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Tênis indoor é outro tipo de jogo quando comparado às partidas ao ar livre

Ambiente fechado ajuda tenistas que gostam de atacar logo no início ou os que são bons de contra-ataque

Por Stuart Miller
Atualização:

O triunfo de Rafael Nadal no US Open deste ano reforçou o argumento de que ele pode ser o maior tenista de todos os tempos – ao ar livre. Às vésperas do Masters de Paris e do ATP Finals, fica no ar uma pequena, mas notável distinção. Nadal adora Paris na primavera e já ganhou uma dúzia de Abertos da França, mas nunca venceu o torneio indoor do Masters 1000, do outro lado da cidade. E nunca conquistou um título do ATP Finals, que também é disputado em quadra fechada.

Isso ocorre, pelo menos em parte, porque Nadal joga com tanta força que seu corpo fica exaurido antes do final da temporada. No ano passado, ele se retirou das finais do Masters de Paris e do ATP Finals por causa de uma contusão abdominal; no ano anterior, uma lesão no joelho encerrou sua temporada nas quartas de final de Paris; e, em 2016, ele estava com dores no pulso.

Desde que virou um "trintão", Nadal ganhou por três vezes Roland Garros e por duas o torneio US Open Foto: Jason Szenes / EFE

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Mas o tênis indoor é diferente o bastante para apagar parte da luz de Nadal e deixar os outros brilharem. É um ambiente que ajuda os tenistas a sacarem com os pés juntos e serem mais agressivos, além de favorecer os jogadores que gostam de atacar logo no início ou os que são bons de contra-ataque.

Em outras palavras, há uma razão para Nadal – que confia bastante no topspin – ter feito apenas uma final do Masters de Paris e duas do ATP Finals. Em comparação, Roger Federer (um dos melhores sacadores de todos os tempos e o mais agressivo da elite) chegou dez vezes à final do ATP Finals, vencendo seis, e Novak Djokovic (um dos maiores defensores) avançou a sete dessas finais, conquistando cinco títulos.

A diferença mais óbvia das quadras fechadas é a ausência de sol e vento, o que permite que os sacadores ponham a bola onde querem. "Se você tem um saque excelente, pode ser mais agressivo em ambientes fechados", disse David Macpherson, técnico de John Isner, por e-mail.

Ivan Ljubicic, que já foi número 3 do mundo e que agora treina Federer, disse, também por e-mail, que existem fatores intangíveis que ajudam o sacador na quadra fechada, embora não saiba identificá-los com precisão. "Alguém pode dizer que uma partida noturna ao ar livre, sem vento, é a mesma coisa, mas não é", disse ele. "Acho que também tem algo a ver com o teto da quadra, que dá uma referência para o arremesso de bola na hora do saque."

As quadras fechadas têm outras diferenças sutis, como o aumento do ruído e do eco da torcida, que podem desconcentrar ou irritar o tenista, disseram MacPherson e Ljubicic. Esse ruído adicional também pode retardar as reações dos jogadores.

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“As pessoas não sabem quanto os jogadores confiam no som para avaliar a velocidade e o ponto da raquete com que seu oponente rebateu a bola”, disse Bethanie Mattek-Sands, vencedora de cinco Grand Slams. "No indoor, é preciso fazer um pequeno ajuste."

A principal diferença, porém, é a maneira como a bola quica – ou, melhor dizendo, não quica. Paris, que era extremamente rápida até 2011, quando as autoridades do torneio mudaram a composição da quadra, ainda é mais veloz que a Arena 02 do ATP Finals, em Londres, acrescentou MacPherson, embora as quadras cobertas estejam mais lentas do que eram décadas atrás.

Naquela época, jogando sobre aquilo que Brad Gilbert, comentarista da ESPN, chamava de pisos "loucos de rápidos" (incluindo carpetes), "os grandes sacadores dominavam em ambientes fechados. Não havia muito tênis para se jogar, porque os pontos eram muito curtos".

As quadras fechadas dos dias de hoje proporcionam um tênis de melhor qualidade, mas têm aquilo que MacPherson chamou de efeito amortecedor na bola, que ele e Ljubicic disseram neutralizar o kick serve (ou saque com twist), o qual foi, por anos, a arma favorita de Nadal contra muitos jogadores, especialmente Federer. "No segundo serviço, a vantagem fica, na verdade, com quem recebe o saque", disse MacPherson, que acrescentou que, na quadra aberta, o vento, combinado com o efeito da bola, faz com que a devolução seja muito mais desafiadora.

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Em última análise, argumentou Isner, as condições da arena fechada ajudam grandes sacadores, como ele. "Jogar sem vento e poder bater na bola com mais precisão fazem uma diferença maior para o tenista agressivo', disse ele. "Favorecem os jogadores rápidos que sabem contra-atacar."

Ljubicic concordou em parte, dizendo que, sem vento, as quadras lentas dificultam a vitória sobre tenistas que conseguem controlar bem a bola. E cita Djokovic como o principal exemplo. Djokovic, ao contrário de Nadal, lança bolas bastante chapadas, sem muito efeito, que penetram na quadra. "Os jogadores que rebatem mais chapado mais têm vantagem", disse MacPherson. "Em contraste, um jogador como Nadal sente dificuldade de usar seu excesso de topspin, porque não consegue o mesmo efeito.'

Ljubicic disse que os jogadores devem tirar proveito das condições, jogando de maneira mais ambiciosa. "Os jogadores agressivos com menos margem de erro se beneficiam nas quadras sem vento, e é por isso que Federer é tão espetacular: ele ataca a bola mais cedo e joga mais ofensivo", disse Paul Annacone, comentarista do Tennis Channel.

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Entre os jogadores em atividade, Federer é líder em porcentagem de vitórias nas quadras fechadas, pouco atrás de John McEnroe, Ivan Lendl e Jimmy Connors. Estes três jogaram mais partidas indoor – 496, 411 e 595, respectivamente, contra as 360 de Federer. (As estatísticas para quadras fechadas não contabilizam partidas de Grand Slam em quadra coberta.)

Roger Federer, tenista suíço Foto: Alexandra Wey / EFE

Atualmente, o ATP Tour tem apenas 16 torneios indoor, e a maioria é pequena demais para atrair jogadores de elite. Além do ATP Finals e da recente Laver Cup, são apenas três torneios de nível Masters 500. Paris é o único torneio Masters 1000 em quadra fechada. (A temporada de quadras de saibro conta com três confrontos Masters 1000.) Já na década de 1970 e na maior parte da década de 1980, três ou quatro equivalentes do Masters 1000 eram jogados em quadra fechada, e até 2008 havia pelo menos dois torneios desse tipo.

De acordo com as estatísticas da ATP, a Associação de Tenistas Profissionais, Federer tem 292-68 em quadras fechadas, uma porcentagem de 0,811 de vitórias, o que quase equivale à sua marca em quadras abertas, 0,824. Isso o coloca acima de Djokovic, cuja porcentagem é de 0,781 indoor e 0,836 ao ar livre. Nadal, por sua vez, tem apenas 0,681 de vitórias em ambientes fechados, bem menos que sua marca de 0,848 em quadras abertas.

Outros grandes jogadores em atividade, como Andy Murray, Kei Nishikori, Jo-Wilfried Tsonga, Gael Monfils, Marin Cilic e David Goffin, têm melhores porcentuais de vitória em quadras fechadas que em abertas. Gilbert disse que, como o número 1 do ranking de 2019 provavelmente será decidido nesses dois torneios, Djokovic tem uma grande vantagem sobre Nadal.

Claro que existem outros competidores em Paris e Londres, além de Djokovic e Federer. Daniil Medvedev, que rapidamente subiu para o quarto lugar do mundo, é um grande sacador que se movimenta bem e bate relativamente chapado, disse Gilbert. "Isso costuma dar certo em quadras fechadas."

Annacone acrescentou que o jogo inteligente de Medvedev e sua capacidade de mudar de estilo também devem beneficiá-lo. Medvedev tem 12-1 em quadra fechada, com dois títulos em 2019, a melhor marca indoor deste ano. Annacone também disse que vale a pena ficar de olho em Karen Khachanov, atual campeão do Masters de Paris, Alexander Zverev, campeão do ATP Finals do ano passado, e Stefanos Tsitsipas.

Nadal há anos diz que o ATP Finals, o torneio mais importante depois dos Grand Slams, deveria ser disputado ao ar livre ou no saibro. No entanto, Pam Shriver, comentarista da ESPN, disse que o confronto indoor é um desfecho adequado. "Parece o palco principal de um teatro", disse ela. "E, sem as variáveis do jogo ao ar livre, produz um jogo de melhor qualidade, o que é bom para o tênis e para os fãs'. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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