Um em cada quatro atletas do Brasil treina no exterior para Olimpíada

Busca por competitividade é o principal fator de imigração

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Por Nathalia Garcia e Paulo Favero
3 min de leitura

Em busca do sonho de se tornar campeão olímpico, um em cada quatro atletas decidiu ultrapassar a fronteira do Brasil. Levantamento feito pelo Estado mostra que a estratégia foi adotada por esportistas de 19 das 42 modalidades que serão disputadas nos Jogos do Rio. Apesar de alguns nomes ainda não terem sido confirmados, o mapeamento faz uma projeção dos esportistas que devem representar o País a partir do dia 5 de agosto. Os brasileiros estão distribuídos em 21 países, mas a maior concentração ocorre nos Estados Unidos e na Itália. A procura por competitividade é o principal fator para a ida ao exterior. Esse é o caso do nadador Thiago Pereira, que se mudou para Los Angeles pela segunda vez em 2014. "Nos Estados Unidos é muito fácil ter oportunidade de nadar com (Michael) Phelps e com Ryan (Lochte). Pego um voo de uma ou duas horas e estou em uma competição que eles estarão", diz o medalhista olímpico do Minas Tênis Clube.

Após temporada na Turquia, Sheilla está em Saquarema com a seleção Foto: Marcelo Régua|Inovafoto|CBV

A escassez de competidores com resultados expressivos atinge principalmente esportes com menos tradição no Brasil, como a esgrima. Às vésperas de sua quarta Olimpíada, Renzo Agresta treina ao lado de representantes da seleção italiana, em Roma. "Se o Brasil tivesse alguns atletas com o mesmo nível dos adversários que tenho na Itália, não precisaria morar aqui", avisa.  A Confederação Brasileira de Esgrima possui um acordo de cooperação com a federação italiana da modalidade desde 2010. Além de Renzo, os esgrimistas Athos Schwantes e Guilherme Toldo vivem no país. Nos Jogos do Rio, o Brasil voltará a ter um representante no ciclismo de pista depois de 24 anos. E Gideoni Monteiro se prepara para o desafio no Centro Mundial de Ciclismo, em Aigle, na Suíça. A decisão foi tomada em conjunto pela comissão técnica do atleta da categoria Omnium e pela Confederação Brasileira de Ciclismo, que possui uma parceria com a União Ciclística Internacional. "Aqui posso fazer as mesmas corridas que meus adversários. Posso testar minha evolução e ter um parâmetro em relação ao desempenho dos outros", explica Gideoni. O ciclista acredita que a pacata cidade de Aigle permite que sua vida esteja totalmente voltada para a preparação para a Olimpíada. Essa "sumida" também é vista como positiva por Thiago Pereira. O nadador destaca que em Los Angeles consegue se manter concentrado apenas nos treinos. Para ele, a repercussão da Olimpíada é constante no Brasil e catalisa a ansiedade dos atletas. "A gente começa a viver os Jogos Olímpicos muito antes." A bicampeã olímpica de vôlei Sheilla aceitou o desafio de atuar na Turquia e não se arrepende da escolha. "Foi uma temporada muito positiva na qual pude trabalhar o meu físico. Joguei por uma grande equipe e disputei um dos campeonatos mais fortes do mundo, que é a Champions League. A Turquia está crescendo muito no vôlei e hoje tem uma das ligas mais fortes. O intercâmbio entre jogadoras é muito grande nas ligas da Europa." Difundido nas escolas, o handebol enfrenta dificuldade na profissionalização. Os resultados da modalidade começaram a aparecer depois da ida dos atletas aos países europeus. O desenvolvimento da seleção feminina só foi possível graças ao convênio entre a Confederação Brasileira de Handebol e o time austríaco Hypo, que durou três anos. O primeiro título mundial, conquistado em dezembro de 2013, coroou esse investimento. Uma das pioneiras no processo migratório foi a pivô Dani Piedade. Depois de mais de dez anos na Áustria e dois anos na Eslovênia, ela disputa a segunda temporada no Siófok KC, da Hungria. "Temos uma estrutura muito melhor. Sinto falta de ter uma liga com mais equipes no Brasil, a gente ainda precisa de muito para chegar ao profissional", lamenta. O polo aquático vive uma situação semelhante. A pedido do técnico croata Ratko Rudic, os atletas deixaram o País para ganhar bagagem. Com esse objetivo, Gustavo "Grummy" disputa a Liga Italiana pelo Trieste. A vida pessoal, entretanto, também pesa na escolha. Erica Sena, da marcha atlética, mudou-se ao Equador para viver ao lado do marido Andrés Chocho.