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Um bicampeão ousado

Por Paulo Calçade
Atualização:

Cruzeiro e São Paulo são os clubes mais competentes do Campeonato Brasileiro desde a implantação da fórmula de pontos corridos. De 2003 para cá, faturaram metade das 12 competições nesse formato. Foram hábeis para estender o sucesso de uma temporada para outra, como agora fazem os mineiros com o bicampeonato.Desde que a taça passou a premiar o trabalho de toda a temporada e não apenas o de um momento, o Cruzeiro acumulou 774 pontos e o São Paulo 812. Os mineiros ainda possuem o melhor ataque dos pontos corridos com 775 gols marcados em 474 partidas.O bicampeonato brasileiro é também consequência da ousadia, de um futebol inconformado com a mesmice gerada pelo medo que domina a maioria das equipes. Impulsionado pela mobilidade de Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, seus principais criadores, o Cruzeiro se manteve quase que imbatível até a metade da competição.Enquanto teve pernas para suportar as demandas físicas do calendário, ampliadas pelo desgaste imposto pelo seu estilo de jogo, o Cruzeiro dominou o campeonato sem ser incomodado, a ponto de fazer o melhor primeiro turno da história dos pontos corridos, com 43 pontos e 75% de aproveitamento dos pontos disputados.Apesar de possuir o melhor ataque, o maior saldo de gols e as melhores campanhas como mandante e visitante, o Cruzeiro também teve seus problemas. Mas agora é preciso deixar de lado a questão física.Em uma competição fictícia, apenas entre os primeiros colocados da tabela, o rendimento da equipe não seria suficiente para disputar o título. No 'microcampeonato' da elite do Brasileirão, o Corinthians de Mano Menezes leva boa vantagem na ponta.Mas quem não pode viver sem final deve saber que ela aconteceu na quinta-feira, em Porto Alegre, e justamente quando o Cruzeiro parecia estar sem pernas para enfrentar o jogo gremista. Depois de um primeiro tempo ruim, travado pela marcação de Felipão e sem a mobilidade que o caracteriza, o time mineiro rumou para o intervalo se perguntando de onde tiraria forças para reagir na segunda etapa.O Grêmio dominava a partida, forte e coeso, com e sem a bola, disposto a se multiplicar em cada canto do gramado de seu belíssimo estádio. A fadiga cruzeirense ganhava volume na dificuldade de Éverton Ribeiro construir o jogo, na frágil condução da bola ao ataque. Faltavam os movimentos que ele ajudou a simplificar com a camisa azul, e que o levaram à seleção de Dunga.Cansado, sem o brilho do primeiro turno, o time apelou para suas últimas reservas físicas e ao seu caráter ofensivo. Em poucos minutos deu sinais de mudança. Criou e finalizou com a marca registrada que ajudou a definir seu estilo, como ainda não havia conseguido fazer. Quem assistiu ao primeiro tempo demorou a acreditar que Ricardo Goulart e Everton Ribeiro ainda fossem capazes de inventar uma saída.Foi a virada do título, que deixou a bola pingando para o Mineirão sacramentar o bicampeonato antes da decisão da Copa do Brasil, justamente contra o Atlético, o rival de todas as horas, que chega mais forte e com a vantagem obtida no primeiro confronto.A vitória sobre o Goiás premiou a consistência, apesar de algumas oscilações, mas sempre no topo da tabela. O sacrifício imposto pelo calendário criminoso da CBF faz parte de uma realidade que continua punindo a competência.O Cruzeiro merece ser cumprimentado por ter sobrevivido. O bicampeonato dificultará a permanência de alguns de seus principais nomes na próxima temporada. Agora entra em campo o sonho do jogador, o sonho de se sentir ainda mais importante, de frequentar ligas mais desenvolvidas e de ganhar mais dinheiro. Manter o treinador Marcelo Oliveira é fundamental, vai ser mais simples entender os percalços de um possível recomeço.

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