PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Alemão heavy metal detona o tiqui-taca

Edu: A conversa sobre se o estilo do Barça é esse ou aquele, se um é mais eficiente ou se outro é mais calculista, ganhou um novo personagem?

Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Carles: Jürgen Klopp? Um gênio da retórica, segundo os meios. Esse sabe do que fala para poder se manter sempre visível. Afinal, não é sempre que um vice-campeão de tudo tem a chance de se promover desse jeito. Como rezaria a tradução livre de um famoso refrão local: ele "está fazendo lenha da árvore caída". Assim mesmo, se entrarmos no mérito da questão levantada por Klopp, é de se reconhecer que o estilo teutônico está mais próximo do heavy metal que da valsa de Arsène Wenger. Se por enquanto, para esta temporada, o desafio dele é fazer o heavy metal ganhar do estilo jazz-pop do Pep, quem sabe o discurso de Klopp tenha outro objetivo a medio prazo. Pode ser uma advertência para o público do Emirates já ir se acostumando a uma mudança de estilo.

PUBLICIDADE

Edu: Na entrevista ao 'Guardian' ele fala justamente dos últimos quatro anos do Barça, ou seja, da época de Pep e Tito, o Barça do tiqui-taca. E não da transição com Tata. E diz claramente que prefere o jogo direto, ou seja, o heavy metal. E completa: 'Se aos 4 anos tivesse visto o Barcelona jogar, teria escolhido o tênis e não o futebol'. Você tem razão, Klopp se transformou num personagem e o alvo mais do que nunca é o Bayern, não o time catalão. Sou capaz de jurar que já li um par de entrevistas dele elogiando o Barça do tiqui-taca e o próprio time dele tem momentos de troca de passes muito semelhantes, acrescido do toque físico alemão. Ou será que ao declarar amor eterno ao jogo direto ele na verdade está unicamente arquitentando o futuro emprego na Premier?

Carles: Pois dizem que ele é (eu não disse "seria", mas "é", tempo verbal definitivo enquanto dure, no futebol) o substituto de Wenger, prestes a deixar a beira do gramado para ocupar um gabinete. Pelo visto já existe um pré-acordo. Sorte da imprensa inglesa, o cara pode ser tudo, menos tedioso. Frases como "faz oito anos, esta sala não estava cheia de jornalistas mas de cobradores", durante a conferência aos meios quando levou o Borussia ao título da Bundesliga, são algumas das pérolas desta figura com quase dois metros de altura e cuja imagem, dizem, foi cuidadosamente reestilizada pela mulher. Não só acredito que ele seja um dos seguidores do estilo tiqui-taca, devidamente adaptado ao contexto e biótipo alemães, mas a contratação de Pep pelo eterno rival foi justamente uma tentativa de dar certa leveza ao futebol pragmático alemão. Se o jogo do Dortmund de Klopp (e, justiça seja feita, da seleção de Joachim Löw) não tivesse um certo parentesco com o estilo Barça, o Bayern talvez nunca teria pensado em Guardiola.

Edu: Por isso que mais esse episódio de língua nervosa de Klopp deve ser bem pensado. Da próxima vez que ele estiver na Espanha - quem sabe para enfrentar o Barça numa semi de Champions -, terá bastante assunto para despejar suas preciosidades retóricas. Ao menos serviu para por um pouco de pimenta nessa discussão que daqui do quintal tupiniquim parece meio sem sentido sobre a mudança 'radical' de estilo do Barça de Tata. Nós mesmos já falamos sobre isso, mas obviamente que é preciso considerar a transição proposta pelo novo treinador e a mudança de parâmetros, ou porque Neymar chegou, ou porque Xavi já não é o mesmo, ou porque Messi está se 'dosificando'. Ficar debatendo estilo de um time que ganhou 11 de 12 na Liga e não perdeu nenhum jogo em três meses é meio incompreensível. Quem dera meu time tivesse ganhado dois dos últimos quatro...

Carles: Sempre se paga um preço por ditar um modelo, por estabelecer parâmetros. Se não queremos aceitar a teoria dos ciclos, consideremos pelo menos a tese das adaptações, inevitável no caso do Tata. Não por falta de vontade, mas imagino que o argentino não pode fazer declarações como as de Klopp. Estaria cuspindo no próprio em que come. Mas se alguém tem motivos para maldizer o estilo o Barça dos últimos anos, esse é o Tata Martino. Imagine a carga de chegar ao Barça nessas circunstâncias. E imagine essa carga sem Neymar. O jogo do brasileiro não só está aliviando o olhar pungente do planeta futebol sobre o time blaugrana, como ajuda a justificar eventuais variações no estilo, pela capacidade de adaptação ao jogo de toque rápido que demonstrou e por fazer válido um jogo mais direto, sem perder a categoria. Provavelmente o Tata Martino (e o Alexis Sanchez!!!) rezam para "São Neymar" todos as noites.

Publicidade

Edu: É algo que caras como Klopp, os alemães em geral e a maioria dos europeus de certa forma menosprezam - me desculpe por voltar ao assunto. Poucas vezes vejo os treinadores falando abertamente dos craques e Tata, por ser de onde é, é uma das exceções, não se furta de elogiar seus jogadores individualmente. Os treinadores europeus raramente exaltam o papel dos craques, salvo exceções. Preferem generalizar sobre os esquemas, principalmente quando vencem. Concordo também que há um certo exagero aqui quanto às individualidades. Mas acho que é uma diferença de pontos de vista bem saudável como combustível para o futebol e, por isso, continuamos apostando que Neymar - oito assistências, quatro gols e nenhuma derrota nas 12 partidas em que foi titular - ainda tem muito mais lenha para queimar.

Carles: Pode ter certeza que tanto o Tata como os demais treinadores de alto nível em atividade por aqui, salvo Mourinho, elogiam quem merece, e no lugar certo, no vestiário. O motivo para que isso não se faça diante das câmeras e gravadores, e eu estou de acordo, é justamente procurar não menosprezar o resto do elenco, inclusive aqueles considerados, digamos, operários. Porque esse é um mimo que, a médio prazo, pode sair pela culatra. Aliás, ultimamente e de forma privada, o Tata Martino não deve ser o único do Barcelona a elogiar o Neymar, tanto ou mais que a imprensa espanhola e europeia publicamente.

E por falar em craques brasileiros...

Amanhã você me conta direitinho essa história da luta deles pelo calendário, se não me engano, com a inestimável colaboração de alguns dos jogadores que estiveram jogando por aqui.

Edu: Calendário e direitos trabalhistas. Vamos lá...

Publicidade

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.