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Os segredos da longevidade de Roger Federer

Planejamento, disciplina, força física e mental e evolução técnica tornam o suíço de 35 anos um dos maiores da história

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Por e Rafael Franco
Atualização:

Bjorn Borg levantou seu último troféu de Grand Slam aos 25 anos. Ivan Lendl ganhou suas derradeiras taças aos 33. John McEnroe encerrou sua sequência de 109 conquistas aos 32, mesma idade em que Andre Agassi foi campeão de um Major pela última vez. Pete Sampras se aposentou após vencer o US Open de 2002, aos 31. Em 2017, aos 35 anos, um certo suíço está acabando com essa barreira da idade, que parecia intransponível. Não apenas faturou um Grand Slam, na Austrália, como também levou os títulos de Masters 1000 de Indian Wells e Miami, os principais do início da temporada. Mas, afinal, qual é o segredo da longevidade de Roger Federer?

René Stauffer, compatriota e biógrafo do suíço, aposta no planejamento a longo prazo para explicar a vitalidade do dono do recorde de 18 títulos de Grand Slam. “Roger nunca buscou metas de curto prazo, ele sempre quis estender ao máximo o seu tempo no circuito”, afirmou o jornalista ao Estado.

Federer comemora conquista do Masters 1000 de Miami Foto: Rob Foldy|AFP

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Um dos méritos do tenista, avalia, foi escolher bem o estafe. “Ele conta com uma equipe muito boa e todos trabalham com planos de longo prazo. Pierre Paganini, o preparador físico, é a figura principal no seu elaborado planejamento”, diz o suíço, autor de A Biografia de Roger Federer.

Mas não é somente o eficiente planejamento que explica a rápida recuperação do tenista, após se afastar por seis meses das competições para tratar uma lesão no joelho. “Primeiro de tudo: ele está em forma novamente. Seu joelho não o incomoda mais. Além disso, teve seis meses para ficar em forma, luxo que nunca teve. Também não tinha expectativas e jogou sem a pressão de ter de vencer em seu retorno. E, por fim, sua esquerda está melhor do que nunca”, enumera o biógrafo.

Para o ex-tenista Thomaz Koch, a condição física é uma das chaves para explicar o sucesso de Federer. “O preparo físico está impressionante”, afirma o brasileiro de 71 anos, que brilhou no circuito entre as décadas de 1960 e 70. Contemporâneo do suíço, Thomaz Bellucci também se surpreende com a forma física do ex-líder do ranking. “Os tenistas mais velhos geralmente perdem rendimento devido à parte física. Com Federer, isso não ocorre.”

DISCIPLINACom a experiência de 21 anos de circuito, André Sá, de 39 anos, atribui a longevidade à disciplina do suíço. “O segredo dele é trabalhar bem, se cuidar, saber seus limites, conhecer o próprio corpo. Saber o que é capaz de fazer. E ter uma equipe fantástica ao seu lado.”

“Federer é um verdadeiro atleta, é muito regrado”, complementa Fernando Meligeni, para quem o suíço é o melhor da história. “Só se consegue chegar a este ponto sendo muito bom jogador, se cuidando muito bem e escolhendo muito bem os torneios que vai disputar. Federer cumpre estes três pontos com maestria.”

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Para tenistas e ex-atletas ouvidos pelo Estado, foi o bom preparo físico que permitiu a Federer evoluir ainda mais técnica e mentalmente. “Antes, ele batia na bola com um passo para atrás na quadra. Agora, dá quase um passo para dentro. É a diferença entre uma bola defensiva e uma ofensiva”, explica Meligeni. “É aí que entra o preparo físico e hoje ele está muito mais rápido do que estava nos últimos anos.”

Com melhor movimentação de pernas, o suíço conseguiu aperfeiçoar o backhand, o golpe que faz com a mão esquerda. “Ele já tinha a melhor direita do circuito, o melhor saque, o melhor voleio. E agora acertou a esquerda também, que era seu calcanhar de Aquiles.’’

A alteração no jeito de jogar acompanha uma mudança mental na avaliação de Koch. “A cabeça dele mudou demais. Está mais concentrado, mais agressivo, não deixa o adversário respirar. E essa confiança com a esquerda tem o dedo do treinador, com certeza”, argumenta, referindo-se ao croata Ivan Ljubicic, dono de uma das esquerdas mais poderosas do circuito.

A confiança elevada também faz a diferença fora da quadra, na opinião de Gustavo Kuerten. “Ele encara tudo com muita tranquilidade e simplicidade, tanto dentro quanto fora da quadra, na rotina do dia a dia. Isso economiza muito esforço, empenho. Só dessa forma ele consegue chegar tão longe”, disse.

Infográfico mostra todos os números de Federer Foto: Arte|Estadão
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