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Pokémons invadem os Jogos do Rio

Barra da Tijuca e Vila Olímpica já vivem a corrida pelos monstrinhos que, ainda, não dão medalha

Por Monica Manir
Atualização:

Foi só descer do prédio, quase em frente de um BRT, pra sacar que um garoto olhava muito além do recém-inaugurado Bus Rapid Transit. Seu foco era um Pokemón dando sopa naquele pedaço da Barra, monstrinho que ele via por meio do seu iPhone 5S. Pedro Gondinho, o garoto, tem 17 anos e mora no condomínio Cidade Jardim. Pokémon, o game, tem 21 anos e sua versão Pokémon GO foi lançada no Brasil ontem.

Tirando um tropecinho no servidor, foi fácil para Pedro baixar o aplicativo. Desceu do 17.º andar, onde mora, e começou a perambular pelo condomínio, dando de encontro com outros que há muito esperavam o sinal verde para iniciar a caça. Doze horas depois, ele cativara 100 criaturas, mas 78 delas eram repetidas. “Tudo bem, dá para evoluir mesmo assim.” Além disso, evoluiu no exercício. Já tinha andado quilômetros de skate atrás dos bichinhos – e já se impacientava como aquele PokéStop involuntário. “Olha ali, ó, tem outro atrás de Pokémon.” 

Fernando Pasche, funcionário do Comitê Olímpico do Brasil (COB), caça Pokémons no aplicativo recém-lançado no Brasil Foto: Wilton Junior/Estadão

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O outro era Bernardo Novaes Herdy, 14 anos, escudo do Flamengo no peito, que tinha acabado de capturar um Krabby e tentava turbiná-lo numa academia de ginástica, meio em vão. Vibrava mesmo com um Haunter, cuja evolução “é muito mais rápida”. Bernardo já tinha uns 70 Pokémons, “mas tem gente que tem muito mais”. Entre suas conquistas estava um Pikachu - e foi ouvir esse nome pra eu achar que não navegava assim em terreno tão desconhecido.

Entre as grades do condomínio Bernardo me ajudou a baixar o aplicativo. Logo vi que não entendia pikas daquilo. Mas que não desistiria assim fácil, já que o convite de um certo Willow, professor virtual de Crocs e jaleco, me daria o passo a passo. Bernardo me largou, e não andei 50 metros para cruzar com Nicholas Smith, 22 anos, e um amigo de 27, ambos de bike e ambos atrás dos monstrinhos. Nicholas ajustou uma trava de bicicleta que transpassava nas costas e já foi falando do Voltorb, Pokémon do tipo elétrico, que tem um ataque de autodestruição muito potente.

“É o que a gente tem feito com o Brasil”, filosofou. “Essa democracia que não representa o povo, a falta de infra no Rio, BRT às pressas...” Animes não são tão inúteis quanto se pensa, continuou. “Meu pai usa de Darth Vader a Barbie para explicar a logística dos sistemas.”

Pokémon, por exemplo, ajudaria a trabalhar em equipe. No nível 5, Pokémons lendários como Articuno e Zapdos ensinam a importância do trabalho coletivo. A única coisa que preocupa Nicholas é a facilitação do trabalho coletivo da bandidagem. “A gente quer jogar na rua, mas isso vai facilitar os roubos de celular; meu amigo ali já teve três levados por assaltantes, e antes de liberarem o game.”

Os dois queriam saber como estava a reação dos atletas à liberação, e eu também. Segui na direção da Vila, com eles na cola em cima das bikes. Cheguei surpreendentemente antes e perdi contato com os caçadores, porque, a partir de certo ponto do caminho, não entra ninguém sem credencial. Na verdade, nem com. Foi uma hora e meia na fila de entrada da imprensa, com jornalistas de países tradicionalmente cordiais se transformando em monstros irados, falando mal da organização, querendo saber por que o pessoal de TV passava na frente do impresso, comendo como Pacman o exíguo espaço entre um e outro. 

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Aproveitei para configurar a minha figura no jogo. Escolhi a moça padrão, a quem dei o nome de Pokémonica. Devo ter sido muito óbvia, porque só depois de uma conjunção de números na frente do nome consegui ser liberada para existir. Ficamos nos alongando no mesmo lugar, eu e meu avatar. Não era hora de ir a lugar nenhum, com toda aquela gana pelo crachá de acesso. Mas na área da Vila permitida aos jornalistas me soltei, sem, contudo, encontrar um monstrinho que fosse. Aliás, mal encontrei um caçador entre os atletas que por ali circulavam.

A maioria disse que não sabia que o jogo tinha sido liberado no Brasil. Outros, que não tinham plano de dados no celular. Uma atleta da Finlândia disse que jogava, mas não fazia questão de gastar o tempo dela com isso agora. Dois chineses disseram que não alimentavam o hábito de jogos assim, dependentes de GPS, porque no país deles essa liberdade toda não existe. Um fisioterapeuta da Eslovênia chamou o jogo de “silly”, bobo. Perguntei a idade dele: 35 anos. “Mostrei pra minha filha de 6 anos, e ela também achou o jogo ‘silly’”. Apontou para algo no céu: “Olha um ali”. E gargalhou, junto com mais três da delegação, numa piada que não evoluiu.

Caça oficial - No Comitê Olímpico do Brasil (COB), Fernando Pasche, 22, teve dificuldade em conter a ansiedade no fim da tarde de quarta-feira. “Eu estava trabalhando quando anunciaram a liberação do jogo. Baixei no mesmo momento e não via a hora de acabar meu horário para ir caçar Pokémon. Fiquei em êxtase”, contou. Estudante de publicidade, ele está reforçando a equipe de mídias sociais do COB na Olimpíada. Agora, ocupa as horas fora do comitê para caçar os monstrinhos.

“Peguei o ônibus depois do trabalho e já saí caçando. Cheguei em casa e minha mãe falou para eu parar, porque eu ia de um lado para outro procurando Pokémon”, divertiu-se. “Sou fissurado em Pokémon desde a minha infância. Tive três festas de aniversário com o tema. Quando vi que iam lançar o jogo, voltei no tempo na hora.”

A chegada do aplicativo no Brasil também mexeu com o coração olímpico de Pasche. Isso porque, além de trabalhar para o COB, ele é namorado de Maria Clara Lobo, atleta da equipe do nado sincronizado do Brasil.

No dia 18, Maria Clara estará na piscina do Parque Aquático Maria Lenk. O namorado vai estar na arquibancada. Mas já avisou: “Não tenha dúvida: vou estar concentrado nela na piscina, mas também de olho nos Pokémons em volta. Deve estar cheio lá no Maria Lenk”.

Gabriela não caçou nenhum nesta quinta-feira Foto: Wilton Junior/Estadão

A gaúcha Gabriela Bristot Boff, 23, formada em Relações Internacionais, viciou-se em Pokémon há 16 anos. “Comecei a jogar aos sete anos. Aos dez, joguei no Gameboy (videogame portátil) por mais de 100 horas”, disse ontem, na área internacional da Vila Olímpica, onde trabalha como voluntária. Aproveitou a passagem por lá para tentar caçar alguns, mas não conseguiu. “Já joguei mais de 300 horas (em videogames ou jogos online), e pago todos os anos para ter uma conta no Banco Pokémon, da Nintendo, para armazenar todos os meus Pokémons online”, explicou. Colaborou Marcio Dolzan

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