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Futebol dentro e fora do campo

Opinião|Insistência em manter a bola rolando é mais uma derrota do nosso futebol

Por mais que os argumentos dos cartolas tenham fundamento, a proteção é parcial, pois o futebol não é uma bolha

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Foto do author Almir Leite
Atualização:

Que o futebol  brasileiro escolheu o lado errado já se sabe desde o início da pandemia. Não se pode esperar muito dos nossos dirigentes. Com raras exceções.

Que  vários políticos tomam medidas relacionadas à pandemia mais preocupados com seu futuro do que com o combate efetivo à praga também logo ficou claro. Não se pode esperar muito dos nossos políticos. Com raras exceções.

Com isso, é mais do que natural que, quando cartolas e políticos discutem um mesmo tema, com objetivos diferentes, não exista acordo.

Estádios de São Paulo vão reabrir após quase um mês, e o futebol voltará à vida na fase mais crítica da pandemia Foto: Estadão

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Isso explica em boa monta a discussão em torno da paralisação ou não do futebol no Estado de São Paulo, a reboque do agravamento da pandemia e do iminente estrangulamento do sistema de saúde.

Como política não é exatamente a área deste espaço, vamos nos ater ao futebol.

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Os defensores de sua continuidade dentro dos estádios como se nada de mais grave estivesse acontecendo do lado de fora - ou seja todos os que passam a maior parte do tempo sentados em confortáveis cadeiras estofadas -, argumentam que o futebol é seguro.

Seguro? Com quais provas?

Provas contundentes.  Definitivas

Elas não existem. Nem poderiam existir.

Pelo simples fato que o futebol não é uma bolha, embora os dirigentes  desconsiderem o fato de que uma bexiga perdida em uma caixa de alfinetes corre sério risco de ser furada.

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O comando do futebol argumenta com números. Verdadeiros. Honestos.  Mas que mostram apenas um lado da questão.

É uma visão parcial do problema. Não daria para ser diferente.

Se não, vejamos:

Vamos tomar por base o relatório apresentado pela CBF sobre os testes realizados nas competições que organiza. O estudo mostra que, dos mais de 89  mil exames e o monitoramento de 13.237 atletas, a taxa de testes positivos de 2,2%.

Bons números. Ah, se fosse possível que todos os cidadãos brasileiros recebessem os mesmos cuidados!

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Esse é o problema.  Não é possível.

E, como se sabe, jogador de futebol e funcionários dos clubes não vivem confinados.  Fora do horário de trabalho, eles convivem com parentes, amigos, crianças, adultos, idosos...

Que convivem com parentes, amigos, crianças, adultos, idosos...

Os funcionários com cargos mais humildes - clubes têm em seus CTs e outras dependências seguranças, cozinheiros, copeiros, faxineiros... - usam transporte público, muitas vezes ensardinhados na ida e na volta ao trabalho.

E aí? São feitos testes nos parentes dos jogadores, nos parentes funcionários, para que se possa aferir, com a mesma precisão da alcançada em relação aos atletas, o índice de contaminação?

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É possível descobrir em todos os casos de surtos em clubes, e já tivemos vários, a origem da contaminação daquele grupo?

E quando ocorreu o contrário, de o jogador transmitir para parentes e amigos? Dá para saber?

Claro que são válidos os cuidados tomados, os testes frequentes nos clubes e campeonatos mais ricos, o afastamento e confinamento imediato do jogador a partir da constatação da contaminação, enfim, dos cuidados tomados para que o covid não entre nos campos.

Mas o bom senso indica que não há infalibilidade nesse processo. Mais do que isso, indica que não dá para controlar o entorno dos atletas.

Nem o comportamento que quem  vai ao cassino matar a fome ou à praia em busca de vitamina D.

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Infelizmente, e como aqueles que defendem que todos tenham um naco  de terra, ainda que seja no cemitério, não fizeram a sua parte, que é comprar vacinas em quantidade necessária para imunizar o mais rapidamente possível a população, o bom senso e os verdadeiros especialistas no tema recomendam que o isolamento social e a paralisação de atividades temporariamente  ainda é o melhor remédio.

E, como o futebol, por mais pretensioso que seja, não é uma bolha, deveria adotar o bom senso e pensar em medidas que possam compensar os prejuízos posteriormente.

E não ficar perdendo tempo pensando em medidas para driblar (na realidade, burlar) os impedimentos.

 

Opinião por Almir Leite

Editor assistente de Esportes, cobriu 4 Copas do Mundo e a seleção brasileira por 10 anos

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