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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Ney mostra seu cartão de visitas no Celtic Park

Carles: Agora sim, Neymar descobriu o lado escuro do futebol europeu. Tão escuro como os seus hematomas depois da visita a Celtic Park.

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Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Edu: As 'noites mágicas' de Champions se pareceram às muitas quartas-feiras no interior de São Paulo, com a diferença de que ele apanhou por cima, por baixo e pelo meio.

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Carles: Coisas desta fase da Champions em que persiste a representatividade do futebol ancestral. Noites menos mágicas no gramado, mas com a mística de uma torcida e de um campo históricos. E onde tem que se saber jogar com inteligência, como fez o Braça com a inestimável participação de Neymar assessorado por um grande Cesc. Um campo difícil, muito difícil.

Edu: É o tipo de adversário travado e especialista em destruir, só mesmo alguém como Neymar ou Iniesta para romper. E Neymar rompeu. Achei excepcional a partida dele, foi o único cara que conseguiu tirar os escoceses do eixo, com inteligência e iniciativa. Não tivesse perdido aquele gol no final, teria sido o jogo perfeito dele diante de tantas dificuldades. E que fique claro: nenhuma falta foi simulada, não houve cai-cai em nenhum momento. Ele apanhou de verdade, como gente grande.

Carles: Digamos que enfatizou um pouquinho a dor no lance da expulsão, para ajudar o árbitro a tomar uma decisão justa, diga-se de passagem. Antes, ele já tinha tomado um direto que o deixou achando que estava na Vila Belmiro. Confesso que eu tinha ficado com a pulga atrás da orelha com a tal contusão de Messi, que não vai viajar para jogar nem para acompanhar a delegação da Argentina. Provavelmente, o Tata falou para Neymar: "Pibe, te tocó". E Neymar respondeu à altura, repito, secundado por Fàbregas, para variar, com milagre de Victor Valdés e a seriedade de um sempre esquecido Marc Bartra.

Edu: O que já ficou claro depois deste mês e meio é como Neymar é capaz de se submeter a uma composição no padrão Barça, mas também não se exime de assumir sua importância e partir para cima, sem medo do erro, quando é chamado a intervir. Daqui não esperávamos outra atitude dele, mas nunca se sabe. Um garoto chegando no melhor time, cheio de estrelões.... Basta ver a diferença de postura dos colegas em relação a ele - sem contar a diferença de postura do próprio adversário. As vaias no 'Paradise' do Celtic, se tinham a intenção de intimidar, só conseguiram ressaltar a importância de Neymar.

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Carles: Sem dúvida, quem entendeu as vaias de outra forma não viu a partida e não é capaz de compreender o contexto cultural de se jogar em Glasgow pela Champions. Neymar entendeu bem. Como o seu amigo Mourinho, depois de armar mais um barraco na conferência para a imprensa em Bucareste, antes do jogo do Chelsea, finalmente entendeu que jogadores como Oscar, Ramires e Mata e depois Willian são compatíveis. Isso mais a fragilidade do Steaua deram uma boa vitória dos ingleses, por 0 a 4. Com dois gols de Ramires.

Edu: Ramires em ótima fase, uma ameaça real ao simpático Hulk na Seleção. Mas o grande resultado da noite de Champions foi mesmo do Atlético no Estádio do Dragão. Virada sobre o  Porto, com as requintadas jogadas ensaiadas do nosso amigo Cholo. E sem Diego Costa.

Carles: Pois é, a maior sinergia da história do futebol é a do Cholo Simeone com o Atlético de quase toda a sua vida. Tinha que ser ele para conseguir romper um tabu de 103 anos. Primeiros gols e primeira vitória da vida dos 'colchoneros' na cidade do Porto. Como já dissemos aqui, atualmente, o time que joga com maior intensidade no continente. E por cima das individualidades, é uma equipe, por isso ganha sem suas estrelas. Incrível que ao finalizar o jogo, entrevistado pela televisão espanhola, em minuto e meio, Simeone deu um Máster de tática, explicando como o time dele tinha mudado o jogo no segundo tempo, formando uma linha medular com cinco, com Baptistão, depois Koke e Cristian Cebolla pelos lados para que os centrais do Porto perdessem a referência, etc, etc, etc. A repórter retrucou com uma pergunta sobre se vai chover amanhã ou qualquer coisa assim. Talvez por isso, perguntado sobre se ia ou não chamar Diego, Del Bosque não conseguiu precisar a posição em que o hispano-brasileiro joga, porque o Cholo faz que seus jogadores desempenhem uma função diferente a cada jogo, como fez ontem com Baptistão e outros. E ele consegue não só tirar o melhor rendimento, mas muita disciplina tática de todos eles, até do sempre rebelde Arda Turan, que está jogando muito.

Edu: É um time que está dando gosto de ver e vai dificultar as coisas para o Barça na Liga, seguramente. Agora, ficamos à espera de como vai reagir o Real Madrid depois dos abalos sísmicos na Liga. Melhor adversário não poderia ter, Copenhague é dose! Mas certamente estarão todos no Bernabéu lembrando do que fez Özil contra o Napoli no Emirates, uma exibição soberba do cara que saiu pela porta dos fundos do clube de Florentino.

Carles: Uma transação que nunca será totalmente explicada. A única esperança do Floren para a poeira baixar nessa história, seria que Bale arrebentasse e o futebol de Özil definhasse no Emirates. E, por enquanto, está acontecendo justo o contrário. Mesmo porque, o Arsenal pode até ter um montão de problemas, ser o típico exemplo de falta de competitividade, mas é o time ideal para que Mesut possa desfilar o seu futebol.

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Edu: Enquanto isso, o iluminado Bale não joga de novo, com 'moléstias'. Parece que o peso de 100 milhões nas costas é exagerado para o galês...

Carles: É o que eu chamaria de sobrecarga. Na acepção do termo.

 

 

 

 

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