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Futebol dentro e fora do campo

Opinião|Flamengo ignora técnicos brasileiros; técnicos europeus ignoram o Flamengo

Clube acerta em não optar por neste momento por um "profissional da casa'', mas não desperta paixões nos europeus

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Foto do author Almir Leite
Atualização:

É significativo o fato de em nenhum  momento a diretoria do Flamengo ter considerado o nome de um treinador brasileiro para substituir Jorge Jesus. A mensagem foi curta e grossa: eles não servem para nós.  A partir daí, o clube mandou um dupla de cartolas à Europa com a missão de encontrar alguém para o lugar do português.

Não engulo a arrogância, a petulância e o autoritarismo dessa turma que está no poder do clube de maior torcida do Brasil -autoritarismo explícito, entre outras atitudes, na forçada de barra para a retomada do Carioca e pelo apreço às más companhias que demonstram. Mas, desta vez, concordo com os dirigentes do rubro-negro.

Torrent, discípulo de Guardiola, deve acertar com o Flamengo Foto: Estadão

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No momento, de fato não há treinador brasileiro apto a comandar o melhor e bastante vencedor elenco do País. Por vários motivos. Entre eles, porque nossos treineiros são divididos em dois grupos principais: o dos experientes (alguns deles vitoriosos e consagrados), cujas convicções estão bem arraigadas e além disso diferem do espírito de ousadia e intensidade a que o Flamengo se acostumlou; e aqueles ainda jovens promissores, com filosofias mais "modernas'', mais ainda sem o estofo necessário para domar o touro em que o campeão brasileiro e da Libertadores se transformou.

Dificilmente daria certo. O melhor mesmo é buscar fora.

Mas a procura está mostrando à empáfia da cartolagem flamenguista o outro lado da moeda: nas margens de lá do oceano, o Flamengo não é tudo isso. É o que mostra os vários "nãos'', alguns em forma de recado, levados até agora.

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O português Carlos Carvalhal preferiu trocar o pequeno Rio Ave pelo pouco menor Braga em vez de aceitar o convite do Flamengo.

O espanhol Unai Emery, que no Paris Saint-Germain sempre viveu na corda-bamba até cair e no Arsenal foi tão mal que caiu no meio da temporada, preferiu o pequeno Villarreal, da sua terra.

O espanhol Fernando Hierro também não quis papo.

Depois dos fracassos, finalmente o Flamengo encontrou um interessado -e parece que vai dar samba: o espanhol Domènec Torrent. Para quem não conhece, referências ele tem. Foi durante muitos anos auxiliar de Pep Guardiola e dois anos atrás, querendo dar um passo maior e designado pelo Manchester City, foi treinar o New York City nos Estados Unidos e fez bom trabalho (o grupo que comanda o City inglês também é dono desse City americano).

Torrent, porém, quer crescer na carreira e por isso deixou a Big Apple e voltou para casa, à espera de um chamado. E, para quem quer crescer e aparecer, o Flamengo cai como uma luva.

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Vale lembrar que Jorge Jesus aceitou vir ao Flamengo quando estava escondido no Catar depois de ser escorraçado por boa parte da torcida do Sporting. Um  ano depois, tendo aproveitado o trampolim, pulou de volta para casa.

Claro que o Flamengo não desperta paixões nos treinadores europeus porque faltam-lhe méritos.  O bagunçado e frágil futebol brasileiro e a maneira como o País está sendo atingido pela pandemia da covid-19 - quadro agravado pela postura do amigo maior do presidente rubro-negro - também não os fazem suspirar.

Porém a dura realidade, mesmo que injusta, é que, para os técnicos europeus, o Flamengo só serve de escada.

Opinião por Almir Leite

Editor assistente de Esportes, cobriu 4 Copas do Mundo e a seleção brasileira por 10 anos

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