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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Taí a velha discussão...

Por Antero Greco
Atualização:

Desde 2003, quando se aproxima o encerramento do Brasileiro volta a dar o ar da graça a discussão a respeito do resgaste do mata-mata. Basta um time adiantar-se aos demais, mostrar-se mais eficiente, botar a mão na taça com rodadas de antecedência, e logo saem da moita os que defendem o retorno do sistema de eliminação direta. O argumento usual, e banal, é o de que "não há emoção" nos pontos corridos, fica sem graça. Com um adendo: o futebol não precisa ser justo, apenas emocionante. Fora os defensores convictos, e os há, da fórmula que vingou durante muito tempo, existem os ocasionais, que se queixam só se o time deles não estiver na corrida pelo título. Caso contrário, entoam hinos de louvor ao turno e returno etc e tal. Para mudar na temporada seguinte e assim por diante, ao sabor do momento da equipe. Mais ou menos como os que defendem democracia e liberdade, porém não se conformam com derrotas de suas ideias e suspeitam de fraude. Lembram também nosso famigerado jeitinho, a maneira de adaptar uma realidade, não com base no mérito, mas no casualismo. Depois, se queixam de esquemas bem bolados na política. Em resumo: olham para o próprio umbigo, pensam em tirar vantagem. No caso do futebol, a disputa fica em segundo plano. No meio da semana, numa passeada por redes sociais, me deparei com um observação de lógica exemplar. Numa tuitada, um rapaz (Daniel, e me foge o sobrenome) lançava a seguinte proposta: já que os defensores da eliminação direta anseiam por adrenalina na briga pela taça, por que não se estende a interrogação também para apontar os quatro rebaixados para a Série B? O formato? Simples e prático. Os oitos últimos, a partir do 13º, fariam confrontos de ida e volta, iguaizinhos aos da turma de cima. Os que perdessem, despencavam para outra Divisão. Dessa maneira, haveria oito jogos adicionais, com dose extra de antagonismo. A sugestão logo topou com forte rejeição. A explicação comum? Após a fase de classificação, já se sabem quem está na turma do descenso. Como assim?! Se não tem o campeão, por critério idêntico (o concorrente com maior número de pontos ganhos), por que se tem o rebaixado (com menor pontuação)? Fácil entender: aceita-se brigar para subir, não para cair. Esfregam-se as mãos com a hipótese de o oitavo colocado desbancar o líder, ao mesmo tem em que se vê com repulsa o risco de o lanterna tirar a alegria do 13º, em geral no sossego. Num caso, seria "competência"; no outro, "desaforo". O argumento se acomoda aos interesses. Duvido que, se for apresentada a ideia para os clubes e para a televisão, haverá aceitação. No entanto, se considera viável e razoável submeter a eficiência de 38 rodadas ao fortuito de dois, quatro ou seis jogos a mais. O Cruzeiro hoje tem 73 pontos, levará o bi com louvor - se não diante do Goiás, nas rodadas finais. Se estivesse em vigor o mata-mata, talvez topasse com o Santos, com 47. A diferença de regularidade, qualidade, equilíbrio entre ambos é de 36 pontos! Temos competições de sobra para atender a esse tipo de expectativa do público: os estaduais, a Copa do Brasil, a Libertadores, a Sul-Americana, a Copa América, os Mundiais (de clubes e de seleções). Não custa apostar num modo diferente em um campeonato. Engana-se também quem vê nos pontos corridos cópia dos europeus. Aqui, até o final dos anos 60, eram assim as competições - e se contabilizavam pontos perdidos! A gente precisa cobrar calendário racional, horários decentes para os jogos, transparência nas contas dos clubes, contratações acertadas, menor interferência da CBF por causa da seleção, preços justos dos ingressos, promoções. As agremiações devem mexer-se, sair da letargia, bolar alternativas para levar o fã para o estádio. E cabe a nós, a turma da imprensa, frisarmos que é bom, saudável, recompensador ver a supremacia do planejamento, da persistência,da estratégia, da constância que só os pontos corridos exigem.

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