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Métrica do esporte: o sistema de contagem de tempo

Engenharia garante a precisão dos resultados, mas o mau funcionamento pode causar transtornos

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Por Gustavo Zucchi e Igor Ferraz
Atualização:

O ano era 1992. O jovem nadador brasileiro Gustavo Borges, então com apenas 19 anos, se preparava para nadar a final dos 100 metros livre ao lado dos atletas mais rápidos do mundo na Olimpíada de Barcelona, em 1992. Após tocar o fim da piscina, erguer a cabeça e olhar o placar, uma grande decepção tomava conta de Gustavo: 5º lugar, sendo que seu tempo sequer estava contabilizado. Mal sabia ele, naquele momento, que havia feito história.

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Por uma falha no touchpad da piscina, o placar deixou a cronometragem de Gustavo em branco durante minutos. Quando divulgado, o tempo apontava 1m02s, colocando o brasileiro em último lugar e gerando revolta entre a equipe do nadador, a torcida brasileira e sua família, que assistia da arquibancada. A olho nu, era claro que Gustavo havia chegado junto ao bloco dos competidores. “Está claro que ele conseguiu, no mínimo, o terceiro lugar”, bradou o presidente da CBDA à época, Coaracy Nunes.

Uma segunda revisão foi feita, colocando, agora, o brasileiro em quarto lugar, com a marca de 49s53, bem abaixo dos 1m02s divulgado previamente. Gustavo permanecia indignado, sentado à beira da piscina de aquecimento com as mãos na cabeça. Até que, 40 minutos depois da prova, veio o tempo oficial: 49s43. Gustavo Borges era medalha de prata em Barcelona.

Gustavo Borges sofreu com a cronometragem na Olimpíada de Barcelona, em 1992 Foto: Fabio M. Salles|Estadão

“A expectativa era ganhar uma medalha. Estava bem treinado e preparado para isso. Na prova, o fator da cronometragem foi terrível. O placar eletrônico não funcionar em uma situação como esta é praticamente inadmissível. Eram quase 12 segundos a mais”, lembra Gustavo Borges, que ainda ganharia mais três medalhas olímpicas: duas em 1996 (de bronze e de prata) e uma em 2000 (de bronze).

“Estava na piscina de aquecimento quando começou a comoção geral, pessoas gritando, repórteres comemorando… Foi uma medalha muito sofrida, afinal, ganhamos poucas naqueles Jogos. Vi aquela algazarra na área dos repórteres, ouvi os gritos de ‘é prata!’, saí correndo e fui buscar a minha medalha. Acho que foi uma das mais importantes. Por toda a história, o contexto, a representatividade… É uma história gostosa de ser contada e foi um marco na minha carreira. A Olimpíada de 1992 tem um gostinho especial, apesar de meu melhor desempenho ter sido em 1996”, afirma Gustavo.

Este episódio serve para retratar a importância do bom funcionamento dos aparelhos de cronometragem, principalmente em um ambiente de Jogos Olímpicos, em que resultados e até medalhas, como no caso de Gustavo Borges, podem acabar sendo comprometidos.

Boa parte dos aparelhos que são utilizados atualmente no auxílio aos árbitros nos Jogos Olímpicos foram inventados há décadas. Porém, isso não quer dizer que tenham se tornado obsoletos. Pelo contrário, eles ainda são referências nas métricas do esporte e vêm sendo constantemente aprimorados para garantir uma maior isonomia de resultados. “Decisões de olho humano foram retiradas dos Jogos desde a década de 40. Agora, temos a precisão das máquinas”, afirma Alain Zobrist, CEO da Omega, empresa de relógios manufaturados que fornece contadores ao Comitê Olímpico Internacional desde a Olimpíada de Los Angeles, 

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“É verdade que a cronometragem eletrônica fez uma grande diferença. O olho humano obviamente tem limitações para a cronometragem. Mas nós continuamos dependendo do senso humano para concepção, engenharia e operação do equipamento. Graças a isso, os juízes têm agora toda as informações de que precisam para entregar as decisões corretas”, finaliza Alain. Comprometida em continuar evoluindo suas mecânicas e garantindo precisão nos resultados, a Omega tem contrato com o Comitê Olímpico Internacional e continuará a cronometrar as provas das Olimpíadas até a edição de 2020, que acontecerá em Tóquio.

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