Almir Leite
01 de março de 2022 | 16h59
O esporte decidiu reagir de forma dura à invasão da Ucrânia pela Rússia. Entre outras decisões, no automobilismo a Fórmula 1 cancelou o GP da Rússia; o vôlei tirou do país o Mundial Masculino; a natação tirou de Kazan várias competições; e por aí vai.
No futebol, entidades e clubes de outros países romperam contratos com patrocinadores russos e empresas cancelaram acordos com entidades e clubes do país do Putin.
Equipes e seleções da Rússia foram eliminadas de competições. A Fifa, por exemplo, tirou a seleção da Rússia da Copa do Mundo do Catar (embora possa rever a decisão em caso de cessar-fogo).
Jogadores do Burnley protestam contra a invasão da Ucrânia; desta vez, Fifa e Uefa aceitam manifestações
Há quem discorde, sob o argumento de que os atletas russos não podem pagar por atitudes de quem governa seu país – e pelo que se pode observar até agora, a esmagadora maioria dos atletas de todos os esportes são contra o massacre a que os ucranianos estão sendo submetidos.
Mas como nenhuma guerra, em que por óbvio vidas são perdidas, é santa ou justa…
Não tenho nenhum problema é escrever com todas as letras que entendo ser correto o banimento dos esportistas russos. Ao contrário do que nos querem fazer engolir goela abaixo, o esporte é, sim, poderoso componente político. E esse poder pode ser benéfico a países, povos, seguimentos se bem utilizado.
Só se espera – ou pelo menos esse blogueiro espera – que o banimento da Rússia não seja exceção e sim um primeiro passo para uma mudança total de comportamento.
Explico melhor: no futebol, a Fifa e suas filiadas como a Uefa quase sempre proibiram manifestações políticas, religiosas e qualquer outra nos seus eventos. Na semana passada, a faixa levada por jogadores de Napoli e Barcelona ao campo antes do jogo entre eles pela Liga Europa, que pedia que se parasse a guerra, não foi exibida pela transmissão.
As entidades assim para não ficar mal com patrocinadores e governos, e com isso perder dinheiro. Mas usam o argumento de que não querem deixar o esporte se contaminar. Papo furado.
Agora, portanto, a Fifa abriu uma exceção. Mas punir a Rússia quando praticamente o mundo inteiro está contra ela é mole. Quero ver a mesma coragem e a mesma rapidez de decisão em outras situações.
Um exemplo: a Fifa até hoje não se manifestou contra a Arábia Saudita, país daquele príncipe amigo do Bolsonaro, o tal Bin Salman, que há anos ataca o Iemen e no último dia de Natal iniciou uma ofensiva militar de larga escala contra os vizinhos, ceifando dezenas de vidas.
No passado, a Fifa também não moveu uma palha contra os Estados Unidos – aliás, no futuro uma das sedes da Copa de 2026 – em reação às várias intervenções militares mundo afora.
A decisão da Fifa sobre a Rússia nada mais parece ser do que uma medida oportunista. Tomara que não seja. Que, a partir de agora, a entidade passe a banir todos os países que causarem danos a outras nações, povos, raças, seguimentos sociais, gente inocente…
Enfim, tomara que a partir de agora a Fifa tome “vergonha na cara”.