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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Miojo com trufas, ou um recital de como atolar no 0 a 0

Edu: Seis por meia dúzia, côncavo e convexo, não tem tu vai tu mesmo... Não tem imagem bizarra que possa definir um jogo de futebol em que 16 dos 22 jogadores ficam na mesma zona do campo durante a maior parte do tempo. Me lembrou a Rua 7 de Abril nos tempos de office-boy... Se 99 entre 100 apostadores cravaram o 0 a 0, só quero saber quem foi o 'space' que achou que podia acontecer algo diferente.

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Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Carles: A resignação, impotência ou ambos de Diego Costa indica que não foi ele o que acreditou num resultado diferente. Colocar Diego Ribas entre linhas foi uma tentativa interessante para não depender só dos chuveirinhos que, mesmo assim, abundaram contra uma linha defensiva cheia de torres. Para não dizer que não surtiu efeito, a estratégia acabou tirando ?ech e Terry do jogo em Stamford Bridge por contusões, em tentativas de rechaçar o assédio por cima. Tampouco jogam Gabi e Lampard por terem recebido o terceiro cartão amarelo. Acho que nessa o Atlético perde mais, quem diria faz algum tempo?

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Edu: Cholo Simeone, tão astuto nos últimos tempos, não conseguiu resolver o problema mais crônico desse Atlético: a dificuldade de tomar a iniciativa. Sim, porque ele sabia que do outro lado estariam vários muros e também estava claro que Diego Costa seria encaixotado para não poder fazer o que mais gosta, cair pelas laterais da área. O técnico argentino bobeou nessa e errou também ao tirar Diego Ribas no momento em que ele funcionava melhor. É duro jogar contra o time cujo técnico é o que mais festeja empates na face da terra, mas é o caso de perguntar: o que o Atlético esperava? Discordo de você, acho que em Stamford Bridge, se for só pelo futebol, o time tem boas chances de fazer seu jogo compacto e despachar o Chelsea. O problema será suportar a carga emocional, se bem que o Atlético tem segurado bem a onda, como aconteceu em San Siro e no Camp Nou.

Carles: Não, acho que não me expliquei bem, também acredito em que o Atlético tem tudo para eliminar esse mesquinho Chelsea. Já disse antes do jogo de volta contra o Barça que os colchoneros jogam da mesma forma em casa ou como visitante. Com a vantagem de que, fora, é capaz de reduzir um pouco a ansiedade. Tanto que é o time que mais ganhou partidas como visitante na Liga e segue invicto na Champions. O único. Pode até ser que o Cholo tenha confiado demais no acaso, mas também acredito que ele segue enxergando a eliminatória a 180 minutos. Só temo que Gabi vai fazer falta, ele é um pouco o norte psicológico do grupo, dentro de campo.

Edu: Gabi fara mesmo falta, bem mais do que Lampard, mas não que Terry do outro lado. O velhão é uma coluna mestra nesse esquema Mourinho-mesquinho. Você deve ter reparado que Diego Costa fez várias tentativas de irritá-lo e ele se manteve impassível, como se esperasse o chá das 5. É o tipo de jogador para essas ocasiões, principalmente em Stamford Bridge. Tragédia mesmo para o Chelsea foi perder Cech, porque o australiano Shwarzer costuma aprontar uma vez sim e outra também. Em compensação tem a provável volta de Hazard que, convenhamos, dá um toque especial a esse time normalmente previsível. Willian esteve muito mal, sentiu o peso, ficou visivelmente incomodado com o Calderón. Ao contrário de David Luiz, bem de novo nesse tipo de jogo energético que ele adora.

Carles: Sem querer salvar a pele do Willian, lembre-se de que ele trabalha para o chefe que mais enterra carreiras de meias de ligação. Uma coisa é pedir para todo mundo trabalhar para defender, outra é transformar zagueiros em volantes e armadores em destruidores puros. Pois é, a volta de Hazard é a melhor notícia para os blues, mas também é verdade que para o experimentado sistema de cobertura de Cholo é mais fácil bloquear o jogo jogado do que esses balões atirados para cima. As únicas chegadas perigosas do Chelsea foram duas faltas na beira da área, nessas bolas "random", com destino imprevisível e que ninguém como Fernando Torres consegue tirar tanto partido. Em Londres, com Eden em campo, Mou deve começar com Eto'o no centro do ataque, não acha?

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Edu: Também tem lesão muscular, mas acho que seria melhor para o Atlético, porque Fernando Torres é bem mais cascudo nessas horas. Provavelmente será Simeone que vai montar os muros em sua trincheira, porque, sem Gabi, deve juntar Thiago e Mario Suarez, para deixar o jogo mais trancado. Talvez seja agora uma eliminatória mais imprevisível, porque o Atlético tinha que prevalecer em casa e perdeu a chance. Só sei que, se jogarem como hoje, podem transformar 180 minutos em uma semana que os gols não vão sair. Pênaltis? Também não sei a quem interessa, mas certamente não é ao Atlético, que cansou de desperdiçar na Liga.

Carles: Uma decisão por pênaltis seria, de alguma forma, um prêmio à loteria proposta pelo Chelsea que, sigo pensando, tem time para oferecer outro tipo de jogo. Um time que não é exatamente barato. Às vezes me parece comparável a jantar um miojo com trufas. A grande diferença do muro do Cholo provavelmente estará na capacidade de aproveitar as bolas recuperadas, o ofício de montar contra-ataques, dos que hoje não dispuseram. Isso, se é que muda alguma coisa no jogo de volta.

Edu: Pois é, esse é o meu medo. De todo jeito, esteve longe de ser uma semifinal de Champions de arrebatar corações, pareceu mais um clássico de segunda linha. E só fez crescer a expectativa para o choque de rinocerontes no Bernabéu.

Carles: Sai da frente!

 

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