dos investigadores suíços

Ministério Público do país confirma que está examinando caso do dirigente brasileiro, enquanto bancos começam a fazer levantamento de transações

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA – O Ministério Público da Suíça vai avaliar a partir desta sexta-feira, 6, o pedido de cooperação para investigar e bloquear as contas do presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, em Lausanne e Genebra. Na Suíça, o brasileiro ainda mantem 16 quilos de ouro em um cofre, e o Departamento de Justiça do país já havia dado um sinal positivo sobre a cooperação. O Estado apurou que bancos citados no processo no Brasil também já iniciaram, internamente, uma apuração sobre as transações do dirigente. 

Nuzman foi preso na manhã desta quinta-feira (05/10/2017) Foto: Fábio Motta / Estadão

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Agora, o Ministério Público brasileiro quer saber os detalhes das movimentações bancárias do dirigente, e espera a ajuda de Berna para estabelecer a "rota do dinheiro". Pela cooperação, os bancos suíços serão obrigados a repassar todos os extratos bancários que, então, poderão alimentar a investigação no Brasil e na França. 

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No dia 28 de setembro, os procuradores brasileiros encaminharam um pedido aos suíços para que as contas fossem bloqueadas, assim como o ouro mantido por Nuzman em Genebra. No dia 5 de outubro, dia da prisão do dirigente, o Departamento de Justiça deu o primeiro sinal verde para a cooperação e encaminhou a documentação para a “execução” por parte do Ministério Público de Berna. Dentro do sistema de cooperação, a aprovação inicial é considerada como um passo decisivo. 

Os procuradores suíços indicam ao Estado que vão se debruçar sobre o caso. “O Escritório da Procuradoria Geral da Suíça confirma que recebeu nesta sexta-feira, 6, um pedido de cooperação mútua do Brasil neste contexto”, disse um comunicado do MP em Berna, capital suíça.

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“O pedido foi transferido do Departamento Federal de Justiça para a Procuradoria-Geral como autoridade competente para sua execução”, explicou. “A Procuradoria-Geral está atualmente analisando o pedido de cooperação para avaliar se ela podera ser executada”, indicou. 

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Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), atuou como lobista, segundo investigação Foto: Marcos de Paula / Estadão

Ao Estado, os responsáveis pelo local onde o ouro está guardado indicaram que terão de cumprir uma ordem judicial se houver uma, significando que terão de impedir qualquer tipo de retirada do ouro dos cofres. 

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Rota

O trabalho dos investigadores agora é o de traçar a “rota” da fortuna do brasileiro. Documentos e envelopes encontrados durante a operação policial na casa de Nuzman, em setembro, revelaram que o brasileiro não apenas mantinha dinheiro vivo em sua residência em diversas moedas, mas também guardava informação sobre contas na Suíça. 

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No dia 27 de junho de 2014, Nuzman escreveria para Laetitia Theophage, funcionária da Federação Internacional de Atletismo, um email no qual colocava seus dados de uma conta na Suíça. Tratava-se de um depósito que deveria ser realizado no banco Société Générale Private Banking, instituição financeira dedicada a administrar grandes fortunas. 

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Laetitia, o Estado apurou, era a assistente pessoal do então presidente da IAAF, o próprio Lamine Diack, investigado por corrupção e hoje detido. Com a conta bancária número 1720399, ele indicava para onde a IAAF deveria fazer um depósito. O local do banco também é revelador: Lausanne, cidade sede do COI e para onde Nuzman viajou com grande frequência entre 2009 e 2016, durante a preparação do Rio de Janeiro. 

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Nos últimos 10 dos 22 anos de presidência do COB, Nuzman ampliou seu patrimônio em 457%, diz denúncia da MPF. Foto: Miguel Schincariol/AFP

Em seu pedido de Habeas Corpus, Nuzman indicou que a conta servia para receber pagamentos de trabalhos realizados para a IAAF e suas despesas. O brasileiro chegou a ser membro do Conselho de Ética da entidade. 

Agora, um dos trabalhos dos investigadores será o de apurar se a conta em nome de Nuzman serviu para algum outro objetivo. Para isso, o Ministério Público Federal espera a cooperação da Suíça.O Estado apurou que um fluxo ainda importante de dinheiro passou pelos EUA e pelo Caribe, o que exigiu a cooperação da Justiça americana e da Grã-Bretanha. 

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