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Brasil não é alvo, mas pode ser palco de atos terroristas por causa de Olimpíada

Especialistas alertam para 'lobos solitários' e uso de Jogos Olímpicos como propaganda

Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

Por não ter atuação direta na luta internacional contra o terror e manter boas relações com o mundo árabe, o Brasil não é alvo de grupos extremistas, mas corre o risco de se tornar palco de ataques por causa da visibilidade que ganhou com os Jogos Olímpicos. Uma ação de impacto seria um trunfo para organizações como o Estado Islâmico (EI), que desenvolveu um intenso mecanismo de propaganda.

"O Estado Islâmico tem perdido espaço territorial na Síria e nos últimos meses tem reivindicado ações que não são de pessoas diretamente ligadas a ele, mas de lobos solitários. Imagine a repercussão de um ataque durante os Jogos Olímpicos. Mesmo que não provoque muitas mortes, não seja tão grave, teria uma repercussão imensa. O efeito midiático seria enorme", disse o pesquisador Paulo Velasco, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Estado Islâmico já tem contato com brasileiros Foto: Reprodução

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Velasco destaca que há uma grande diferença entre alvos e palcos do terrorismo, mas que a Olimpíada trará ao País delegações de países diretamente envolvidos nos conflitos na Síria e no Iraque e no combate ao terror. O professor lembra que o Estado Islâmico já tem um canal de comunicação em português e se mobiliza para atrair o interesse de jovens, muitas vezes vulneráveis, como acontece em outros países. Na edição desta quinta-feira, o Estado noticiou que a consultoria SITE Intelligence, especializada na atuação de grupos extremistas na internet, detectou mensagens que conclamam seguidores a atuarem como lobos solitários durante a Olimpíada.

"O lobo solitário em geral é natural do país onde o ataque acontece, tem algum tipo de desencanto, por algum motivo. Por serem pessoas comuns, o trabalho de prevenção é mais difícil. No Brasil, se acontecerem (atos terroristas), o mais provável é que sejam de lobos solitários", disse Velasco.

Embora reconheça o esforço das autoridades brasileiras para garantir a segurança durante os Jogos, o professor diz que o País "às vezes troca os pés pelas mãos". Ele considera excessivas as simulações de ações das forças de segurança e lembra da cartilha de prevenção distribuída pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que, entre outra recomendações, sugere avisar a um agente de segurança sobre a presença de pessoas que "utilizam roupas, mochilas e bolsas destoantes das circunstâncias e do clima". "Qualquer estudante anda de mochila e casaco", disse.

Estado Islâmico teria adeptos jurando lealdade no Brasil Foto: Stringer/Reuters

"O Brasil está sendo muito pressionado por países que realmente são alvos e exigem garantias de segurança. O Brasil não tem expertise, mas está fazendo um esforço, tem feito um rastreamento importante das redes sociais", afirmou. As prisões realizadas nesta quinta-feira, na avaliação de Velasco, foram "necessárias, para servir de exemplo". O pesquisador afirma que a tentativa de comprar armamento pesado, feita por um dos presos, é um indicativo de que o grupo "foi além da retórica". "Foi importante como forma de intimidação, houve um rastreamento de potenciais lobos solitários que vão pensar duas vezes se estiverem planejando algum tipo de ação", disse.

Professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na área de Estudos de Relações Internacionais, Alexander Zhebit diz que "os Jogos Olímpicos atendem aos objetivos dos terroristas de semear pânico e usar eventos internacionais de porte para atentar à ordem mundial vigente". O pesquisador lembra que, antes da existência e do crescimento do Estado Islâmico, houve um grave atentado durante a Olimpíada de Munique, em 1972, e episódios menos graves nos Jogos de Atlanta, em 1996, e às vésperas do início das competições de Pequim, em 2008.

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Zhebit chama atenção para o avanço dos grupos extremistas sobre grupos vulneráveis, por vários motivos. "O extremismo, fanatismo e radicalismo provêm da doutrina de violência, não importa que grupos religiosos, políticos ou sectários a pratiquem. A radicalização de pessoas, geralmente devido ao nível inadequado de educação, em escola ou em família, é um caminho à violência em grupo ou individualmente, em circunstâncias extremas de alguns países ou regiões do mundo", diz. Políticas públicas de prevenção ao terrorismo, diz o professor, devem estar associadas a ações de longo prazo de "educação pela paz e solução de problemas sociais de desemprego, crime, pobreza, violência doméstica".