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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Carnaval e laboratório

Carles:  Ainda se questiona muito por aqui se o Brasil vai estar pronto para um evento como a Copa do Mundo, seja pelo calendário das obras, pela infraestrutura hoteleira, transporte ou segurança. O Carnaval e, depois, a Copa das Confederações serão os eventos de repercussão internacional que antecedem a Copa. Pergunto: como vai tudo? Existe perspectiva de redução nos índices de criminalidade, por exemplo, durante este carnaval?

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Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Edu: Sempre é um teste para as autoridades. Mas a logística e o alcance dos eventos são bem diferentes.

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Carles: Durante o Carnaval o fluxo de turismo estrangeiro continua sendo muito importante, não?

Edu: No Carnaval, em princípio, todo mundo sabe onde estão os problemas. Nas grandes aglomerações, nas festas de rua, eventualmente nas redondezas dos desfiles. Acho que fica mais fácil controlar porque acontece o que se espera. O próprio turista vem pronto para uma certa bagunça e automaticamente se protege. E o tipo de turista é diferente, o folião é diferente.

Carles: Claro, mas é sempre um laboratório.

Edu: Sim, sim, um ótimo laboratório... Só que eu diria que uma Copa tem mais surpresas, pelo tipo de público, pelas diferenças entre as sedes, pela longa duração do evento e, principalmente porque o turista não vem apenas para ver os jogos. Ele quer circular, quer conhecer os restaurantes, passar o dia na praia, frequentar as baladas. Ele é um alvo mais móvel, diluído e fica mais complicado o controle de segurança. É uma das preocupações reais da organização da Copa no Brasil, muito mais do que os estádios e as obras de infraestrutura.

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Carles: Provavelmente, pela duração do evento, é assim mesmo. Porém, o Carnaval e a Copa das Confederações estão pelo caminho até a Copa, para provar e comprovar. Que espírito vigora por aí, aumentou a confiança de que se pode realizar uma festa à altura do esperado? Uma festa como todos esperam do Brasil e sem os incidentes que os mais céticos preveem? Porque a relação com festa, dança e alegria não pode ser negada, ainda que pareça um estereótipo.

Edu: Ainda é cedo para entusiasmo, Carlão. Acho que a Copa das Confederações pode ser o momento da virada. É claro que a demanda de otimismo cresce quando o acontecimento se aproxima, mas por enquanto a fase ainda é de dúvidas, principalmente porque o cidadão fica exposto ao noticiário negativo, com uma parte da mídia fustigando muito, atacando por todas as frentes, questionando até o que não precisa de questionamento e esquecendo coisas mais importantes. Tanto é que essa questão grave da segurança é assunto ainda periférico, ninguém se deu conta do problema com a devida seriedade. Ou seja, ainda não é hora de festa, mas acho normal.

Carles: Sei que existe uma parte influente da imprensa que tem interesses em desacreditar o esforço oficial e o da iniciativa privada, mas isso a gente discute outro dia. Hoje quero saber como o brasileiro está esperando um fato de tamanha magnitude. Como será a primeira copa que se realiza num Brasil teoricamente mais integrado pelos meios de transporte, já que em 1950 as dimensões do torneio eram outras. Como vai se realizar um evento que dura um mês em um país-continente? Sim, porque me parece que os senhores da Fifa preferem a extensão, já que a Copa do Mundo na Ásia e as Eurocopas recentes foram entregues a uma dupla de organizadores.

Edu: Lógico, eles, da Fifa, têm como princípio a política da quantidade, por razões expansionistas e financeiras óbvias. Mas, sinceramente, o brasileiro quer muito a Copa. O cara que mora em Cuiabá está há quatro cinco anos só pensando nisso. Há muita gente se esforçando honestamente para dar certo e muitas pessoas estão se movimentando, fazendo o conhecimento se espalhar, se capacitando. Sem oba-oba. Esse é o grande legado da Copa: a formação de pessoas, o desenvolvimento das pessoas. E, claro, o entusiasmo pelo futebol pode coroar isso.

Carles: E os aeroportos? Os voos domésticos são mais acessíveis ao bolso de todo mundo ou o evento é mesmo para inglês ver?

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Edu: Não, não, nada é muito acessível a todo mundo. Não vejo a menor chance de isso acontecer numa Copa do Mundo aqui ou em qualquer lugar. Essa é outra discussão para horas. O fato é que o povo participa da Copa em várias frentes, algumas periféricas, mas raramente indo aos jogos. O que temos aqui, neste momento? Aeroporto é problema grave, segurança também - já falamos -, tem a questão dos hotéis, da mobilidade urbana e também das comunicações, porque alguns pontos do país ainda possuem de uma tecnologia rudimentar de comunicação. Muitas dessas coisas estão andando, outras estão mais lentas, mas é lógico que a interferência do Governo vai fazer a coisa funcionar, principalmente porque 2014 é ano de eleição.

Carles: Boa lembrança. Eleição em novembro e Copa no meio do ano. A propósito, ainda sobre o Carnaval, uma dúvida mais mundana: sabe se o Marcelo, o Kaká ou o Dani Alves saem em alguma escola de samba, neste ano?

Edu: Acho que não. E não faz muito o gênero do Kaká né?

Carles: Era só uma brincadeira. É que quando o Ronaldo Fenômeno jogava por aqui dizem que ele alegou estar contundido e na cena seguinte estava em cima de um carro alegórico, sambando.

Edu: A nova geração é mais politicamente correta. Talvez isso explique a fase meio raquítica do futebol brasileiro.

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Carles: Verdade, maior responsabilidade profissional ou produtos melhor embalados, quem sabe? Em todo caso, boa folia!

Edu: Tô fora!

 

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