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Prefeito do Rio admite 'oportunidade perdida' para saneamento básico

Contribuintes brasileiros já gastaram mais de 1 bilhão de dólares com programas

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Por Redação
Atualização:

Na candidatura olímpica, as autoridades cariocas prometeram que os jogos "recuperariam as águas magníficas do Rio" com um programa governamental de US$ 4 bilhões para expansão da infraestrutura de saneamento básico. Essa foi a mais recente de uma longa lista de promessas que já custaram aos contribuintes brasileiros mais de um bilhão de dólares, com muito pouco resultado.

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O problema histórico de esgotos no Rio de Janeiro intensificou-se nas últimas décadas devido à explosão populacional, que levou muitos dos 12 milhões de habitantes da área metropolitana a se estabelecer nas imensas favelas que margeiam a baía.

O lixo flui para mais de 50 riachos que desembocam na antes cristalina Baía de Guanabara. Um fedor de lacrimejar os olhos emana de boa parte da baía e de suas praias adornadas com palmeiras, locais muito frequentados por praticantes de natação até a década de 1970, mas agora perpetuamente vedados para essa prática. Toneladas de lixo caseiro - potes de margarina, bolas de futebol murchas, sofás encharcados e máquinas de lavar - acumulam-se junto à linha costeira e formam ilhas de resíduos.

Autoridades garantem quenão haverá risco para os atletas Foto: Fabio Motta/Estadão

Desde 1993, a agência de cooperação internacional do Japão despejou centenas de milhões de dólares em um projeto de limpeza da baía. O Banco Interamericano de Desenvolvimento liberou US$ 452 milhões em empréstimos para mais obras.

Uma cultura de mau gerenciamento mostrou-se um entrave para qualquer avanço. Durante anos, nenhuma das quatro estações de tratamento de esgotos construídas com o dinheiro japonês funcionou com plena capacidade. Uma das estações, em Duque de Caxias, não tratou nem uma gota de esgoto desde sua construção em 2000 até sua inauguração em 2014. Por 14 anos, não esteve sequer conectada à rede de esgotos.

A essa altura, a agência japonesa já tinha classificado o projeto como "insatisfatório", sem "nenhuma melhoria significativa na qualidade da água da baía". Como parte do seu projeto olímpico, o Brasil prometeu construir unidades de tratamento de residuos em oito rios para filtrar boa parte dos esgotos e impedir que toneladas de resíduos caseiros fluíssem para a Baía de Guanabara. Apenas uma foi construída.

As lagoas verdes fluorescentes que contornam o Parque Olímpico e que dados do próprio governo mostram estar entre as águas mais poluídas do Rio de Janeiro seriam dragadas, mas o projeto ficou preso em emaranhados burocráticos e ainda não começou.

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"As autoridades brasileiras, elas se prometeram a lua para sediar as Olimpíadas, e como é de praxe, não vão honrar com o seus compromissos", disse Mario Moscatelli, um biólogo que passou 20 anos lutando pela limpeza das águas do Rio de Janeiro. "Estou entristecido, mas não estou espantado."

Conforme o tempo avança, as autoridades locais reduzem suas promessas. O Governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, reconheceu que "para a Olimpíada não dá tempo" de terminar a limpeza da baía. O Prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que foi uma "pena" que as promessas olímpicas não tenham sido cumpridas, acrescentando que os jogos estão se mostrando "uma oportunidade perdida" no que diz respeito à qualidade das águas.

Mas o website do comitê organizador dos Jogos Olímpicos do Rio ainda afirma que um legado fundamental dos jogos será "a recuperação e proteção do patrimônio ambiental único da região, incluindo as baías e canais" em áreas onde os esportes aquáticos acontecerão.

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