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Alto investimento brasileiro contra o doping nos Jogos

País reformulou laboratório para reconquistar o respeito e realizar todos os exames

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Por Alessandro Lucchetti Gustavo Zucchi
Atualização:

A dez meses do pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014, o sistema brasileiro de controle antidoping brasileiro sofreu um duro golpe, equivalente ao rebaixamento de um clube para a Série B do Campeonato Brasileiro. O Ladetec (Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico) fora descredenciado pela WADA (Agência Mundial Antidoping) devido à expedição de resultados errados em dois testes de rotina e um “cego”, sem identificação.

Naquele momento, se iniciou uma corrida contra o tempo, para que o Ladetec fosse recredenciado e pudesse operar durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro. Para acelerar o trâmite, a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle Antidoping) simplesmente erigiu um novo prédio, situado defronte ao das instalações laboratoriais inauguradas em 1989, no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão.

  Foto: DIV

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O Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD) recebeu a certificação para voltar a realizar exames em maio do ano passado. O custo das novas instalações, incluindo equipamentos, alcançou a cifra de R$ 188 milhões, sendo R$ 160 milhões transferidos do orçamento do Ministério do Esporte e R$ 28 milhões do Ministério da Educação.

Em termos de equipamentos, as vedetes são o espectrômetro de massas e os cromatógrafos, capazes de identificar mais de 400 substâncias numa única amostra de urina ou sangue. “Com um laboratório totalmente novo, equipado, com pessoal concursado e treinado, a capacidade de identificação do LBCD volta a ser equivalente e, em alguns casos, até superior, à dos demais laboratórios credenciados pela Wada”, diz o coordenador do Ladetec, Francisco Radler de Aquino Neto.

Durante Olimpíada e Paralimpíada, o LBCD vai operar 24 horas por dia. Os testes serão feitos em lotes de 20 amostras simultaneamente. Ao longo dos dois eventos, seis mil amostras serão verificadas. A demanda olímpica corresponde à capacidade rotineira do laboratório multiplicada por dez, nas contas de Radler.

O orgulho pelo novo laboratório transparece na voz de Marco Aurélio Klein, presidente da Autoridade Brasileira de Controle Antidoping. Mas esse sentimento não está ligado, obviamente, apenas aos equipamentos, os mesmos que se encontram nos laboratórios mais avançados do mundo. O fator humano é fundamental.

Hoje, o laboratório trabalha com 150 profissionais. Esse número vai dobrar durante os Jogos. Segundo Klein, de 80 a 90 dos mais renomados especialistas dos melhores laboratórios do mundo vão se integrar “ao esforço olímpico” nacional. “Nos Jogos, o time local é reforçado pela nata internacional. Teremos no Rio uma Champions League de profissionais dessa área. O contato diário, a interação e a troca de experiências vai alçar o nosso pessoal a outro patamar”, empolga-se Klein.

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Os “craques” dessa liga atuam em diferentes áreas do conhecimento: química analítica, bioquímica, farmácia e biotecnologia. Esse avanço na luta contra o doping deverá, segundo Klein, inibir a prática de doping. Ter um laboratório no País significa baratear custos de exames e tornar possível a verificação de amostras de sangue. O tempo consumido para o transporte aéreo pode simplesmente inviabilizar a realização desse procedimento, devido à degradação do material.

“O LBCD é um dos maiores legados que os Jogos Olímpicos deixarão para o Brasil. A Autoridade Brasileira de Controle Antidoping terá instrumentos para executar uma política de Estado contra o doping”, diz Klein. Segundo Radler, o descredenciamento do Ladetec foi o desdobramento lógico do descompasso entre a evolução tecnológica do controle antidoping e a liberação de recursos por parte do Governo Federal, que chegou a se aproximar de zero.

É chavão na história do controle antidoping a noção de que, por mais que evoluam, os mecanismos de controle estão sempre a algumas léguas dos métodos ilegais de aperfeiçoamento de performance.

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EPO Nesse contexto, a utilização de EPO (um hormônio secretado pelo rim que estimula a medula óssea a elevar a produção de células vermelhas do sangue) já é página virada no ciclismo, que provavelmente figura no panteão olímpico no mais alto degrau entre as modalidades enlameadas pelo doping.

Neste ciclo olímpico, o GW 1516 chegou a ser coqueluche no mundo do pedal. É uma substância sintética que age sobre os genes responsáveis pela construção de tecido muscular. Ela induz o corpo a enviar mais oxigênio para os músculos ao queimar gordura, poupando carboidratos e proteína, que são “economizados” para construir músculos. Os laboratórios certificados pela WADA têm flagrado essa substância, que apresenta o inconveniente (para o usuário) de deixar vestígios no corpo por 40 dias. Mais sofisticado é o Aicar, um modulador metabólico que “engana o corpo”, induzindo-o a acreditar que o atleta treinou sem tê-lo feito. Como se vê, haverá demanda eterna por investimentos no Ladetec.

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