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Futebol dentro e fora do campo

Opinião|Fred eterno, a despedida do maior ídolo da história do Fluminense

Atacante, que está encerrando a carreira, é idolatrado pela torcida não apenas pelos gols, mas pela afinidade com o clube

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Atualização:

O ano era 2009. O dia, 1º de novembro. O local, estádio Mineirão, em Belo Horizonte. Nascia ali o maior ídolo da história centenária do Fluminense. Frederico Chaves Guedes, ou simplesmente Fred.

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Na verdade, ele já tinha 26 anos. Vivera muita coisa no futebol desde que marcara um gol do meio de campo, na saída de bola, num jogo da Copa São Paulo de Juniores defendendo o América Mineiro. Gol que o apresentou ao futebol brasileiro, e de certa forma ao futebol mundial.

Mas a partir daquele início de noite de 1º de novembro, Frederico, o Fred, iria viver a maioria dos melhores momentos de sua vida. Com a camisa do Fluminense.

Fred se despediu neste sábado do futebol como maior ídolo do Fluminense Foto: Estadão

O jogo era com o Cruzeiro. O Fluminense era o último colocado do Campeonato Brasileiro. Corria a 33ª rodada, era o lanterna, estava bem atrás do primeiro fora da zona de degola. Estava rebaixado, diziam os matemáticos, aqueles seres que entendem tudo da razão, dos cálculos. Mas que talvez nada saibam da magia do futebol.

A matemática do jogo dava a eles os argumentos para suas certezas.  Intervalo e o Cruzeiro vencia por 2 a 0.  Era só fechar o caixão, como se diz por aí. Só que o Fluminense tinha Fred. Com dois dos três gols - é importante lembrar que o primeiro foi de outro guerreiro, o zagueiro Gum -, o Tricolor virou a partida, saiu da lanterna e arrancou para o título.

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Título???

Sim, título. Quem é apaixonado por futebol, e principalmente quem conhece futebol, sabe que sair do fundo do poço a cinco rodadas do fim de um campeonato - qualquer campeonato - e se livrar do rebaixamento é mais difícil do que estar na frente e conquistar a taça. E o Fluminense, que tinha bom time, conseguiu. Comandado em campo por Fred.

Naquele 1º de novembro de 2009, Fred pegou o coração de todos os torcedores do Tricolor. Os já nascidos, e também os que nasceriam depois.

Desde aquele dia até este 9 de julho de 2o22 foram 12 anos e oito meses. Não ininterruptos, posto que por quatro anos ele esteve fora do clube, enxotado que foi por alguns tricolores impacientes e incompreensivos e por um visitante sem importância na vida do Fluminense que achou que era o dono da casa.

Como diz o ditado, porém, o bom filho à casa torna. E Fred voltou para o lugar que lhe acolheu, como ele lembrou  neste dia de despedida dos campos, em momentos de medo, fraqueza, querendo desistir - momentos por que todo ser humano normal passa.

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Exemplo maior foi a acolhida depois da Copa de 2014, quando a ele foi dada a alcunha de poste por conta de um fracasso de uma seleção mal comandada, mal treinada, enfim, mal preparada - e eu posso atestar isso, porque acompanhei de perto. Claro que Fred teve sua parcela no fracasso, mas teve gente muito mais responsável,  que não entra em campo e não vale a pena citar agora.

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A torcida tricolor, porém, sabia da joia que tinha em mãos.  Sabia que jogadores como Fred representam a essência do futebol. E se esse tipo de jogador estiver a seu lado, melhor. Bem melhor! E ele esteve ao lado da torcida do Flu, com 199 gols, títulos, atuações memoráveis e muita dedicação na maior parte do tempo.

Fred talvez seja um raro espécime de centroavante no futebol brasileiro atual. Tem presença de área, sabe se colocar, chutar, cabecear, é forte, tem boa habilidade, é técnico. Enfim, conhece a posição.

Não foi só por isso, porém, que pegou os corações dos tricolores. A afinidade com o clube o torna o ídolo maior, faz com que os torcedores perdoem seus erros, e eles aconteceram, e só valorizem os acertos - e foram muitos.

Fred também conquistou os corações tricolores pela alegria. Sua expressão quando foi chamado por Fernando Diniz para entrar no jogo com o Corinthians em que faria seu 199º gol com a camisa tricolor - parecia uma criança que acabara de ganhar uma bala - traduz bem isso.

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Há raros casos no futebol brasileiro contemporâneo de grandes ídolos, infelizmente. Rogério Ceni no São Paulo, Marcos e Evair no Palmeiras; Zico no Flamengo e Roberto Dinamite no Vasco mais pra trás... E alguns outros. Fred entra para esse seleto time.

O Fluminense teve dezenas de ídolos ao longo desses 120 anos que serão completados no próximo 21 de julho. A começar pelo goleiro Marcos Carneiro de Mendonça, passando por  Hércules, Didi, Valdo, Rivellino, Assis, Washington e Romerito, entre muitos outros.

Para a torcida do Fluminense, porém, Fred é o maior.

Para os tricolores, Fred é eterno.

 

Opinião por Almir Leite

Editor assistente de Esportes, cobriu 4 Copas do Mundo e a seleção brasileira por 10 anos

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