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A aposta que não deu certo

O pneu é a parte mais vulnerável de um carro durante uma corrida. E quando o asfalto é do tipo que proporciona boa aderência (grip), como o de Spa-Francorchamps, os carros e os pilotos agradecem, mas maior “grip” significa também mais desgaste de borracha. É assim em Spa, como será em Monza na semana que vem, com os mesmos dois tipos usados na Bélgica. 

Por Reginaldo Leme
Atualização:

Os dois circuitos são velozes e, por isso, as corridas são as mais curtas do calendário. A diferença entre elas é que Monza, mesmo sendo a pista mais veloz do campeonato, tem bem menos curvas de alta do que Spa, o mais espetacular circuito do mundo exatamente pelas desafiadoras curvas velozes. E o desgaste mais acentuado dos pneus não acontece nas retas nem nas freadas (se forem bem feitas). Os pneus são mais exigidos nas curvas de alta, nas quais sofrem cargas de energia muito elevadas, empurrando o carro pra fora da curva. Em Spa a força vertical também é acentuada, por causa da baixa pressão aerodinâmica dos carros – opção dos engenheiros para ganhar velocidade em reta.

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Saber administrar as forças aplicadas aos pneus é o segredo para o sucesso em Spa. Esta regra é mais do que conhecida pelos engenheiros. Assim como se sabia também que a estratégia vencedora no ano passado havia sido a de paradas nas voltas 11 e 26, com o uso do pneu mais duro na última troca. 

Com base nos cálculos feitos em cima da durabilidade testada nos treinos livres, nunca se cogitou fazer uma parada apenas. A própria Pirelli, graças à simulação que sempre faz da equação durabilidade/tempo de pit stop, e considerando ainda a diferença de performance entre os dois tipos de pneus (a maior do ano, variando de 1s5 a 1s8 no tempo de volta), recomendou a tática de duas paradas – ou até três – para uma corrida de 44 voltas.

O sugerido pela fábrica era largar com o macio (é obrigatório largar com o pneu utilizado na melhor volta conseguida na segunda parte do qualifying, o chamado Q2, trocar para outro macio na volta 15 e na volta 30 usar o pneu médio apenas para as 14 voltas finais. Portanto, utilizar o menos tempo possível o pneu médio, de composição mais resistente, porém bem mais lento. Pela característica de Spa, a escolha desses dois tipos já foi uma medida ousada da Pirelli.

Como os quatro modelos deste ano são mais resistentes do que os do ano passado, a ideia era proporcionar mais opções de estratégia. Por exemplo, “macio-macio-médio”, ou mesmo “macio-médio-macio” para quem viesse a tentar, com o carro mais leve no final, andar de macio por um tempo maior do que as 15 voltas sugeridas antes do primeiro pit stop. Em nenhum momento a tática de uma só troca foi discutida com os técnicos da Pirelli. É até possível que a Ferrari tenha feito essa opção no momento em que a largada foi abortada, o que levou a uma volta a mais de formação do grid e, consequentemente, a diminuição da distância total de 44 para 43 voltas. Ainda assim era arriscado. 

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Importante lembrar que, quase dois anos atrás, a Pirelli solicitou que fossem definidas regras que determinassem um número máximo de voltas permitidas para cada jogo de pneus. O pedido, que sugeria uma distância máxima equivalente à metade da distância do Grande Prêmio para o pneu mais duro e de 30% da distância para o pneu mais macio, não foi aceito. Se essa regra valesse, o limite máximo para a utilização do pneu mais duro de Spa (o modelo médio) seria de 22 voltas. 

Mesmo com a diminuição do total de 44 para 43, Vettel fez uma parada na volta 14, e a Ferrari pretendia dar 25 voltas com um pneu que já tinha três voltas de uso. Leve-se em conta ainda que Vettel lutava por uma posição no pódio, o que o levou a buscar um ritmo forte mesmo já no fim de vida útil do pneu. Faltava uma volta e meia para terminar a corrida.  Vamos combinar que não dava para a Ferrari pensar em vitória. Mas, com o carro que tem e um piloto que já venceu duas no ano, a equipe não precisava de uma estratégia tão arriscada. O que aconteceu foi uma aposta. Que, simplesmente, não deu certo

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