Como é seu hábito nas pistas, Usain St. Leo Bolt deixa os outros atletas muito para trás também no mundo virtual. O homem mais rápido do mundo é o mais popular entre seus colegas olímpicos com conta do Twitter. De longe. Seus tuítes são seguidos por 54% mais atletas que estão no Rio para a Olimpíada do que o segundo colocado, o nadador Michael Phelps (EUA).
Dos 3.098 atletas olímpicos presentes no Rio e na rede virtual, 541 seguem Usain Bolt. Quase um a cada cinco. Por comparação, “apenas” 352 seguem o multimedalhista Phelps, e 333, o tenista espanhol Rafael Nadal.
No público em geral, Neymar Jr. é o mais popular, com 23,6 milhões de seguidores. Bolt tem 4 milhões. Mas, entre os atletas, o jogador brasileiro fica em um modesto 21º lugar, com 126 seguidores. Ele tem 26% da popularidade de Bolt.
É uma prova de que, para os próprios esportistas, Bolt é a maior estrela dos jogos, sem contestação - pelo menos enquanto as medalhas não começam a ser distribuídas. Talvez por isso, Bolt tenha optado por ficar longe da Vila Olímpica e se hospedou na distante Ilha do Governador, mais perto do seu campo de treinamento. Bem longe do assédio dos outros atletas. Sim, porque os atletas também têm seu momento de tiete.
Nos Jogos de Londres, em 2012, Bolt recusou-se a tirar uma foto com o capitão da seleção argentina de handebol, Gonzalo Carou. E este não se vexou em publicar a história no próprio Twitter. Melhor sorte teve o goleiro da seleção de hóquei sobre a grama da Bélgica, Vincent Vanasch, no Rio. Ele tuitou uma foto sorridente ao lado de um Bolt carrancudo, tirada na sexta-feira à tarde, na Vila Olímpica. E ainda comentou: “Privilégio olímpico”. Como se vê, “fã” e “estrela” são conceitos relativos.
Tão ou mais interessante quanto classificar os atletas por sua popularidade é entender como eles se relacionam. O Estadão Dados, em parceria com o Twitter, fez um levantamento das contas dos olímpicos na rede social. Depois, capturou todos os “amigos” dos atletas, ou seja, as contas que eles seguem no Twitter. Essa é uma medida mais reveladora do que o número de seguidores, por exemplo, porque implica uma ação do atleta. Seguir alguém é um ato voluntário. Ele não escolhe quem o segue.
Em seguida, o Estadão Dados cruzou todos os amigos comuns e mapeou as relações sociais entre os atletas olímpicos. O resultado pode ser visto nesta página, no gráfico de redes. Os pontos maiores são os atletas com mais seguidores que também são atletas. As cores revelam seu esporte. E a posição no gráfico, a sua centralidade na comunidade olímpica. Assim, percebe-se que Bolt não apenas é o mais seguido, como é a mais central das estrelas olímpicas. Ele transcende o seu esporte, o atletismo.
Isso porque, como fica evidente no gráfico, a modalidade que disputam é o principal elo entre os atletas, mais forte até do que sua nacionalidade. Atletas do hóquei, por exemplo, têm uma comunidade quase à parte, no canto inferior esquerdo do gráfico. Seguem-se uns aos outros, mas são pouco seguidos por outros esportistas. Os praticantes do atletismo também formam uma comunidade coesa, mas eles têm mais seguidores de outras modalidades e acabam brilhando mais do que os do hóquei.
A comunidade da natação também é forte, com astros de primeira grandeza, como Phelps, Ryan Lochte e Missy Franklin. Mas em meio a eles se misturam estrelas do tênis, como Rafael Nadal e Novak Djokovic. Isso quer dizer que tenistas e nadadores compartilham muitos seguidores de seus e de outros esportes.
Outra característica da constelação olímpica é que, entre eles próprios, os protagonistas de esportes individuais têm muito mais fama do que os expoentes dos esportes coletivos. Neymar Jr. e a jogadora da seleção norte-americana de futebol feminino Alex Morgan são estrelas de segunda grandeza e laterais na comunidade de atletas olímpicos. O mesmo acontece com astros do basquete dos EUA, como Kevin Durant e Carmelo Anthony. Têm milhões de seguidores entre os fãs mortais. Mas, entre os frequentadores do olimpo esportivo, são quase pessoas comuns.
