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Operário morre e outro tem perna amputada na desmontagem de instalações da Rio-2016

Comitê diz que responsabilidade é das empresas contratadas para realizar os serviços 

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Por Rodrigo Viga Gaier (Reuters)
Atualização:

Um operário morreu e outro perdeu uma perna em acidentes durante a desmontagem de equipamentos dos Jogos Olímpicos do Rio, informou nesta quarta-feira à Reuters uma fonte próxima ao assunto, que teme por novas ocorrências devido a dificuldades enfrentadas por prestadores de serviço em meio a atrasos no pagamento do Comitê Rio-2016. O Rio-2016 confirmou os acidentes e a morte de uma pessoa, e disse que a responsabilidade por possíveis falhas é das empresas contratadas para realizar os serviços.  Segundo a fonte, que trabalha para uma empresa contratada e pediu anonimato, a segurança dos trabalhadores está fragilizada e ameaçada desde que o Comitê dispensou recentemente mais de 100 fiscais de segurança do trabalho que seriam responsáveis por acompanhar a desmontagem de instalações dos Jogos.

Arena do Vôlei de Praia ficará localizada em Copacabana Foto: Divulgação

Nos últimos dias, um operário morreu eletrocutado num canteiro de apoio montado nas proximidades de um shopping da zona oeste do Rio de Janeiro, no chamado polo da Barra da Tijuca, e outro teve uma perna amputada depois de se envolver em um acidente com um poste de luz que fazia parte da arena de vôlei de praia, em Copacabana. O diretor de comunicação do Comitê Rio-2016, Mario Andrada, disse que os acidentes ocorreram por possíveis falhas nos canteiros, que são de responsabilidade dos contratados pelo Comitê para realizar a desmontagem dos locais dos Jogos. "A gente não tinha nenhum controle sobre essas ocorrências; foram em instalações nossas em operações terceirizadas e nos dois acidentes ocorreram erros primários", afirmou. "A culpa não é nossa, é de quem contrata os funcionários, seja ele de menor ou maior qualidade." Para o Ministério Público do Trabalho, o Comitê não pode se eximir de responsabilidades por ter terceirizado os serviços dos Jogos. "Quando você contrata um terceirizado, você tem que fiscalizar e ficar atento para saber se está cumprindo a lei... contratar alguém menos preparado e qualificado. No fim das contas, chegando ao Judiciário, há responsabilização sim do contratante (Comitê)", afirmou à Reuters a procuradora do MPT Viviann Mattos. A fonte argumenta que os acidentes podem estar de alguma forma relacionados ao atraso do Comitê Rio-2016 no pagamento de alguns fornecedores e prestadores de serviço contratados para atuar nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Segundo a fonte, é natural que com o atraso, as empresas passem a empregar pessoas menos capacitadas e a usar equipamentos mais baratos, o que aumenta o risco de acidentes.   "A Olimpíada foi um sucesso, mas o pós eu temo que possa terminar em tragédia. Temo que mais acidentes ocorram, ainda tem muito trabalho em altura e perigoso", declarou a fonte à Reuters. "Há menos fiscalização com a segurança do trabalho, já que mais de 100 foram demitidos. Há uma pressa das empresas em finalizar a desmontagem para executar novos serviços para outros clientes e há uma desmotivação de quem trabalha, que não sabe quando vai poder receber", acrescentou.Sem calote. Na última quarta-feira, funcionários de uma empresa terceirizada fizeram um protesto na porta do Comitê, no centro da cidade, para chamar a atenção para os atrasos. Procurado, o Comitê Rio 2016 admitiu que há uma descontinuidade no pagamento de alguns prestadores de serviço, mas o diretor de comunicação garantiu "que não haverá calote" a nenhum fornecedor. Andrada argumentou que os atrasos pontuais têm a ver com a elevada desmobilização de contratados pelo Comitê, que no momento trabalha com cerca de 400 pessoas que não estariam dando conta de atender os pagamentos dos mais de 20 mil fornecedores que atuaram nos Jogos. "O número de fornecedores é muito grande, as medições dos contratos são muito complexas. Temos recursos grandes para receber do COI (Comitê Olímpico Internacional) e patrocinadores em novembro e vamos honrar todos os compromissos", disse ele. O Comitê garante que vai fechar as contas dos Jogos no "zero a zero" e rechaçou uma correlação entre os atrasos nos pagamentos e um risco maior para a operação de desmontagem das arenas e equipamentos. "É muito cômodo para o prestador de serviço dizer que a culpa é do Comitê. A gente contratou empresas e o fornecedor que tem que cuidar do seu funcionário. Não tem fluxo de caixa que justifica um fornecedor deixar seu funcionário trabalhar sem segurança", disse Andrada. Antes do Jogos, a Superintendência Regional do Trabalho já havia chamado a atenção para irregularidades na preparação do evento que resultaram na morte de 11 pessoas. As mortes aconteceram em obras de instalações ou de legado dos Jogos entre os anos de 2013 e 2016. As ocorrências foram registradas em obras como linha 4 do metrô, vias expressas, museus e outros. "Se fôssemos deixar simplesmente na mão dos organizadores, o que a gente ia ver da parte dos organizadores era uma espécie de lavar as mãos", disse a procuradora do MPT.

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