Jason Day, o número 1 do golfe mundial, desiste de competir nas Olimpíadas do Rio e confirma o êxodo dos principais nomes da modalidade. Esvaziado, o torneio de golfe pode acabar sendo deficitário e, dentro do COI, membros já falam claramento que a história do esporte no movimento olímpico pode ser abreviada. Nos próximos dias, novos nomes do golfe podem ainda incrementar a lista de desistências.
Oficialmente, Day justificou sua desistência alegando que não gostaria de correr o risco de ser contaminado pelo zika vírus. "Esse é um risco potencial para futura gravidez de minha esposa e dos membros da minha família", anunciou. "Minha família sempre estará em primeiro lugar e especialistas médicos confirmaram que, ainda que pequena, a decisão de ira o Rio vem com riscos para a saúde", disse Day, que garantiu que disputar uma Olimpíada foi "sempre um objetivo".
Mas ele não é o único a abandonar o evento. Também da Austrália já desistiram Adam Scott e Marc Leishman. Os sul-africanos Branden Grace, Louis Oosthuizen e Charl Schwartzel também avisaram que não irão. Da Irlanda, os três principais atletas já abandonaram:Shane Lowry, Rory McIlroy e Graeme McDowell. Para completar a lista, Vijay Singh de Fiji também abandonou.
Muitos deles, em idade de ser pai, alegaram que não estaria dispostos a arriscar a saúde de suas esposas e filhos. Se nenhum outro atleta desistir, o melhor jogador de golfe no Rio será o sueco Henrik Stenson, apenas quinto no ranking mundial.
Mas, no COI, as desistências foram alvo de duras críticas, com acusações veladas de que o real motivo para a desistência não seria zika, e sim a preferência pelos grandes torneios da temporada, com prêmios milionários. "Vamos ver se haverá a mesma desistência quando o zika estiver presente no sul dos EUA", ironizou um dos membros do COI. Para uma parte da entidade, esses atletas apenas estavam esperando uma justificativa para não ira o Rio.
Um dos poucos a admitir que o problema não era o zika foi o americano John Isner. Segundo ele, foi a falta de um prêmio em dinheiro e de pontos para o ranking que o tiraram do evento no Brasil.Ao ter de escolher, ele teria dado prioridade a dois torneios - o British Open e o PGA – que vão ocorrer perto dos dias dos Jogos. E duas semanas depois, tem início a FedEx Cup, seguida pela Ryder Cup. Ao Estado, mesmo antes de saber da saída de Day, membros da alta cúpula do COI já alertavam que a modalidade corria "sérios riscos" de não existir por muito tempo e que já em 2024 poderia ser eliminado. Em Tóquio, em 2020, o programa já estaria fechado.
Barry Maister, membro do Comitê Olímpico Internacional, não poupou críticas ao falar com a rádio Newstalk ZB, da Nova Zelândia. "Não acho que o esporte deve continuar a fazer parte dos Jogos nesse cenário", disse. "Entrar apenas graças ao nome e depois colocar jogadores de segundo ou terceiro escalão não era a ideia do movimento olímpico". afirma.
Outra suspeita levantada pelos dirigentes seria sobre os exames de doping, muito mais rigorosos os testes feitos durante a temporada regular. Dick Pound, ex-diretor da Agência Mundial Anti-Doping, chegou a alertar no final do ano passado que o "golfe tinha problemas".
O irlandês Padraig Harrington, porém, acredita que o golfe deve ganhar a chance de ficar. "Somos atletas que temos carreiras longas. As pessoas que desistem hoje sabe que poderão competir em quatro ou oito anos", disse.
A história do golfe nos Jogos Olímpicos desde seu retorno, em 2009, foi marcada por polêmicas. A campanha pelo retorno da modalidade, depois de 112 anos, havia sido baseada na audiência que o COI poderia conseguir com televisões americanas, britânicas e japonesas mostrando o golfe durante os Jogos. O caráter elitista do evento também agradava aos diretores do movimento olímpico, em busca de prestįgio e grandes nomes.
Antes da desistência dos jogadores, o vice-presidente da NBC, Seth Winter, chegou a confirmar que a volta do golfe para a Olimpíada havia dado um força extra nas vendas de publicidade da emissora, que chegariam a US$ 1 bilhão. Mas, desde o início, o formato foi criticado pelos atletas, assim como o tamanho do campo. A construção proposta pelo Rio de Janeiro foi alvo de ataques, com ações na Justiça e as autoridades brasileiras alertando que não atenderiam todas as exigências, num local onde o golfe sequer é uma prioridade.
A recente onda de desistências, porém, foram ainda alvos de críticas de atletas profissionais de outras modalidades. Serena Williams afirmou ser "triste" ver tantos abandonando o evento. Michael Phelps, o atleta com mais medalhas olímpicas da história, também lamentou. "Todos estão desistindo, um por um. Ninguém quer ir", disse. "Mas eu estarei la em breve", completou.