Certa vez, conversando com o saudoso Roberto Avallone nas tribunas do também saudoso Parque Antártica, ele resumiu por que o time do Palmeiras à época tinha dificuldades até para vencer os adversários fracos. "Futebol não é um jogo de acertos, e sim um jogo de erros'', disse-me ele. Conhecedor profundo de futebol, ele passou a descrever erros simples que aquela equipe cometia. E depois, recordou os erros crassos, claros, escandalosos daquele time. "Esses são imperdoáveis, porque fatais''.
Apesar da péssima memória, lembro-me de alguns exemplos dados por Avallone. Mas não vou citá-los aqui. Porque lá se vão mais de três décadas e porque nesta terça-feira aconteceu um desses erros fatais. Erro que será lembrado por muito tempo. Em erro que mudou o destino de uma equipe, que tirou dela a possibilidade de continuar na luta pelo título que mas deseja.
A falha do ótimo goleiro Donnarumma liquidou o Paris Saint-Germain. Mudou o destino de um jogo, mais do que isso, de uma classificação que estava na mão. O PSG tinha o controle do jogo com o Real Madrid. Não só pelo 1 a 0 do jogo de ida. Não só pelo 1 a 0 que tinha a seu favor no jogo de volta. O PSG, em que pese alguns passes errados e algumas saídas equivocadas de bola, estava à vontade do Santiago Bernabéu. Suportava a pressão e a rigor estava perto de aumentar a vantagem a cada vez que o trio Mbappé, Neymar e Messi articulava uma jogada ofensiva.
Até Donnarumma se atrapalhar com a bola e, pressionado por Benzema - há quem defenda que o francês fez falta, mas creio ter sido lance normal -, jogá-la para Vinicius Junior servir para o artilheiro merengue empatar.
A partir daí, o jogo mudou completamente. O Real massacrou o PSG, em que pese os esforços do trio MNM. Parecia um time grande jogando contra um de gabarito bem menor. Virou na técnica, na garra, na força da torcida, mas também porque o moral do time francês foi ao chão com a falha de seu goleiro.
É um castigo para o futebol que um time que tem Messi, Mbappé e Neymar saia da principal competição de clubes do mundo nas oitavas de final. Mas futebol, como dizia Avallone, é feito de erros. E alguns, como o cometido ontem pelo goleiro italiano, não têm conserto. Tanto que poucos vão falar dos erros de Neymar e de Marquinhos nos outros gols do PSG.