COI deve admitir entrada do surfe nos Jogos de Tóquio

Além da modalidade, caratê, skate, escalada e beisebol/softbol devem ser disputados no Japão

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Por Jamil Chade Nathalia Garcia e enviados especiais ao Rio
Atualização:

Foi uma campanha de um século. Mas o surfe passará por uma transformação histórica. Hoje, o Comitê Olímpico Internacional (COI) deve admitir a modalidade como esporte olímpico e introduzi-la nos Jogos de Tóquio-2020, ao lado de caratê, skate, escalada e beisebol/softbol.

Para o COI, trata-se de um esforço para atrair a juventude ao movimento olímpico, em busca de acompanhar as tendências mundiais. Para o surfe, o reconhecimento de seu status.

Gabriel Medina tira foto na Vila Olímpica: surfista foi tietado por atletas brasileiros que disputarão os Jogos Olímpicos. Foto: Wilton Junior|Estadão

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O brasileiro Gabriel Medina, que conheceu a Vila Olímpica nesta terça-feira, disse que seria uma honra poder disputar uma Olimpíada e mostrou confiança. “É o momento mais perto que a gente chegou. Espero que no Japão a gente já possa estar representando o nosso País. Seria uma honra.”

Tudo começou com o pai do surfe moderno, Duke Kahanamoku. Em 1923, ele solicitou pela primeira vez que o COI aceitasse o esporte como uma modalidade olímpica. Mas foi ignorado e, por anos, o esporte acabou deixado de lado.

A campanha voltaria a ganhar força nos anos 90. A transformação veio sob a liderança de Fernando Aguerre, um argentino que, ainda criança, se mudou para a Califórnia e foi “contaminado” pelo esporte. Foi eleito, em 1994, para presidir a Associação Internacional de Surfe (ISA, na sigla em inglês). Ao Estado, Aguerre admitiu que tomou posse com um só objetivo: transformar a modalidade em um esporte olímpico.

Todos em seu gabinete sabiam que a tarefa seria dura. No entanto, ninguém imaginou que levaria tantos anos. A primeira etapa viria apenas em 1997, quando o COI finalmente reconheceu o surfe como um esporte. A modalidade tinha duas opções para ganhar apoio: barganhar votos ou desenvolver, de fato, o esporte pelo mundo. Aguerre optou pelo caminho mais difícil.

Um primeiro fracasso veio em 2002. O COI indicou que o esporte não seria incluído em Pequim-2008 porque a modalidade não tinha 75 federações nacionais, o que mostraria que o surfe ainda não estava espalhado pelo mundo.

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A entidade, portanto, iniciou uma peregrinação pelo mundo, desenvolvendo o esporte nas geladas águas da Noruega e Islândia, em Israel e até em países com sérias restrições, como Afeganistão e Irã.

A disseminação não colocou um fim à batalha. No COI, muitos temiam que a entrada do esporte criaria um segundo problema: o que fazer com um país sem onda ou sem mar que desejasse sediar os Jogos? Mas, em 20 anos, a tecnologia avançou para permitir ondas artificiais.

Campeão mundial em 2014, Medina reconhece que o artifício, lançado por Kelly Slater, possa descaracterizar o surfe. “Na piscina, a gente vê uma onda perfeita toda hora. É diferente do mar, que você não sabe o que vai acontecer. Mas penso que só teria a piscina caso não tivesse onda. Como um recurso para salvar. Acredito que vai funcionar em uma praia normal mesmo”, explica.

Foi o apelo popular e jovem do esporte – ampliando a audiência dos Jogos Olímpicos e criando uma nova fronteira para todos os patrocinadores – que acabou convencendo a todos. É justamente esse argumento que aponta Marcus Vinícius Freire, diretor executivo de Esportes do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

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“É um ótimo caminho. Eles estão querendo rejuvenescer o movimento olímpico e esse tipo de esporte favorece essa cara. É outro público, outros atletas e muito mais jovens do que os esportes que estão aí. Estamos torcendo para dar tudo certo. Entre os candidatos, esse é o principal esporte que o Brasil tem hoje, vamos torcer.”

Para os promotores do esporte, o surfe é para todos os níveis sociais, raças, gêneros e religiões. Além disso, o oceano é “democrático”, não cobrando entrada para treinos.

Ao COI, o surfe também serve como um reforço da campanha para se mostrar mais ligado à natureza e à proteção do meio ambiente. “Somos as vozes do oceano”, afirmou Aguerre. Agora, essa voz terá aura olímpica.

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