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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

No Camp Nou, o outro Neymar

Carles: Neymar e Camp Nou, feitos um para o outro.

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Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Edu: Ainda não consegui ver dessa forma tão doce, melhor que você tenha percebido.

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Carles: Não vimos o mesmo jogo? Neymar esteve praticamente perfeito, e mais considerando que chegou o outro dia.

Edu: Vimos sim, mas do lado de cá estamos mal acostumados com Neymar. O perfeito de Neymar não é ficar restrito a uma faixa do campo e parece que ele estará condenado a isso no Barça.

Carles: Eu já vejo de outra forma, sigo achando ele um cara especialmente inteligente a ponto de, sem trocadilho, saber comer pelas beiradas. Está mostrando ter muita paciência, sabe que a hora dele vai chegar sem precisar forçar a barra e que, com muito mais cacife, vai poder arriscar, vai poder errar. Por enquanto, posicionamento e passes perfeitos, o mais aplaudido do time. Porque o Messi, mais do que aplaudido, é ovacionado.

Edu: Concordo que pode ser um jeito meio impaciente de vermos as coisas daqui, porque esperamos sempre mais do Neymar e ele costuma retribuir. Por enquanto, está sendo visivelmente subaproveitado. E o futebol dele cresce mais com a presença do Jordi Alba ou quando Iniesta está mais inspirado. Do contrário, o time joga todo voltado para Messi, enquanto Neymar vira um ponta tradicional, com jogadas ocasionais. A verdade é que ainda não me encantei com o Barça do Tata Martino, acho bastante chato. Continuo preferindo o tiqui-taca.

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Carles: Provavelmente o tiqui-taca não vai voltar, pelo menos neste mandato. Este é o novo modelo, mais terrenal, salvo evoluções que naturalmente virão. Tata não é Pep e este Barça não é, nem muito menos, produto daquela conjunção de fatores favoráveis que nos permitiu a todos desfrutar, durante cinco anos. A vantagem para Neymar, neste caso,é jogar num time que vai lhe permitir algum que outro solo, menos que no Santos, onde ele era solista o tempo todo. Aliás, não vejo o garoto no time do tique-taca, jogando com aquele estilo. Para ele, melhor este.

Edu: É claro que ele vai se achar, porque tem uma inteligência muito acima do normal e, por temperamento, daqui a algum tempo, mais dono da situação, também vai se aventurar por outros lados do campo por conta própria. Mesmo assim, neste Barça, o rendimento dos caras mais técnicos visivelmente cai. Há quanto tempo você não vê Iniesta fazer um bom jogo? Não está cômodo. O que pode ser enganoso é que o Barça continuará ganhando, porque, em certos momentos, Messi terá toda a liberdade do mundo. Você deve ter reparado: depois três primeiros lances de Neymar, o Ajax já deslocou mais dois caras para a cobertura dele. Aí Messi deitou e rolou.

Carles: Em mais de uma década no time de cima do Barça, Iniesta nunca fez um grande início de temporada e menos neste ano, com Confecup no meio. Ele demora sempre muito para entrar no ritmo. É obvio que os testes podem ser enganosos, dois jogos no Camp Nou, contra Sevilla e Ajax, times não especialmente fechados e num campo de dimensões espetaculares. Quero ver nos pequenos campos, contra times mais fechados. De todo jeito, se vocês acham que Messi é dono absoluto da situação, intocável, percebam que esta temporada ele voltou a aparecer de novo mais encostado na direita, como no início com Guardiola. Como diz o Marquês, o tempo põe todo mundo no lugar (ele próprio bem que podia começar colocando Valdés no lugar que merece) e o tempo vai dar a oportunidade de que Neymar seja mais protagonista, para a tranquilidade dos 200 milhões de paizões apreensivos que ele deixou aí no Brasil. Vai decidir muitos jogos, fazer muitos gols e certamente isso vai gerar crises de ciúme no elenco, também.

Edu: Se assim for, o Barça que se vire para controlar os egos. Porque, de todas as virtudes que tem, uma sobressai em Neymar: ele não se contenta com pouco. Já prevejo que comece a ficar incomodado com fazer meia dúzia de coisinhas num jogo. Bom, além do Camp Nou, tivemos bons gols brasileiros aí no Vicente Calderón, um complicadíssimo e tumultuado jogo em Nápoles, como prevíamos, e a zebra do dia. Casillas pode não estar numa boa fase profissional, mas deve ter se aperfeiçoado em rogar praga: o Chelsea do português não decola.

Carles: Tínhamos prometido não falar do luso até ele fazer algo de novo, mas como é pouco provável que isso aconteça, falamos assim mesmo: acho que vai ser um ano difícil para ele. Foi para Londres como quem escolhe um destino de férias e, na verdade, a sua missão não é tão simples assim. Enquanto isso, o seu antecessor vai fazendo das dele em Nápoles. Pode ser uma boa combinação, essa. No Calderón, Miranda, um zagueiro sóbrio, voltou a demonstrar que merece uma chance na seleção, pelo menos na reserva. Aliás, Felipão que não bobeie com alguns jogadores que ele anda esquecendo porque, um dia destes, Diego Costa, que hoje estava suspenso, aparece de "rojo" contra uma Geórgia da vida pelas Eliminatórias, com ou sem família Del Bosque.

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Edu: Ele não jogou, mas o Leo Baptistão teve um batismo de honra na Champions. Quanto a Mourinho, tem tanto jogador bom nas mãos que não sabe o que faz, essa é a verdade. O time é confuso, aquela leveza das triangulações Oscar-Mata-Hazard acabou. Só Oscar anda se virando bem no novo 'esquema' (fez um golaço na derrota para o Basel). Mata está sem confiança, irreconhecível. Hazard perdeu a pegada e a iniciativa. Até Lampard precisa de um GPS no meio de campo. Será uma temporada divertida em Stamford Bridge.

Carles: Estou prontinho para me divertir.

 

 

 

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