Demitido, Salo abandona automobilismo

O piloto finlandês decidiu abandonar as pistas no final da temporada de Fórmula 1, resultado da sua demissão da Toyota, junto com o escocês Alan McNish.

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Por Agencia Estado
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Enquanto os contratos os mantém associados às suas equipes, os pilotos são políticos, e até por conta de não verem esses compromissos rescindidos, agem de forma a atender os interesses dessas organizações, ainda que muitas vezes contra a vontade. Hoje no circuito de Spa-Francorchamps, contudo, onde amanhã começa a ser disputado o GP da Bélgica, com os primeiros treinos livres, os dois pilotos da Toyota não esconderam a decepção com a sua dispensa. Mika Salo anunciou que abandonará as pistas, enquanto Alan McNish lembrou que na Fórmula 1 a política se sobrepõe ao esporte. Olivier Panis é o substituto de Salo. "Até segunda-feira à noite ele nem imaginava que a Toyota não renovaria seu contrato", disse um amigo próximo do finlandês. "Ao contrário, conversamos muito e ele falava das suas animadas previsões para 2003." Salo foi avisado de que não estava mais nos planos da escuderia apenas no dia do anúncio, como Felipe Massa com relação à Sauber. Depois, Salo reuniu os jornalistas e, visivelmente desconfortável com a situação, oficializou que se retira do automobilismo no fim da temporada. "Acho que 30 anos de esporte a motor é suficiente, não?", falou. "Comecei no kart com 6 anos e hoje estou com 36. Meus melhores momentos foram, sem dúvida, quando substituí Michael Schumacher na Ferrari (1999)", contou. "Agora vou me dedicar mais à música. Pouca gente sabe, mas participei de duas gravações de CDs, da banda Leningrad Cowboys, como guitarrista." O finlandês exercerá também outras atividades: "Minha mulher (Noriko) é japonesa e vamos cuidar mais do nosso restaurante japonês, Eatz, em Helsinque." Com o abandono de Mika Hakkinen no fim do ano passado, os finlandeses ficarão apenas com Kimi Raikkonen, da McLaren, na Fórmula 1. O escocês Alan McNish estreou este ano na Fórmula 1, com 32 anos, e já está se despedindo. "Acredito que a decisão de trocar os dois pilotos não obedeceu a análise da habilidade que cada um de nós demonstrou", falou. "Infelizmente na Fórmula 1 há momentos em que os negócios não são justos. Isso sempre ocorre quando a política se sobrepõe à disputa esportiva." E quando o assunto é política, ninguém melhor que Tom Walkinshaw, sócio da Arrows, para representá-la. Hoje o escocês aplicou mais uma das suas peças. Como o prazo para inscrição de pilotos é até as 18 horas da quinta-feira anterior ao domingo de corrida, Tom anunciou que Heinz-Harald Frentzen voltará a pilotar para a Arrows, já no GP da Bélgica. Frentzen, logo depois da corrida de Hockenheim, anunciou que estava se desligando da equipe. Ele tinha propostas da Sauber, Toyota e Jordan. Acabou aceitando a da Sauber. Ocorre que como Walkinshaw não tinha como adiar o nome do companheiro de Enrique Bernoldi na prova de Spa, lançou o de Frentzen, que hoje nem mesmo estava no autódromo. Com isso ele ganhou até amanhã de manhã para negociar com algum interessado em pagar e disputar o GP da Bélgica. Pode até ser que, à última hora, Frentzen aceite o agora convite do escocês, embora este continue buscando quem lhe pague para correr em Spa-Francorchamps. Depois dirá aos dirigentes da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) que "por motivo de força maior, Frentzen não poderá correr", se o alemão também não voltar atrás. Hoje Bernoldi disse que nenhum piloto compareceu à fábrica para tirar as medidas do banco. "Vão ter que fazer aqui mesmo, na hora", disse. Outra ameaça à participação da Arrows relaciona-se aos mecânicos, técnicos e engenheiros. "Estamos com nossos salários dois meses atrasados", disse um engenheiro, sem identificar-se. "Liguei ainda há pouco para minha mulher, na Inglaterra, para saber se depositaram o dinheiro, conforme a promessa, mas nada havia entrado ainda na minha conta", explicou. Mecânicos colegas dos da Arrows revelaram que pode crescer dentro do time uma onda de revolta que resulte numa tomada de posição radical: "pague para que trabalhemos." Situação que nada tem a ver com o decantado "glamour da Fórmula 1." Mas, ao que parece, as coisas tendem a melhorar para a Arrows por conta do avanço nas negociações da sua venda.

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