Faltou bom senso a Jô. De novo. Mais uma vez. Não surpreende. Quem acompanha a carreira do atacante desde que ele foi precocemente lançado no time de cima do Corinthians aos 16 anos sabe que, vira e mexe, ele se mete em alguma polêmica. Assim, o episódio do pagode no bar enquanto o time penava (ops, jogava) é mais um proporcionado por um jogador sem noção. Ou que talvez entenda que pode fazer o que quiser nas horas livres e não se preocupa com a repercussão de seus atos.
Nesses tempos em que se tornaram comuns as ameaças aos jogadores, e que quando o valentão é pego chora, mostra arrependimento, pede desculpas e fica por isso mesmo, é preciso ressaltar que Jô não fez nada ilegal. Nem imoral. Não estava a serviço do clube, impossibilitado por uma contusão, e resolveu fazer o que gosta em vez de ficar quietinho, comportadinho, em casa.
Na minha modesta opinião, Jô deu bola fora não pelo pagode em si. O ruim é que ao não acompanhar a partida com atenção Jô se mostra indiferente não ao Corinthians, mas a seus companheiros. Dá a entender não se importar muito com eles, ainda que não seja isso - mas é o que a imagem passa. E futebol é jogo coletivo, de equipe. Importar-se e empenhar-se em prol dos colegas faz parte do "metier''.
Mas Jô preferiu tocar tan tan. E alguém filmou, colocou nas redes e a repercussão negativa foi imediata, até porque o time jogou mal e perdeu. O vídeo, presume-se, foi feito por um amador. Bastou para os profissionais da imprensa, formado, diplomados, juramentados, entrassem na onda e se juntassem ao carnaval das redes sociais. Sem checar, sem questionar, sem apurar.
Jô poderia estar ali, uma vez que não estava com a delegação em Cuiabá? Fez tratamento durante o dia? Por que foi para o pagode justamente na hora do jogo? Era aniversário da mulher? da mãe? de um amigo? do barman? Fez isso para evitar o risco de um ataque cardíaco caso visse o time jogando mal?
Ninguém se preocupou em perguntar nada a ele antes de colocar as imagens no ar. Dirigente e técnico só foram questionados bem depois de o vídeo ter "viralizado''.
Repito, faltou bom senso a Jô. Mas tudo indica que ele tinha o direito de estar lá, apesar de o gerente de futebol do Corinthians, o ex-jogador Alessandro, ter classificado o comportamento como "inaceitável'', mesmo admitindo que ainda precisava se inteirar do assunto.
Mas e o indivíduo que filmou, tinha direito (prático) de estar ali? Será, por exemplo, que ele não é casado, disse para a mulher que iria socorrer um amigo acidentado e foi para a esbórnia?
Ninguém procurou saber. Até porque, como é um ilustre desconhecido que é, nessa hipótese ilustrativa do parágrafo anterior, se isso aconteceu, é problema dele, da mulher e do amigo, este se cúmplice foi.
Mas Jô é problema de todos. Dos dirigentes, companheiros e membros da comissão técnica do Corinthians (os que de fato têm direito de cobrá-lo, e eventualmente puni-lo), dos torcedores do time e dos adversários, que aproveitam para tripudiar ou mandar recados do tipo "aqui não" para "seus" jogadores, da imprensa...
Aí é que a roda emperra. Vivemos uma fase de fake news, criadas por amadores, influenciadores, especialistas e outros fajutos que têm acesso à rede, que além de desinformar podem provocar reações violentas e até fatais. E normalmente não estão nem aí para as consequências de suas irresponsabilidades.
Jornalistas profissionais sentem, reclamam e lutam contra isso. Mas perdem força quando, por causa de cliques e para dar a "notícia'' antes da concorrência, se aproveitam de "informações'' passadas por qualquer desconhecido sem pensar, analisar, checar, descobrir o contexto e colocam no ar sem dar ao fato o peso que ele de fato merece.
Acho que não é somente Jô que anda carecendo de bom senso...