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Favorita para 2024, Paris quer Olimpíada 'sustentável'

Franceses desejam realizar as competições em 93% de arenas já existentes

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Por Andrei Netto e correspondente em Paris
Atualização:

Para receber os Jogos Olímpico de 2024 sem quebrar as finanças públicas, multiplicar os estádios subutilizados e as arenas abandonadas, Paris se prepara para refundar o maior evento do esporte mundial. Se de fato concretizar a ambição de receber o evento dentro de sete anos, o que será decidido em setembro, em Lima, no Peru, a capital da França será a primeira a organizá-lo segundo a Agenda 2020 do Comitê Olímpico Internacional (COI). Trata-se da primeira tentativa séria de reduzir os custos da organização, que extrapolam há 30 anos.  Para tanto, a administração pública pretende realizar a primeira Olimpíada "ecológica" da história. Cem anos depois de receber o evento pela última vez, Paris enfim venceu a disputa, após quatro derrotas - a mais dolorida para Londres-2012. Com um projeto orçado em 6,2 bilhões de euros (R$ 23 bilhões), a capital francesa usará 93% de estruturas já existentes e construirá uma Vila Olímpica que, após os Jogos, será transformada em parte em habitações sociais para famílias de baixa renda. A ideia das autoridades é aproveitar o evento para, além de beneficiar Paris, completar a transformação da cidade de Saint-Denis, a cidade que foi epicentro dos protestos violentos de 2005.

Paris saberá em setembro se fará os Jogos em 2024 ou 2028, mas é favorito para receber evento daqui sete anos. Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters

O objetivo de respeito ao orçamento fixado e de uma organização respeitosa do meio-ambiente faz parte do caderno de encargos apresentado pela prefeitura de Paris, que lidera a candidatura. "Muitas cidades abandonaram a disputa, na Europa e além dela, porque as opiniões públicas não estão mais convencidas, mesmo que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos continuem a ser o evento planetário mais importante", reconhece a prefeita Anne Hidalgo, referindo-se às desistências de Boston, Roma, Hamburgo e Budapeste. As desistências abriram as portas para a vitória de Paris e Los Angeles para os Jogos de 2024 e 2028 - falta definir a ordem de realização dos eventos. Segundo a prefeita, Paris tem a ambição de realizar a primeira Olimpíada "ecológica" do mundo em respeito a dois tratados: a Agenda 2020, um documento com 40 diretrizes criado pelo COI para reduzir os custos da organização do evento; e o Acordo de Paris, que estabeleceu objetivos de redução das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. "Estes Jogos serão alinhados com o Acordo de Paris sobre o clima. Graças ao COI, nós vamos acelerar a transição energética e ecológica. Vamos provar que os Jogos podem ser ecológicos", frisa Anne Hidalgo.  Para tanto, a maior diretriz de Paris é a reciclagem - ou seja, o reaproveitamento quase total das infraestruturas já existentes na capital e em cidades limítrofes. Do orçamento apresentado na proposta de realização para 2024, uma única arena será construída: o centro aquático que será erguido ao lado do Stade de France, em Saint-Denis - a ser transformado em estádio olímpico para receber as cerimônias de abertura e encerramento e as competições de atletismo.  Da mesma forma, o ginásio de Bercy, no 12º distrito, receberá as competições de esportes coletivos, como basquete, handebol e vôlei. O Stade Jean Bouin, do clube de rúgbi Stade Français, receberá os jogos da modalidade. Roland-Garros e Parc des Princes, estádio do PSG - reformados com dinheiro privado -, receberão competições, assim como o Velódromo de Saint-Quentin-en-Yvelines e o Stade 92, do clube de rúgbi Racing, em Nanterre, ambos na periferia da capital. Até monumentos e parques de Paris, como o Grand Palais e o Hotel des Invalides ou o Champ de Mars, onde fica a torre Eiffel, serão adaptados para receberem provas.  "O conceito do projeto de Paris-2024 é fundado sobre um financiamento controlado", garante Tony Estanguet, tricampeão olímpico de canoagem e hoje copresidente da candidatura Paris-2024. Segundo ele, a única estrutura a ser construída, o novo centro aquático, terá função específica já determinada após os Jogos. "Ele responderá às necessidades de infraestrutura de Seine-Saint-Denis, onde 50% das crianças que chegam ao ensino médio não sabem nadar", explica. A ideia do reaproveitamento é reduzir ao mínimo o investimento público. O orçamento de Paris prevê 6,2 bilhões de euros (R$ 23 bilhões) em investimento, metade dos quais financiados por patrocinadores, bilheteria e COI. Na parte de investimentos, que responde por cerca de 3,2 bilhões de euros (R$ 11,6 bilhões) das estimativas, 1,7 bilhão de euros (R$ 6,2 bilhões) será custeado pela iniciativa privada para construir - sem dinheiro público - o novo bairro em que se localizará a Vila Olímpica. Pelos planos, restarão 1,5 bilhão de euros (R$ 5,5 bilhões) a serem pagos pelo Estado, pela região de Ile-de-France e pelas administrações municipais de Paris e Seine-Saint-Denis. Se concretizado, os Jogos de 2024 terão custado pouco mais da metade dos de Londres, em 2012  

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