Rogério Ceni nem bem chegou ao Cruzeiro e já falou em sair. Não que pense seriamente nisso. Passará a pensar se não puder dar ao barco o rumo que entende ser coreto e necessário. E isso passa por mudanças profundas no elenco, na mentalidade, na filosofia -e também na forma de atuar de um time que passou os últimos três anos com um outro treinador.
A declaração que Ceni deu após a humilhante derrota para o Grêmio teve jeitão de blefe. Mas serviu como um recado claro para jogadores e dirigentes. Ele enxerga necessidade de mudar, está lá para mudar e quer mudar. Do contrário, bye, bye.
Rogério quer renovar a equipe, não só em idade, mas também (e talvez principalmente neste momento) em espírito. Percebeu de cara que jogadores como Fred, Thiago Neves e Robinho estão acomodados. Pior, sentem-se donos do time. É como se achassem de todos no Cruzeiro, acima e abaixo deles, devessem rezar por sua cartilha.
Com Ceni, esse papo não cola. Ele sabe que o Cruzeiro não é o Fortaleza, onde fazia o que bem entendia. Mas quando foi contratado, os dirigentes do Cruzeiro lhe prometeram autonomia. Aliás, deram a ele a missão de renovar o grupo para o ano que vem. Mas a mudança tem de começar agora, para que o time se salve do rebaixamento.
Ceni, porém, não teve ainda o respaldo do grupo. O time levou uma lavada do Internacional, e suas opções de escalação e maneira de jogar a partida que resultou na eliminação da Copa do Brasil foram abertamente criticadas - inclusive por um jogador, Thiago Neves.
Evidentemente que, nos dias que se seguiram e que foram prévios ao jogo com o Grêmio, Ceni quis fazer o grupo reagir. Não conseguiu. Domingo, o que se viu foi um time apático, de má vontade, descomprometido.
Aí, Ceni deixou claro que ou muda - jogadores e comportamento do grupo - ou acabará saindo. É o que precisa ser feito, até porque chega um momento em que a renovação é melhor para todo mundo: clube, jogadores que saem e seguem a vida em outro lugar, jogadores que ficam e ganham oportunidade ou renovam a motivação, treinador, comissão técnica, dirigentes...
É aí que talvez esteja o maior risco para Rogério Ceni. Com a cartolagem que comanda o Cruzeiro envolvida em questões policiais, questões "cabeludas'' diga-se, terá ele o respaldo para fazer mudanças?
Da torcida, parece que Rogério tem o apoio - na verdade, os torcedores estão menos com ele e mais contra os medalhões. Resta saber se seus planos serão bancados pela diretoria. Senão, ele voltará logo, logo para Fortaleza. Mas, desta vez, em férias antecipadas.