Suspeito largou a escola e converteu-se ao islamismo

Alison, um dos presos por possível envolvimento com terrorismo, é descrito como caseiro. Colega diz que ele falava de Estado Islâmico e Alá

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Por Luciana Nunes Leal
3 min de leitura

SAQUAREMA - Preso por suspeita de envolvimento com um grupo terrorista na manhã de quinta-feira, Alison Luan de Oliveira, de 19 anos, mudou de vida no início do ano passado: deixou a escola pública onde frequentava o sétimo ano e converteu-se ao islamismo. Passava os dias em casa. “Só saía para comprar ração para os sete gatos dele”, disse o padrasto do jovem, na tarde desta sexta-feira.

“A gente aqui come arroz, feijão e salsicha. Como é que vai ter dinheiro para fazer uma bomba? Acho que isso tudo vai ser esclarecido. Alison é um rapaz quieto, na dele, excelente filho. Quando a polícia apurar tudo, vai ver que não tem nada disso, que é coisa de moleque”, afirmou o padrasto, que se identificou apenas como Sérgio. Ele explicou que não diria o sobrenome porque sua família, que vive em outro município, não sabe da prisão de Alison.

Suspeito preso pela polícia federal foi detido pelos agentes quando estava dormindo Foto: Fabio Motta/ Estadão

O padrasto diz que “monitorava” as atividades do enteado no computador. “Ele gostava de ver Netflix, seriado Heroes, nada mais. Eu monitorava porque o computador é meu. Agora, o que ele fazia no celular eu não sei. Aqui é cidade pequena, as pessoas já ficam falando que a família está envolvida. A família não tem nada a ver com isso. Ele é de família católica, virou muçulmano, tem que respeitar a religião das pessoas. Mas nunca falou nada de terrorismo, de Estado Islâmico, nada disso. Dizia que se comunicava com uma moça na internet. Aqui não tem mesquita, só uma vez ele foi a São Paulo em uma mesquita. Mas ele rezava todo dia, fazia o Ramadã (mês sagrado dos muçulmanos) dele”, conta o padrasto, catador de material reciclável, na porta da casa humilde, na localidade de Bacaxá, em Saquarema, na Região dos Lagos, a 70 km do Rio.

Antes de ser preso, Alison vivia com o padrasto e a mãe, Léa Oliveira, funcionária pública do município. Sergio disse que a mulher está com crise de pressão alta e assustada com todo o episódio. A família vai buscar ajuda da Defensoria Pública. “Não temos dinheiro para pagar advogado”, disse o padrasto. “Há um ano e meio ele deixou a escola e entrou na religião. Comprou um notebook, mas logo deu defeito e ele passou a usar meu computador. Já me perguntaram se ele saiu do Brasil alguma vez. Ele é caseiro demais, para ir na esquina comprar pão é uma dificuldade”, diz Sérgio. “Gostava de cuidar dos gatos”, contou Sérgio. “Disseram até que a polícia tinha sido violenta na hora da prisão, não é verdade. Estávamos dormindo, eles foram educados, mostraram o mandado de busca e apreensão e de prisão e esperaram o Alison tomar café”, disse o padrasto.

Em novembro do ano passado, Alison deixou também o emprego de empacotador do Gomes Supermercado, no bairro de Porto da Roça, a um quilômetro da casa do rapaz. Trabalhava nos fins de semana e ganhava diária de R$ 50. “Ele falava de Estado Islâmico, de Alá, mas a gente achava que era brincadeira. Uma vez ele disse que tinha ido para um desses países e tinha sido deportado, mas ninguém acreditava”, diz Moisés Leonardo Mesut, de 20 anos, há três funcionário do mercado.

Moisés conta que Alison era quieto e trabalhador. “Ele trabalhou aqui durante uns seis meses e todo mundo gostava muito dele, era sossegado”, diz. Dono e gerente do supermercado, Rômulo Gomes de Almeida, de 35 anos, disse que Alison usava “cabelo grandão” e tinha uma barba rala quando começou a trabalhar. “Eu disse que ele tinha que cortar o cabelo, e ele atendeu. Eu estava pensando em contratar para trabalhar todo dia, mas ele sumiu. Depois voltou, querendo trabalhar de novo, disse que tinha tido uns problemas”, diz Rômulo. “É um rapaz tranquilo, gente boa, não era de confusão”.

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Segundo Rômulo, há 15 dias surgiu um boato entre os funcionários do mercado de que a Polícia Federal estava atrás de Alison. “Era o que o pessoal dizia, mas na brincadeira. Nesta quinta-feira, um funcionário chegou dizendo que Alison tinha sido preso”, contou o dono do supermercado.