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Feijão mira ATPs e quer chance na Copa Davis em 2015

​Paulista usa frustração de ausência nos playoffs do Grupo Mundial para construir sequência sólida no ano

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Por Redação
Atualização:

Se Thomaz Bellucci emplacou uma sequência de bons resultados no segundo semestre, depois de ajudar o País na Copa Davis, e retornou ao top 50, João Souza, o Feijão, não fez por menos. O número 2 do Brasil aproveitou como pôde a maré, mesmo após ser preterido na equipe nacional para a Copa Davis. Com desempenho satisfatório em Challengers, ele conquistou novamente um lugar entre os 100 melhores do mundo (está em 92.° nessa semana). O caminho para a evolução se construiu na aposta de um psicológico mais aguçado para superar percalços e desafios, como a própria ausência no confronto diante da Espanha válido pelos Play-offs do Grupo Mundial, em setembro.

Em entrevista ao Estado, o paulista de 26 anos diz que sua meta para 2015 vai além de um lugar no top 100 (ele já foi 84.° em setembro de 2011). Uma sequência de torneios de primeira linha é almejada para o começo do ano, incluindo a segunda participação na chave principal do Australian Open, para que se consolide de vez como segundo principal nome do País. A Copa Davis ficou para trás, sem ressentimentos, mas com certa mágoa, ou incerteza para compor o grupo que enfrenta a Argentina pelo Grupo Mundial na próxima temporada. "Se o capitão (João Zwetsch) me chamar, estarei de coração aberto para defender o Brasil”, garante o paulista natural de Mogi das Cruzes.

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Desde a série de torneios Challenger no fim de junho, você obteve resultados consistentes em várias semanas seguidas. Foram três finais e quatro semifinais, além de ter furado o qualifying do ATP 250 de Kitzbuhel. O que evoluiu no seu jogo ao longo desse ano?

Acredito que a parte mental. Nunca antes tinha viajado seguidamente com meu psicólogo. Viajamos umas seis, sete semanas juntos, fomos para Europa e ele estava comigo também na Argentina. Percebo que já estou bem melhor na parte mental, mas tenho certeza de que posso evoluir ainda mais. De repente, amadureci um pouco também. Sou um jogador mais velho agora, tenho 26 anos e mais experiente. Mas se houve algo na minha rotina que mudei fora de quadra, foi cuidar mais do lado psicológico.

Você tocou no aspecto mental. No começo do ano, veio o título no Aberto de São Paulo, mas logo depois você se machucou no Brasil Open e precisou ficar parado por dois meses. O quanto o lado psicológico ajudou naquele momento?

Ali foi muito azar, porque vinha jogando bem e estava confiante. Fiquei triste, porque havia bons torneios para jogar e não tinha muitos pontos para defender. Foi muito difícil superar aquela fase. Tanto que demorei uns três meses para voltar a jogar bem, que coincidiu com meu giro pela Europa. Mas isso faz parte da nossa carreira e temos de saber tirar proveito disso. Esse ano significou uma mudança para mim, troquei meu preparador físico após dez anos. E agora estou plantando o que colhi.

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Geralmente, o tenista brasileiro demora um pouco mais para chegar ao auge do seu nível. Você começou a jogar o circuito em 2005, mas só agora conseguiu bons resultados em sequência. Na sua opinião, por que o brasileiro leva mais tempo para amadurecer em comparação aos europeus e americanos.

Se olharmos o ranking, hoje são poucos jogadores que estão despontando. Está ficando cada vez mais natural essa faixa etária dos 24, 25 anos (para o tenista adquirir seu auge de amadurecimento). Dá para contar nos dedos quem são os jogadores de 23 anos ou menos que estão no top 100. O diferencial do brasileiro para o europeu é que ele tem maior facilidade, acaba viajando menos, porque lá há mais torneios do que aqui. Você pega um voo de 1 hora e já está jogando em outro país. Mas isso hoje não é tanto o diferencial porque temos muitos torneios também na América do Sul.

Então, por que você demorou para obter essa boa maré?

No meu caso, acabei viajando sozinho muitas vezes, senti um pouco da pressão, acabei fazendo algumas escolhas erradas, pelo fato de ser mais novo. E o top 100 acabou vindo quando tinha 23 anos. Já em 2014, inovei ao viajar com meu psicólogo. Foi uma experiência importante, porque a cabeça que tenho hoje não é a mesma quando tinha 20, 21 anos. Reagia de forma diferente nas vitórias, derrotas, nos treinos e não dava o merecido valor para o lado mental. Hoje já vejo o quanto isso é importante para meu jogo. Se tivesse dado valor com 20 anos, quem sabe não subiria mais rapidamente.

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Com exceção das fases classificatórias de Wimbledon e US Open, além do Aberto de São Paulo, você construiu seu calendário especificamente no saibro. Isso foi planejado graças à sua melhor adaptação ao piso lento?

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Na verdade, já estou acostumado a jogar mais no saibro. Na Europa, o jogador tem mais opção de atuar em torneios no piso. Naquele giro, joguei Interclubes na Alemanha, também no saibro, e como estava bem, não tinha muita visão de mudar para a quadra dura. Uma coisa foi levando à outra e planejei os torneios sem um calendário específico. É lógico que se o jogador melhora seu ranking, acaba optando por jogar os torneios no piso rápido. Mas agora no fim do ano, não tinha o porquê de ir para Europa e jogar os qualifyings dos ATPs na quadra coberta. E como 95% dos torneios na América do Sul são disputados no saibro, fiquei praticamente sem alternativa. Tinha de defender alguns pontos no ranking e a maioria dos Challengers daqui são no saibro.

E isso não prejudica o seu jogo no piso mais rápido?

Já estamos acostumados com a transição do saibro para o piso rápido. Se houvesse mais torneios na quadra de grama, por exemplo, até pensaria em alterar meu calendário. Mas acho que, hoje em dia, a mudança para a quadra dura não é tão radical. Muitas vezes a quadra dura está tão lenta que parece que estamos jogando no saibro. Nem parece o piso rápido de antigamente. Meu processo de adaptação de um piso para o outro sempre foi tranquilo e meu jogo cai bem no piso rápido. Para o Aberto da Austrália em janeiro, por exemplo, não terei problema algum, já que vou fazer uma pré-temporada de quatro, cinco semanas na quadra dura.

Nos últimos anos, reclamou-se da ausência de um número 2 do Brasil consolidado para a Copa Davis. Para você, essa sequência de resultados te credita como o favorito para jogar as simples ao lado do Thomaz Bellucci na série contra a Argentina em 2015?

Copa Davis é um tema mais delicado. É obvio que, pelo ranking e resultados, muitos especialistas que entendem de tênis provavelmente me chamariam. Mas depois desse fato contra a Espanha, não sei muito bem o que pode acontecer. Mas, com certeza, estarei preparado. Se ele (João Zwetsch, capitão do Brasil na Copa Davis) me chamar, estarei de coração aberto pelo Brasil, enfim, vou dar meu máximo. Mas não dá para saber se vou ser chamado. Eu acho que, em termos de merecimento, seria o nome a ser chamado para jogar contra a Argentina.

Apesar de toda a frustração de não ter sido convocado diante da Espanha, você se mantém disponível para jogar a Copa Davis?

Com certeza. Até porque dessa vez acho que foi uma coisa mais política. Depois do confronto, o João nunca me ligou nem me buscou para falar o motivo da minha ausência. Nunca mais nos falamos depois dessa série na Copa Davis. Mas se ele me chamar no ano que vem pelo Grupo Mundial, não tenho motivos para não jogar. A escolha contra a Espanha foi de responsabilidade dele, e se ele achar que tenho de jogar contra a Argentina, vou aceitar numa boa.

Mas antes do confronto com a Espanha, ele te explicou os motivos para não ter te chamado?

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Não. O que ele falou foi só aquilo que foi divulgado na imprensa. Falou que eu não tinha preparo físico. Na cabeça dele, o Rogerinho tinha atuado muito bem contra a Rússia (pelos Play-offs do Grupo Mundial em 2012) e já tinha provado a condição para jogar. Além disso, disse também que o Rogério tinha feito um jogo contra o (canadense Vasek) Pospisil no US Open, de cinco sets, e deixou claro que ele era, vamos dizer, o talismã deles. E estava merecendo mais do que eu, independentemente dos resultados dele. A princípio, ele tinha falado que seria o (Guilherme) Clezar que jogaria de titular contra a Espanha. E creio que, pelo fato de eu o ter vencido em Medellín (Feijão venceu Clezar por 6/4 e 6/4 nas quartas de final uma semana antes de Zwetsch definir o segundo simplista para o confronto), ele não teve coragem de colocá-lo. Então, ele acabou indo mesmo com o Rogerinho.

Falando do aspecto físico, você jogou várias partidas que foram decididas no terceiro set e que tiveram longa duração no segundo semestre. Como avalia o seu condicionamento?

Estou super bem. Sem lesão, sem nada. Estou mais magro, me mexendo melhor, me cuidando mais. Estou perto do meu auge em questão de físico, mas isso acabou sendo a desculpa dele (Zwetsch), que não tinha preparo físico. O que posso fazer? Quem vai mudar a cabeça dele?

O relacionamento com o João foi sempre bom?

Sempre foi muito bom. Nunca tive problema com ele, nem com o Clezar. E muito menos com o Rogerinho, aliás, sempre fomos bons amigos a vida toda.

Quando o jogador está bem e não é convocado para a Copa Davis, muitas vezes se abala e cai de produção. Mas com você aconteceu o contrário. Como conseguiu manter a motivação em alta?

Fiquei muito triste por não ter sido chamado, acabei me sentindo injustiçado com toda a repercussão. Mas, sinceramente, tudo isso me fez ficar ainda mais motivado, me trouxe muito mais força. A série que fiz, final de um torneio, semifinal no outro, outra semifinal na semana seguinte, pô, poucos conseguem fazer isso. Então só tentei tirar o lado positivo disso, e me motivar. Era a única alternativa, porque não podia me abalar com o que passou.

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Você ainda tem o Challenger de Guayaquil e o ATP Tour Challenger Finals pela frente. Mas sem pontos para defender. Está confiante em bater seu melhor ranking da carreira (Feijão chegou a ser 84.° do ranking em setembro de 2011)?

Para ser bem sincero, o número 84 não é uma meta. É uma questão de tempo para superar esse ranking. Mesmo se eu não fizer nenhum ponto nesses dois últimos torneios, chegar a 84.° não é meu objetivo. Quero terminar o ano com o ranking mais baixo possível, mas nem procuro pensar nisso. Estou pensando em metas ainda maiores.

Quais são, então, suas metas? Você pretende arriscar mais os ATPs ou vai mesclar o calendário com Challengers em 2015?

Se houver o Aberto de São Paulo (o calendário da ATP ainda não confirmou a realização do torneio para janeiro) e for com uma premiação de US$ 125 mil (R$ 289,1 mil), prefiro começar o ano jogando aqui e depois viajar com tempo para o Australian Open, onde é quase certeza que jogo a chave. Mas caso não haja o Aberto de São Paulo, provavelmente viajo antes para a Oceania e jogo um ou dois qualifyings de ATPs. E então se estiver com o ranking perto do número 80 após janeiro, com certeza jogarei os ATPs da América do Sul, que são os que mais quero - em Quito, São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Mais para frente quero garantir ranking para jogar (os Masters 1000) Indian Wells e Miami, que também fecham a lista por volta dos 80 primeiros. Assim, terão passados três meses do ano e analisarei o ranking e o calendário após isso. A princípio, a meta é jogar as chaves principais de ATPs até Miami.

Falando no Australian Open, será sua segunda participação na chave principal (perdeu para o australiano Matthew Ebden na primeira rodada em 2012). Chegou o momento de vencer a primeira partida em Grand Slams?

Acho que sim, mas tenho de contar com um pouquinho de sorte. Não quero chegar lá e enfrentar de cara o Federer ou Djokovic na primeira rodada (risos). Mas logicamente se tiver de jogar contra eles, será um prazer. Com certeza estou preparado, meu condicionamento físico está muito bom. Acho que é uma questão de tempo para começar a encaixar os meus resultados nos Grand Slams.

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