"Obrigado a vocês da Conmebol por isso. A culpa é totalmente de vocês. Se morre uma pessoa, o que vocês vão fazer? O que importa é somente o dinheiro, a vida do jogador não vale nada?"
A declaração é de Marcelo Moreno, jogador bem conhecido dos brasileiros - atualmente está de volta ao Cruzeiro - e figura constante na seleção da Bolívia.
O motivo, claro, é a insanidade de se fazer a Copa América num momento em que o Brasil, e de resto todo o continente, observa novo agravamento dos casos de coronavírus. Ao comentar o alto número de infectados envolvidos de alguma forma com o torneio, ele teve coragem de dizer o que muitos pensam, mas preferem se calar.
E o que fez a Conmebol? Abriu um tal de "expediente disciplinar'' contra o jogador, o que tanto em bom português como em bom espanhol, ou ainda qualquer outro idioma do planeta, significa INTIMIDAÇÃO.
A cartolagem da Conmebol tradicionalmente não admite que seus subalternos, os jogadores, tenham opinião. Ou quando têm, que calem a boca. E quando essa opinião ataca a "instituição'' então, aí é como se fosse um crime inafiançável.
Onde já se viu um simples jogador criticar a "entidade"? Pela ousadia, invoca-se o artigo 62 do Código Disciplinar, que em seus artigos b e d prevê punição a quem ofender, insultar ou difamar a soberana Conmebol.
Por ter falado o que falou, Marcelo Moreno pode ser advertido, multado e/ou até perder prêmios que eventualmente fizesse jus por conta do torneio.
Claro, democraticamente, a Conmebol dará a ele o direito de defesa. E a chance de se desculpar.
Faz parte do circo.
Ao criticar a Conmebol, Marcelo Moreno deu a todos os jogadores que estão na competição, uma chance de ouro: a de se posicionar de forma incisiva sobre o descalabro que é essa Copa América.
Caso ele seja punido, ainda que com uma "simples'' advertência, caberá a eles, se tiverem coragem e personalidade, ficar do lado do colega de profissão.
E, se for o caso, até boicotar o torneio, dando uma banana para os interesses financeiros e políticos dos que os obrigaram a jogar.
Caso venham a se omitir, vão continuar ricos, famosos, badalados. Mas perderão algo fundamental a todo ser humano: o respeito.