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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Entre inteligência e adrenalina, ambos.

Carles: Você acha que Tito e Roura leem 500 a.C.?

Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Edu: Acho que não, mas deveriam.

Carles: Vi muita coisa em campo do que nós comentamos aqui antes do jogo.

Edu: Por exemplo?

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Carles: Iniesta pelo centro foi fundamental para a primeira hora de jogo, para abrir o campo de verdade. O Villa entrando como isca para os centrais para dar mais liberdade ao Messi.

Edu: Mas o Villa você era contra, ou não? Entendi que você achava uma mudança muito merreca.

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Carles: Eu disse que simplesmente a entrada do Villa não valia, era necessário flexibilizar o modelo de jogo. Vitor Valdés alçou mais bolas diretas só neste jogo que em todos estes anos. Não é uma jogada típica nem louvável em si mesma, mas significa variar o repertório. Um aviso ao adversário: tem alguém explorando as costas. Esse foi o papel de Villa e não jogar encostado à lateral da área.

Edu: Pois eu já acho que a grande mudança foi a fome de jogo desde o primeiro momento, a velha e boa postura modelo Barça. As questões táticas - Villa segurando os centrais, o Iniesta flutuando e Dani Alves mais à frente - o time já usou outras vezes, não chega a ser novidade.

Carles: Na verdade, no Barça, o Villa raramente tinha feito essa função, mas isso é só um detalhe. O Barça tinha esquecido as variáveis do seu jogo pelo caminho e só recuperou hoje porque eles mesmos criaram os espaços em vez de embolar. Ajudou também o descanso, voltaram a recuperar muitas bolas lá na frente. Sem descanso físico não tem entusiasmo. O Villa jogou como na seleção e o Jordi Alba idem.

Edu: Fica fácil analisar do alto de um 4 a 0. Tudo é adaptável às teses nessas ocasiões.

Carles: Recomendo que você releia o post de antes do jogo. Então, a eliminatória estava 0 a 2. O modelo da Roja é o do Barça, mas talvez o Barça tenha recuperado um pouco do modelo original, e justamente calcando a seleção.

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Edu: Um comentarista daqui também falou em 'grande mudança tática', que o time voltou a jogar como com o Guardiola e essas coisas, algumas parecidas com sua tese... Mas tenho muitas dúvidas sobre tantas mudanças assim. Sei que as bolas entraram, o Messi fez um golaço no início, o que já deixou o Milan abalado, e o garoto francês, Nyang, perdeu um gol feito meio minuto antes do segundo do Messi. Tenho a impressão de que só eu vejo o jogo de uma forma mais simples. Pode ser simplista.

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Carles: O jogo não passou aí? Eu não diria mudanças, chamaria de flexibilidade ou evolução. Vai me dizer que também não viu o partidaço do Busquets?

Edu: Ok, prometo fazer um esforço de memória para enxergar todas essas nuances táticas - com o Busquests incluído no pacote. Vou fingir que o Milan é um supertime, que foi uma aula de tática e que não foi a gigantesca superioridade técnica que fez com que o Barça ganhasse com autoridade. E vou me penitenciar por ter considerado que, no primeiro confronto, o Barça sumiu e desta vez voltou a jogar como sempre fez.

Carles: O Milan não é um supertime. Dissemos antes que o pior inimigo do Barça nesta eliminatória era ele mesmo e isso ele conseguiu vencer. Conseguiu deixar de ser ensimesmado. E o que aconteceu no Camp Nou não é uma super-revolução tática, mas um posicionamento que permitiu a bola voltar a circular e nas poucas vezes que foi preciso defender não fazê-lo como o time do colégio que sempre coloca os grossos lá atrás. O único lance de perigo do MIlan foi um erro individual do "jefecito" (esse gol perdido pelo Nyang).

Edu: Só sei que aprendemos, todos, a ver o Barça 'achicando espacios' lá na frente, pressionando o adversários na saída de bola. Aprendemos a ver Iniesta, Xavi e Messi sempre energéticos e comandando as iniciativas. Aprendemos a ver o Barça abrindo o jogo para o Dani Alves e se virando lá atrás para segurar os contra-ataques. Tudo isso, que vem dando certo há três ou quatro anos, aconteceu neste jogo e não tinha acontecido em Milão. Ou seja, o Barça voltou a ser Barça. O resto pode ser dito livremente. O futebol, você sabe, normalmente é um grande delírio democrático.

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Carles: Certamente, o grande benefício deste jogo para o Barça pode ter sido o fato de recuperar o tal entusiasmo que você reclama. Agora, tudo depende de se essa "energia" vai ser utilizada com a inteligência que pareceu-me ver hoje. Sigo acreditando que futebol é um jogo de inteligência e que a adrenalina ajuda , mas o excesso pode atrapalhar, inclusive.

Edu: Só lamento o arcebispo de Barcelona, Lluis Sistach, ter perdido o jogo por causa de um compromisso que tem nestes dias. E o pior é que nem pôde tirar uma onda do seu colega de Milão, Angelo Scola, que também estava no retiro preparando a segunda sessão do conclave. Os cardeais boleiros também sofrem...

Carles: Você acha que eles não viram? Em todo caso, no fim de semana veremos se habemus Barça.

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